Muricy diz que é ‘Top 3’ do Brasil, mas está longe de Mourinho e Guardiola
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Com 11 títulos em 10 anos, Muricy Ramalho sabe que seu currículo o qualifica como um dos melhores técnicos do Brasil, senão o melhor. Contudo, para o treinador, que diz que a melhor qualidade que tem é a regularidade, ele ainda está muito abaixo de grandes estrelas internacionais, como o português José Mourinho, técnico do Real Madri (ESP) e Pep Guardiola, que dirige o Barcelona (ESP).
- No meu país estou entre os três, mas Guardiola e Mourinho estão disparados - comenta.
Em entrevista exclusiva ao LANCENET!, o treinador do Santos contou como tem sido o tratamento de uma hérnia de disco e as privações impostas pelo tratamento, comentou que que não sonha em dirigir a Seleção Brasileira, apontou o Corinthians como favorito ao título Brasileiro e ainda falousobre o futuro na Vila Belmiro.
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Confira a entrevista:
LANCENET!: Da mesma forma que Neymar foi indicado à Bola de Ouro, um técnico brasileiro pode ser também?
M: Não tem chance nenhuma. Os europeus são nota 7 e só vão ser 10 quando trabalharem no Brasil, com nossas condições, salários atrasados, pouca estrutura, imprensa com outra cultura. O cara lá está há 15 anos com o mesmo cabelinho, a mesma gravatinha, ele nem sua. Fica cinco anos sem ganhar p... nenhuma e continua. Aqui você perde um jogo e está caindo, segura cada p... confusão. Lá estão sempre bonitinhos, treinam meio dia. Mourinho e Guardiola são os melhores do mundo, mas os ingleses (que trabalham na Inglaterra) têm muita pose. Eles dão muita importância ao mundo deles. O Coentrão (lateral-esquerdo do Real Madrid) vale 30 milhões de euros! O Coentrão!!! Quanto vale o Neymar, 200? O Vanderlei (Luxemburgo) era nosso melhor técnico, foi lá (para o Real Madrid, em 2005) e não deu certo. Quis implantar treino de manhã e à tarde, concentração, nutricionista, mas eles não suportam. São organizados, mas não são tudo isso.
LNET!: O que eles têm de melhor?
M: Eles tomavam leite e comiam carne desde pequenininhos. A gente comia farinha com feijão, pega o cara com dente arrebentado, tem de tratar. Eles têm mais educação do que a gente, por isso estão tirando a concentração. Eu também não suporto! O Santos concentrava dois dias, mudei para um. Mas lá o cara tem educação. "Olha, vem almoçar às 12h, mas não vai pra noite, hein!". Se fala isso aqui o cara foge, vai pra boate... O técnico brasileiro melhorou muito em termos táticos, físicos. No Campeonato Brasileiro há várias revelações, de times compactos, com dedo do técnico. Veja o Corinthians juntinho. Damos muito valor para o de fora, mas aqui não é fácil. Eu estou numa maravilha! Trabalhei no São Paulo, no Internacional, estou no Santos... Mas tem companheiro que não recebe, não olham na cara dele, o clube não tem comida, bola, p... nenhuma. E mesmo assim revela jogador, vende. Temos de dar mais valor aos nossos técnicos.
LNET!: Você deu nota 7 aos europeus. E sua nota?
M: Eu? Falar de mim é difícil. Técnico tem de escolher o que vai ser. Se é da Série A2, tem de ser o melhor da A2. E no Brasil, para ser bom, tem de ganhar de qualquer jeito porque é nossa cultura. O técnico bom tem de ser constante. Não pode ganhar um ano, ficar três sem ganhar, depois voltar. Tem de ganhar toda hora e não num lugar só. Eu ganho em vários lugares e sou constante. Não ganhei em 2009, mas briguei até o fim, o Palmeiras ficou muito tempo em primeiro lugar. Hoje a coisa está feia lá. Agora, minha nota não sei. Meu resultado é bom, além dos títulos, deixo jogadores. Sofro porque é uma loucura, isso aqui é estresse (apontando para as costas). Mas estou longe de uma nota boa porque todo dia aprendo alguma coisa. Então ainda não sou tão bom.
LNET!: Mas você é melhor do que Mourinho e Guardiola?
M: Nunca. No meu país estou entre os três, mas Guardiola e Mourinho estão disparados. Eles têm esse monte de jogadores, mas não é fácil administrar. O Mourinho ganha título que ninguém imagina. A Liga dos Campeões que ele ganhou com a Inter (ITA) foi brincadeira! A Inter não tinha tudo aquilo, ali ele mostrou que é bom. O Eto'o marcava pela direita, isso é coisa do técnico. A porcentagem dele foi muito grande. E o Guardiola chama atenção pelas mudanças que está fazendo. O Barcelona mudou a maneira de jogar, com três zagueiros, um como lateral. São movimentos que a gente percebe que é do técnico.
LNET!: Esse é o primeiro Brasileiro, desde 2004, que você não briga pelo título. Como tem sido essa rotina e quem é o favorito?
M: É horrível! Estava pensando essa noite. P..., mais três ou quatro vitórias, a gente estava brigando. Querem comparar com o Vasco, mas não tem jeito. Eles ganharam a Copa do Brasil e no dia seguinte tinham o mesmo time. A gente perdeu tudo, perdeu foco. Mas pelo time que temos, era para estarmos lá na frente. Na teoria, vendo momento dos times, classificação e jogos que faltam, o Corinthians tem mais chance. Estão num momento favorável, construindo estádio, o Tite num bom momento. Você vê nas declarações dele, dos jogadores e dirigentes uma coisa calma, sensata, sabem que ainda não conquistaram. Mas isso é teoria e no futebol nem sempre o bom vence. É importante, mas não garante nada. Hoje jogam contra o América-MG praticamente rebaixado, com 40 mil corintianos lá, mas do outro lado tem profissionais.
LNET!: Ano que vem é o centenário do Santos. Você pensa em ficar, fazer um contrato maior, já que o atual termina em abril?
M: Há um mês e pouco o presidente me chamou, disse que está gostando do meu trabalho e adoraria fazer um contrato mais longo. Só que temos de respeitar o momento dos clubes e tem eleição no fim do ano. Politicamente, nunca me meto nas coisas, mas tive um exemplo recente agora (no Fluminense). Achei que era o contrato da minha vida, mas mudou tudo (com a eleição de Peter Siemsen). Eu me dei muito bem aqui. Não me meto na área de ninguém, facilito, não complico as coisas. Fiquei contente com a conversa, caminho para ter um prazo maior no Santos. É centenário e a gente percebe nos dirigentes o esforço para segurar esses meninos. Ninguém faz isso, o assédio é muito grande. Há um sonho de segurar o Neymar até o fim, não ganhar nada com o cara, mas crescer torcida. Isso é coisa de sonho, de gente antiga, ninguém tem mais. São muito corretos, legais, isso chama atenção. Mas tenho de esperar a eleição.
LNET!: É verdade que uma cláusula no seu contrato renova automaticamente se o Santos ainda estiver na Libertadores?
M: Não, dei minha palavra que vou até o último jogo. Não precisa fazer outro contrato, fico até acabar, eles veem os dias que têm de me pagar. Mas pode ser que antes disso façamos outro contrato e eu fique até o fim do ano que vem, ou mais dois anos.
LNET!: Hoje, vários técnicos o citam como referência. Você é muito procurado, eles te ligam para pedir ajuda, conselhos?
M: Alguns telefonam, mas não sou de estar na badalação. Vou ao Sindicato fazer abertura de um evento porque me pediram, fiz quatro cursos lá e sou grato, mas não sou de roda. Muitos fizeram estágio comigo no Rio, aqui também. É gostoso quando a gente começa como técnico ou jogador e se espelha em alguém. Fico contente que pensem assim. Eu acho só que o técnico brasileiro não pode ter coisas definidas, só um jeito de jogar. Porque ele muda de clube e tem de se adaptar às características do grupo. Não é igual ao Real Madrid. Lá, se querem dois caras que jogam pelo lado, mandam contratar.
LNET!: Você ainda sonha com a Seleção depois daquela recusa?
M: Sou muito intenso onde estou. A única chance de um técnico brasileiro ser reconhecido é ganhar títulos. E quem ganha dá mais, se dedica mais, sofre mais, faz mais. Quem é mais ou menos não ganha. No meu currículo, digo que fui técnico da Seleção por três horas (risos). Não quero ser dono da verdade nem que ninguém me siga. Quero só que meus filhos se espelhem em mim. No futebol é difícil ser assim. Quando eu estava no São Paulo, o Celso Barros (presidente da Unimed, parceira do Fluminense) queria me conhecer. Fizemos um churrasco na quadra do Rivellino (o ex-jogador é pai de Márcio Rivellino, empresário de Muricy). Conversamos até duas da manhã e ele disse: "Um dia vou te levar para o Fluminense". E levou mesmo. Não fizemos contrato longo para nos conhecermos, mas começou a dar certo. O Fluminense começou a ganhar e eu a me sentir bem, num ambiente ótimo. Eles me chamaram para fazer um contrato mais longo, melhorar meu salário. Mas não assinamos. Na semana seguinte, cheguei ao estacionamento e estava o Victor, da assessoria de imprensa da CBF. Disse que queriam falar comigo. Aí conversei com ele (Ricardo Teixeira). Falou do centro de treinamento que vão fazer, pediu ideias, e eu sempre deixando claro o problema do Fluminense e minha palavra ao Celso Barros. Ele perguntou se eu era o técnico, falei que era. E ele falou para eu conversar no Fluminense. Não achei muito legal, devia ser um telefonema entre eles, mas estavam brigados, CBF e Fluminense. Eu não sabia. Liguei e o Celso Barros quase chorando do outro lado. Não é justo! Era um sonho da pessoa, como vou dizer que não dá mais? Quando cheguei ao clube, estava toda torcida, os dirigentes, aquela papagaiada toda. Um diretor me falou: "Ah, você não existe...", aquela conversa mole de dirigente. E respondi: "Não vem me agradar, fiz porque acho certo. Um dia vocês vão me virar as costas e me mandar embora". Não mandaram, mas viraram as costas. Foi só uma pessoa, começou a mudar tudo que fiz. Mas se eu tivesse outro Celso Barros na minha vida, faria de novo. Porque são poucos iguais a ele, que é homem, tem palavra. Meus filhos me chamaram de louco. Mas eu não ficaria bem ao dar as costas para meu amigo.
LNET!: Então não sonha com a Seleção?
M: Juro que não sonho, não é um objetivo fixo, como não era. Lá você não treina! Tem que ir a evento, patrocinador, pôr terno... P..., se reúne de vez em quando. Gosto do dia a dia, tenho uma porrada de pepino para resolver na minha sala. Eu ia me adaptar, mas não teria isso.
LNET!: E o problema nas costas? Você tem se privado de muita coisa?
M: De tudo! Não tomo minha cervejinha há 15 dias. Tomei um susto, anestesia geral, e se não me cuidar, não chego ao Mundial. É meu sonho, cara, tenho que chegar! Já perdi cinco quilos, a dor melhorou, mas ainda não sinto o pé, uso esse adesivo para ajudar a não torcer. Tenho um compromisso no fim do ano. A maior dureza é dormir aqui, mas me ajuda a fazer fisioterapia. Nem como jogador eu era tão disciplinado.
LNET!: O que você aprendeu a comer?
M: Não gostava muito de salada, agora pareço um coelho, como mato pra caramba. O pessoal aqui já sabe, é peixe, verdura e mato, nossa senhora! Mas estou me sentindo ótimo, com uma alimentação perfeita. Não tem nutricionista, faço do jeito que acho.
LNET!: A viagem para o Japão é longa, como torná-la mais confortável para você?
M: É terrível mesmo. Vamos parar na Alemanha, ficar um dia e meio, treinar lá. Tenho que chegar bem, emagrecer e tirar essa dor. Não posso subir muita escada, ficar em pé, dirigir. É tratamento, repouso e paciência. Já tomei um caminhão de remédio, não adianta mais. Pressionou o nervo, tem de recuar, mas demora. Hoje ainda não daria para viajar, mas com certeza vou estar bem.
LNET!: Há algum risco de você não ir?
M: Não tem risco algum. Vou para a Vila hoje porque são três degraus no vestiário, sento no banco e vejo o jogo. No Pacaembu, semana passada, era escada pra todo lado, isso me arrebenta. Para o Ceará, semana que vem, não vou, está definido. Trabalho a semana toda e eles viajam sábado. Estou melhor, hoje acordei com pouca dor.
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