Vila Belmiro materializa sonho de amantes do Santos

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Quem hoje vê a charmosa e imponente Vila Belmiro talvez nem imagine a saga enfrentada por alguns apaixonados santistas para erguer o estádio há quase cem anos. O palco, que viu nascer Pelé, Robinho, Neymar e uma legião de craques, demorou a sair do papel, passou por inúmeras reformas e contou com verbas de rifas e até de um circo arrendado pelo Santos.
O sonho de ter uma casa começou logo cedo, três anos após a fundação do clube. O time jogava em campo no bairro do Macuco, que não tinha as dimensões e acomodações necessárias para uma equipe em ascensão. Visionários, os diretores do Peixe sabiam que, com um estádio, aumentariam as receitas e o número de sócios e teriam um fator extra para intimidar os adversários.
Contudo, o plano demorou a ser concretizado. Após muitos estudos, discussões, orçamentos e “pechinchas”, o presidente Álvaro de Oliveira Ribeiro comprou terreno de 16,5 mil metros quadrados, no bairro da Vila Belmiro, que pertencia a Companhia Santista de Habitações Enonômicas. Foi, então, que surgiu um novo problema: como pagar a obra?
Veja linha do tempo dos primeiros anos da Vila
Sem isenção de impostos ou ajudas do governo, o clube fez um empréstimo de cerca de 108 mil contos de réis, a ser pago em dez anos. Porém, como o crédito ainda “engatinhava” no Brasil na época, o Santos teve de pagar juros de 8% ao ano.
Mesmo com dificuldades, em 12 de outubro de 1916, a “praça de esportes” foi inaugurada, tendo seu primeiro jogo dez dias depois, quando o Peixe venceu o Ypiranga por 2 a 1, em jogo do Campeonato Paulista.
A partir daí a Vila passou a ser um verdadeiro canteiro de obras. Foram inúmeras as reformas e “mutações” pelas quais o estádio passou. Uma das mais significativas aconteceu em 1931, quando o clube o estádio passou a ter refletores e, desta forma, pôde receber partidas à noite.
Entretanto, foi em 1948 que o “alçapão” passou a ter novo desenho.
– Antes, o estádio só tinha arquibancadas de madeira. Naquele ano construíram as parte de alvenaria, o que gerou muitos gastos – relembra o historiador Guilherme Guarche.
Sem dinheiro em caixa, o Santos, então, adotou uma estratégia inovadora para angariar receitas: além de vender rifas, o clube arrendou um circo de Santos e com os lucros dos shows investiu na reforma da Vila.
– Era uma espécie de parque de diversões. Chamavam de boate, mas tinha espetáculos circenses, roda gigante... – afirma Guarche.
As décadas foram passando, e as mutações da “Vila mais famosa do mundo”, apelido dado ao estádio na era Pelé, seguiram. O anel superior das arquibancadas foi completo, o gramado – antes horrível – virou um tapete, camarotes foram aparecendo e o estádio também “encolheu”...
Casa dos alvinegros, palácio de diferentes gerações de príncipes da bola, berço do futebol-arte...mais do que tudo isso, a Vila é a materialização dos sonhos de inúmeros amantes do Santos nestes 100 anos.
Vila já comportou 32 mil pessoas
A Vila Belmiro nunca deixou de ser um “alçapão”, mas, o “caldeirão” alvinegro nunca ferveu tanto como em 20 de setembro de 1964.
No auge da era Pelé, quando já havia conquistado duas vezes a Copa Libertadores e o Mundial Interclubes, o Santos colocou nada menos do que 32.986 pessoas (pagantes) em seu estádio para jogo contra o Corinthians, pelo Paulistão.
A data, porém, não é recordada com alegria. Devido à superlotação, aos sete minutos do primeiro tempo, parte da arquibancada de trás do gol desabou e deixou 181 feridos. Felizmente, não foram contabilizados óbitos, mas a partida foi suspensa.
Quase 33 mil pessoas estiveram na Vila em 1964 (Foto: Arquivo do Santos)
Além desse jogo, o Peixe tem registro de outros grandes públicos em seu estádio, como em 1976, quando 31.662 pessoas assistiram clássico contra o Palmeiras, ou em 1978, no duelo contra o Guarani, com 31.172 torcedores alvinegros presentes.
Depois da década de 70, porém, por segurança, a Vila passou a ter a capacidade reduzida. Mesmo com a ampliação das arquibancadas em 97, o estádio continuou a encolher devido aos camarotes e setores VIPs.
Hoje, a capacidade do Urbano Caldeira é de cerca de 15 mil pessoas, porém, como há cadeiras cativas, aproximadamente 12 mil bilhetes costumam ser colocados à venda.
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