Sergio ‘Maravilha’ Martínez: conheça o homem que superou Messi na Argentina

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Pergunte a dez pessoas mundo afora: quem é o melhor atleta argentino da atualidade? O mais provável é que os dez respondam, sem titubear, o nome de Lionel Messi. No entanto, se o craque do Barcelona acumulou recordes e idolatria na Europa, não fez o suficiente para ser eleito pelos próprios compatriotas o melhor esportista do país sul-americano em 2012.
A honraria coube a Sergio Martínez, boxeador campeão mundial do peso-médio pelo Conselho Mundial e vencedor do Olímpia de Ouro-2012 – dado ao melhor esportista argentino da temporada. Curiosamente, a história do pugilista apelidado de Maravilha em muito se assemelha à de Messi, ainda que em versão bem menos glamourosa.
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Ambas as trajetórias tiveram a Espanha como país-chave. Mas se ao futebolista foi oferecida a estrutura de um dos maiores clubes do planeta, onde pôde pensar apenas no esporte, a Martínez restou lavar pratos e garantir a segurança em casas noturnas, a fim de manter-se no país escolhido em 2002 para desenvolver-se como pugilista.
– Este período na Europa foi complicado, porque eu definitivamente não tinha dinheiro. Eu sabia que precisava treinar para poder vencer as minhas lutas. Desta forma, eu conseguiria comer e me manter debaixo de um teto. Esta dificuldade sempre me manteve sedento por ser o melhor – contou Martínez, ao LANCE!NET.
A busca por ser “o melhor” foi muito mais extensa do que a de Messi. Se aos 25 anos o jogador já foi escolhido o melhor da modalidade em quatro ocasiões, Martínez teve de esperar até os 30 anos para conquistar o seu primeiro título mundial por uma grande entidade de boxe.
Maravilha, fruto de família pobre de Avellaneda, na região metropolitana de Buenos Aires, se acostumaria a obter feitos de forma tardia.
Tornou-se pugilista profissional aos 22 anos. Campeão, somente oito anos depois. Em 2012, quando completou 37 anos, foi eleito pelo Conselho Mundial o boxeador da temporada, honraria decorrida da vitória sobre Julio César Chávez Jr. – filho da lenda mexicana de mesmo nome.
A busca por evolução longe de casa é tida por Martínez como essencial para seu sucesso. Mas a falta de estrutura e a distância não fizeram, de forma alguma, que ele perdesse o orgulho típico do povo argentino.
Após atingir o auge da carreira com vitórias em ringues europeus e, mais recentemente, americanos, Maravilha optou por defender seu cinturão em sua terra natal. No dia 27 de abril, o Estádio José Amalfitani, do Vélez Sarsfield, será palco do combate diante de Martin Murray. Um “presente” escolhido a dedo.
– Hoje vejo que minha carreira é um ciclo quase completo. Deixei a Argentina para ampliar o meu reconhecimento internacional e aproveitar as oportunidades que lutar na Europa e nos Estados Unidos me ofereceriam. E, hoje, que sou o campeão dos pesos-médios, posso voltar para cá e celebrar meu título com o meu povo – declarou o boxeador, que fez seu último combate na Argentina há mais de 11 anos.
O patriotismo surge até quando fala da infância árdua. Nada de reclamações sobre autoridades. Ele prefere celebrar a dificuldade e ver nela um dos fatores que fazem dele hoje um dos melhores do mundo.
Sorte da Argentina, que pode vibrar com cada vez mais gols, recordes e títulos de Messi, e que também pode gabar-se de ter criado, de fato, uma Maravilha dos ringues.
Bate-Bola com Sergio Martínez, boxeador argentino, em entrevista exclusiva ao LANCE!Net
‘É uma honra ser colocado no patamar de Messi’
Como foi ter de conciliar o boxe com o trabalho ‘normal’ enquanto você treinava na Espanha?
Foi um período complicado, mas com dedicação e disciplina foi algo que consegui superar. A maioria dos lutadores não-conhecidos são obrigados a lutar e trabalhar ao mesmo tempo para sobreviver. Esta é a razão pela qual lutamos: por uma situação melhor.
No Brasil, muitos atletas reclamam da pouca atenção que se dá a esportes que não o futebol. Como é essa questão na Argentina?
Não vejo isso como um problema na Argentina. Se você se sai bem, as pessoas lhe admiram. As pessoas estão passando a acompanhar outros esportes com a mesma paixão com que veem o futebol aqui.
Como é, então, bater Lionel Messi em uma eleição para melhor esportista argentino de 2012?
Eu tenho o máximo respeito possível por Lionel Messi. O que ele tem feito nos campos de futebol da Europa é inacreditável e sei que não será repetido tão cedo. Em termos de premiação, não vejo como uma competição contra ele, mas sim como uma honra imensa ser colocado no mesmo patamar de atletas como Lionel Messi.
Quem é
Nome: Sergio Gabriel Martínez
Nascimento: 21/2/1975 (37 anos) em Quilmes (ARG)
Altura e peso: 1,78m e 72kg
Cartel: 54 lutas, 50 vitórias, dois empates e duas derrotas.
Títulos: Martínez já foi campeão mundial em duas divisões distintas: médios-ligeiros e médios. A primeira conquista foi em 2008. Nos médios, reina desde 2010.
Com a palavra, Sebastián Torok - repórter do jornal argentino “La Nación”
Martínez reúne todas qualidades de um símbolo popular
Sergio Maravilla Martínez apaixonou, literalmente, a um país de mais de 40 milhões de habitantes.
Ele reúne todas os condimentos que um símbolo popular deve ter. Talento. Carisma. Beleza. Sua história é a de um lutador que sonhou com grandes conquistas e tocou o céu com as mãos.
Nasceu em um bairro humilde, viajou à Europa em busca de um futuro e conseguiu muito mais do que isso. Na Argentina, a fama chegou relativamente tarde, mas isso não o impediu de cativar e encantar a todos. Em um país apaixonado pelo esporte dos punhos, talvez desde a época de Carlos Monzón (campeão mundial do peso-médio na década de 1970) não se via tanto furor por um boxeador.
Sua elegância e potência em cima do ringue, mais a sua habilidade para falar – é muito culto, saindo da média dos boxeadores – o levaram a transcender fronteiras sociais. Dançou no programa de TV mais importante da Argentina (Showmatch) e milhares de pessoas viajaram a Las Vegas para ver sua vitória sobre Chávez Jr.
No fim de 2012, recebeu todos os prêmios em Buenos Aires. Hoje é, depois de Messi, Ginóbili e Del Potro, o esportista alviceleste mais valorizado no mundo. Ele merece.
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