Paulão: ‘Não dava tanta importância ao racismo. Agora, senti na pele’

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Quando deixou o campo, ao receber o segundo cartão amarelo, durante o clássico contra o Sevilla, logo aos 41 minutos do primeiro tempo, no último domingo, o zagueiro Paulão não teve noção de que foi alvo da discriminação racial da torcida do Betis, sétimo clube na carreira do jogador brasileiro de 31 anos.
Enquanto chorava copiosamente pela expulsão, torcedores do próprio time faziam gestos obscenos e imitavam o som de macaco. Em entrevista exclusiva ao LANCE!Net, surpreso, o defensor conta detalhes daquele fatídico momento.
- Foi muito rápido. Não posso mentir. Não sei de onde partiram aquelas manifestações. Não sabia se eram contra mim. Cheguei a pensar que seriam destinadas à torcida do Sevilla. Depois, percebi a repercussão que tinha tomado no Brasil e nas redes sociais. Alguns familiares me ligaram e tomei conhecimento de tudo. Estava triste pela expulsão, mas nada justifica esse comportamento.
Ainda chocado e emocionado ao lembrar da cena, Paulão faz um desabafo:
- Gostaria de saber o que passa na cabeça de quem me ofendeu por conta da minha cor. O que me dói mais é que atingiram muito mais minha família que a mim. É lamentável. Não tem o que falar.
A intolerância da torcida do Betis fez com que Paulão mudasse também o tom acerca de um dos temas que mais preocupam a Uefa e a Fifa. As duas entidades já prometeram fechar o cerco contra o racismo, mas até o momento, poucas medidas drásticas foram tomadas.
- Nunca havia acontecido algo assim tão grave comigo, tampouco com pessoas próximas. A Europa sabe quem é o Paulão. Tive conquistas e trabalhos importantes. Acompanhava outros casos e não dava tanta importância. Agora, senti na pele.
O episódio envolvendo o brasileiro não é um caso isolado de preconceito racial no futebol. No mês passado, o volante Yayá Toure, do Manchester City, escutou cânticos e xingamentos contra sua cor de pele, no duelo contra o CSKA, pela Liga dos Campeões. A Uefa agiu, fechando parcialmente o estádio do clube russo na competição, enquanto o marfinense ameaçou boicotar o Mundial de 2018, justamente na Rússia.
Balotelli, Kevin-Prince Boateng, Daniel Alves, Marcelo e Betão são outros exemplos de jogadores já sofreram racismo no futebol europeu.
- Sem dúvida, aceitaria fazer parte de um movimento de jogadores negros. É muito triste o que estamos passando. Mas não acredito em atitudes radicais. Não mudarão nada - afirmou o zagueiro, que preferiu não falar sobre o futuro no futebol espanhol, segundo ele, "para não se comprometer".
Paulão está no Betis desde 2012. Antes, atuou pelo Atlético-MG, América-MG, Gama, Naval (POR), Braga (POR) e Saint-Étienne (FRA).
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