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Ex-VP’s do Vasco cobram presidente; venda de Paulinho foi a gota d’água

Após anunciar saída do comando, grupo Identidade Vasco ataca discurso de Alexandre Campello, e pede transparência na gestão: 'O discurso à mídia tem que entrar na prática'

Grupo Identidade Vasco
imagem cameraEx-dirigentes do Vasco explicaram saída dos cargos e cobraram Alexandre Campello (Foto: João Mércio Gomes)
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Lance!
Rio de Janeiro (RJ)
Dia 07/05/2018
14:46
Atualizado em 07/05/2018
16:26

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Se o Vasco inicia uma recuperação em campo, fora dele, é o contrário. Após rachar com o presidente Alexandre Campello, os treze vice-presidentes do grupo Identidade Vasco entregaram os cargos e se pronunciaram oficialmente. Liderados pelo ex-VP de Futebol, Fred Lopes, os ex-dirigentes explicaram os motivos pela crise, que consistem, principalmente, na falta de transparência do presidente na gestão. A insatisfação que crescia por conta dos poucos diálogos aumentou quando o nome de Rodrigo Caetano (demitido recentemente do Flamengo) ganhou forças na Colina, e a gota d'água veio com a venda 'caixa-preta' de Paulinho. O LANCE! pontua os momentos da coletiva desta segunda.

É uma decepção muito grande, fui um dos que trabalhei para trazer o Campello ao grupo. Não esperava essa mudança de conduta. Que motivos são esses? A ingerência no departamento de futebol. Só contratei o Carlos Brazil (diretor da base) e o resto não foram indicações minhas. Nem os supervisores, todos foram pelos presidentes. Nada contra aos profissionais, muito pelo contrário, convivi harmoniosamente. Mas, foi o primeiro momento onde vi que o discurso era um, a prática, outra. Avançamos, superamos a dificuldade. Em um determinado momento, com a saída de Rodrigo Caetano do Flamengo, começou uma pressão para que mudasse o comando na parada da Copa do Mundo - abre o discurso, Fred Lopes.

- Todas as negociações foram feitas com o presidente. Mas, diretamente, não aceito que decidam os executivos que trabalham na minha pasta. Foi o primeiro ponto. O segundo, foi a venda do atleta Paulinho. Ele é a maior joia depois do Philippe Coutinho. Sabem quantas vezes tratamos desse assunto? Zero. Campello me ligou uma noite dizendo que tinha proposta de um clube, do qual não quis falar o nome, sequer o país. Pensava em vender por 20 milhões de euros. Concordei. Passou, o assunto não foi mais abordado, nada foi feito com ele ou empresário. Depois do jogo que empatamos com Racing, tomamos conhecimento que teria uma coletiva e só fiquei sabendo pela imprensa. Lá, descobri que a venda tinha sido feita por 18,5 milhões e o Vasco não tinha 70%, mas 90%. Para minha estranheza, a pasta do Paulinho sumiu do futebol. Nesse momento, vi que isso não daria certo. Apenas 100 dias e já estava assim - explica Fred Lopes.

Os motivos, segundo o grupo, não param por aí. Ao lado de Fred estava o vice-presidente de finanças, Orlando Marques, que garante não ter participação alguma na negociação do atacante Paulinho. Outro ponto é que, misteriosamente, entraram seis milhões de reais nos cofres do clube - e Campello não explicou nada aos devidos departamentos.

- Na última reunião na Lagoa, entraram cerca de seis milhões no caixa que nós não sabíamos da onde vinha. Não é transparente que um dinheiro dessa magnitude entre no caixa e o vice de finanças não saiba de nada. Atendemos empresários, atletas, pedindo paciência, sendo cobrado com razão. Ninguém sabe a forma de pagamento e como será usado. Quero saber por que que não foi pago dezembro, 13º, férias, auxílio moradia. Essa falta de informação não existe, não entrei para isso - mais uma vez, Fred.

'Fizemos quatro reuniões em 100 dias. Fui particularmente falar diversas vezes com Campello, pedindo reuniões, para aparar as arestas. E ele sob alegação de balanço, de outras coisas, não atendia. Nós tivemos reunião há 45 dias atrás, onde todos os VPs estavam presentes, pedindo esse tipo de postura. Isso para mim não é transparência. Foi um movimento coletivo, nós entendemos que dessa forma ninguém quer continuar. Não confio mais nas informações' - Fred Lopes

O vice-presidente Orlando Marques revelou pontos específicos de como seu trabalho era 'ignorado' pelo presidente Alexandre Campello. Eram duas funções específicas para início de trabalho: uma delas era resolver documentações, como dívidas trabalhistas e fiscais. A outra, as 'contas não pagas', ou seja, serviços prestados ao Vasco que não foram quitados. Para a primeira, foram contratadas grandes consultorias. Assim, Orlando teve a tarefa de ficar com a segunda função. No entanto, a falta de diálogo com o presidente prejudicou o trabalho e a paciência chegou ao fim quando Campello disse para o dirigente 'procurar na internet' os valores divulgados pelo balanço.

De quatro horas no clube, negociava por 3 horas e 59 minutos. Quando a situação entrou em rotina, mais fácil de administrar, nós começamos a cobrar: cadê a auditoria? Pedia reunião e o Campello prontamente concordava. Mas nunca aconteceu. Coisas dentro da nossa área que foram chatas aconteceram. O mar de água que entornou o copo, foi quando me chamou quinta-feira para se explicar que estava sendo perseguido por uma questão política. Disse ao presidente que não recebi balanço nenhum, e foi apresentado na internet. Não tive nada oficial do clube. Quando comentei para ele, me disse: 'Procura na internet'.

Orlando explicou detalhes do processo da venda de Paulinho. Na verdade, ele pouco sabia do que realmente tinha acontecido na negociação. Ele revela que 'engoliu sapos' para não prejudicar o andamento, mas passou dos limites.

Não recebi o contrato do Paulinho, não sei por quanto foi vendido nem a forma de transação. Não sei se entrou dinheiro ou não. Não sei nada. Também tem a questão do Douglas, que não sei nada. Parece estranho, ele dizia que entraria um dinheiro bom. Quando perguntava de onde, ele dizia: 'Não se preocupa'. Como não acredito em milagre da multiplicação, fiquei cobrando, mas não ouvi respostas. Tinha que engolir tudo que fazia. o processo não era dos melhores. A forma de nos tratar era da pior maneira possível. Eu engolia sapo por que era bom para o Vasco. Capengava, mas andava. Mas não tinha informação de nada - conclui Orlando. 

Perguntas e respostas - Fred Lopes

Há alguma chance do grupo Identidade Vasco retornar aos cargos?
​Há mais de 30 dias não fazemos reuniões. Não tem hipótese de voltar, não compactuamos e pensamos em continuar no conselho deliberativo. Queremos que a gestão seja transparente e profissional, isso que vamos exigir.

Vocês sabiam da venda do Paulinho, de alguma forma, certo?
Em uma situação como essa, não dá para ser resolvida em dois telefonemas. Na primeira ligação, disse que seria 20 milhões de euros. No fim, fomos surpreendidos pela imprensa e lá foi exposto um número diferente daquele tratado. De repente o Vasco apareceu com uma proposta menor. A pasta sumiu, sem minha autorização e conhecimento. Se eu fosse presidente, jamais faria essa negociação sozinho. É uma coisa importante, ele é uma joia. Isso nos leva ao descontentamento, a chateação. Quando acaba o diálogo, acaba a esperança

Há alguma tentativa de impeachment do presidente Campello?
Ninguém está falando em impeachment. Se estão falando, não vem de nós. Não li nada de alguém do grupo. Isso não foi discutido entre a gente.

Os resultados em campo influenciaram de alguma forma?
A insatisfação começou desde o momento em que foram feitas as composições de pasta. Depois, voltou a aquecer a minha relação quando voltou à tona a pressão de trazer o Rodrigo Caetano para o Vasco. Depois, a venda do Paulinho. Ali, o clima já era ruim. O que sustentava era a tentativa do diálogo. Várias vezes procurei o presidente Campello para que fizéssemos uma correção de rumo. Só através do diálogo você muda uma situação como essa. Ele deixou claro que não haveria possibilidade de diálogo. Então culminou com outras coisas. Não foram as invasões e derrotas em campo que motivaram nossa saída. O que tem a ver é um acúmulo de problemas e tentativas frustradas de conversa com o presidente. Ele tem a caneta na mão, mas não pode tomar decisões sozinho. Evidentemente não pode fazer isso. Tomar uma posição no financeiro do qual o VP de Finanças não sabe. Nada tem a ver com os resultados em campo.

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