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Luxa e Abel: do subúrbio carioca para o mundo

Amigos de Abel (Foto: Cleber Mendes)
imagem cameraAmigos de Abel (Foto: Cleber Mendes)
Dia 27/10/2015
18:47

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As ruas entre os bairros de Rocha Miranda e Turiaçu, no subúrbio carioca, já estão asfaltadas. O campo antes coberto por capim para não machucar os pés da molecada boleira já não existe. Mas na rua Joaquim de Sousa ninguém esquece da família Luxemburgo da Silva e seu filho famoso. E Vanderlei também não esquece as raízes suburbanas.

No comando do time que ama desde a infância em Turiaçu, o técnico rubronegro exalta o fato de ter na veia a malandragem carioca. O jeitão escapa muito em gírias nas entrevistas. Contra o Vasco, Vanderlei resumiu que sente uma "piscadinha". Para bom malandro, a palavra já basta.

Uma só pergunta na região sobre o técnico é o necessário para que alguém logo lhe aponte a casa onde morava Luxa com os pais, Sebastião e Rosa, e os irmãos nas décadas de 50 e 60. Hoje, quem vive no local é Jorge da Costa, de 71 anos, amigo dos pais de Vanderlei, a quem chamava junto com os amigos por um apelido curioso.

- Vanderlei era conhecido aqui como Gabiru, uma espécie de rato. Ele era pequeno e o chamavam assim. Não aparece aqui faz um tempo, mas sempre foi gente muito boa e tinha esse jeitão mesmo de soltar uns palavrões. É coisa dele - disse Jorge da Costa.


O curso de malandragem carioca de Vanderlei continuou no subúrbio. A poucos metros da casa, está a adega de Tião, amigo do treinador nos anos de juventude e falecido há pouco tempo. Por volta dos 13 anos, o atual técnico do Flamengo foi levado para fazer testes no Botafogo e começar sua carreira no futebol. Mas ainda aparecia.

- Quando era jogador, ele sempre dava uma volta aqui com um chevettinho vinho que ele tinha. E por vezes quis trazer o Zico, mas isso nunca aconteceu - disse Sérgio Maurício, de 61 anos, um dos amigos da época.

No Fla-Flu de amanhã, Luxa deseja vencer para bater o campeão brasileiro. Tarefa nem tão difícil para quem cresceu no subúrbio e é malandro pra mais de metro.

Nas ruas de uma Penha tranquila, técnico tricolor era Abelzinho e pato feio nas peladas

Foi no Bairro Dourado onde Abel Braga cresceu, região da Penha que era chamada dessa forma graças à quantidade de comerciantes, engenheiros e médicos que formavam a vizinhança. Seu Abel, o pai, era lanterneiro talentoso. Comentam que o filho mais velho, Abelzinho, era tão fominha pelas peladas que se multiplicavam pelos campos de futebol quanto
apenas esforçado com a bola nos pés.

Aos 12 anos, quebrou o braço direito numa partida. Mesmo orientado pelos pais a ficar longe do jogo, insistiu no erro e fraturou o esquerdo. Foi visto pouco tempo depois batendo bola no quintal, apesar dos braços imobilizados.

Hoje conhecido pelo gosto refinado, por saber tocar piano e apreciar bons vinhos, Abel Braga não foi autodidata. A casa espaçosa, construída pelo pai, ainda está lá, e contraria o estereótipo de pobreza que cai sobre os bairros do subúrbio. Seu Abel, fã da cultura do Japão, construiu a casa no estilo oriental, com direito a um painel de azulejos na garagem, com o desenho de uma paisagem tipicamente japonesa. Nem mesmo os efeitos do tempo escondem o fato de que o lar abrigou uma família de vida confortável.

Num bar na Avenida Nossa Senhora da Penha, frequentado pelo pai de Abel até pouco antes de sua morte, dois meses atrás, amigos e parentes dizem que o irmão mais novo de Abel, Paulo, jogava muito mais bola do que ele. Não se tornou jogador para estudar medicina. Quem o viu jogar diz que Abel Braga teve estrela e se tornou astro.


Ele conciliou a Penha com a vida de jogador durante os seis anos em que foi reserva no Fluminense. Chegava num Opala branco e fazia sucesso com as meninas. Seu primo Jorge Seabra, de 65 anos, comenta que elas chegavam a se jogar sob o capô do automóvel com toca fitas, um luxo na época. Somente quando foi para o Vasco, com um contrato melhor, que Abel deixou a casa dos pais.

O zagueiro se foi, assim como o brilho do bairro. Hoje em dia, o Bairro Dourado é mais conhecido por ser vizinho muito próximo da Vila Cruzeiro. Depois de décadas sob o medo dos traficantes, tenta recuperar o valor. Sempre torcendo por Abel Braga, ou melhor, Abelzinho.

Com a palavra

Sérgio Henrique
Amigo de Luxa na infância

Vanderlei tem muita estrela

Vanderlei sempre foi muito gente boa e tem muita estrela. Não jogava tão bem assim e se deu bem no futebol. Meu primo, Marquinho, jogava mais do que ele! (risos). O apelido dele por aqui era Gabiru, mas nem sei se ele gostava muito, não. Nos divertimos muito jogando bola em cima do capim, nos carnavais em Madureira. Ele tinha pretensão de ser profissional no futebol e nós, não. A mãe dele, Rosa, e o irmão, Valdoniro, sempre voltaram aqui. Ele nem tanto.

Bate-Bola

Jorge da Costa
Amigo dos pais de Luxa, mora na antiga casa da família

-1- Como era Vanderlei Luxemburgo na infância?

- Uma criança normal, adorava brincar pela rua. Era pequeno, tinha o apelido de Gabiru. Mas tinha uma convivência boa com todos.

-2- Como era o Vanderlei nas peladas do bairro?

Não cheguei a jogar muito com ele, não, só algumas peladinhas. Ele sempre gostou muito de futebol. O pai, seu Peri, era botafoguense e também gostava.

-3- Todos sabem que Vanderlei Luxemburgo morou no bairro?

- Muita gente sabe. O pessoal aqui torceu muito por ele na carreira. Nunca torceram contra, sempre a favor. Só ficaram chateados uma vez que ele disse que cresceu na Vila da Penha. Mas passou.

-4- No Fla-Flu de domingo o senhor vai torcer pelo Vanderlei?

- Claro que não! Sou tricolor e espero que ele não se dê bem no domingo. Amigos, amigos, mas futebol à parte. A família de Vanderlei sempre foi muito boa, gostava muito do seu Peri, que sempre me ajudou, e da dona
Rosa. Foram bons tempos aqui.

Causos de Luxa

Capim salvador

Perto da casa de Luxa havia um campinho onde a garotada do bairro jogava bola. Segundo Sérgio Henrique, o campo era coberto com capim para que os pés não sofressem tanto. E Luxa ficava sempre na parte onde tinha mais capim, poupando os pés.

Chevette vinho

Tão logo se tornou profissional, Luxemburgo aparecia na área de Turiaçu e dava voltas com um chevette vinho comprado por ele. A movimentação chamava atenção de quem morava por perto.

Banco no Colégio FC

Luxa começou a carreira no Colégio Futebol Clube, no bairro de Colégio. Lá, chegou a ser reserva na lateral para um jogador chamado Chocolate. Segundo o atual presidente do Colégio FC, Ivan Dourado, Luxa ficava bravo.

Reclamão

Mesmo nos tempos de Colégio FC, Luxa reclamava muito da arbitragem. Ivan apitou alguns jogos e garante: - Ele reclamava muito, falava palavrão. Era muito assim - disse, rindo.

Cervejinha e churrasco

Mesmo ano após ter saído do Colégio Futebol Clube, no bairro do Colégio, Vanderlei Luxemburgo continuou frequentando o local.
Presidente atual do clube, Ivan Dourado lembra de Luxa em ação quando garoto e das presenças dele, mais tarde, em churrasco
com direito a cerveja no Colégio F.C.. Há tempo sem ver o amigo, Ivan pede ajuda de Luxa para
reestruturar o clube.

- Não queremos dinheiro, mas ajuda com o conhecimento. Tomara que ele volte - disse Ivan.

Com a palavra

Vander Sílvio Lopes
Amigo de infância de Abel Braga

O Abel, nas peladas, cismava que ia jogar de centroavante. Todo mundo reclamava com ele. O Pinheiro (ex-técnico do Flu) foi
uma benção na vida dele, porque quando o Abel chegou nas Laranjeiras, foi logo dizendo para ele ser zagueiro (risos).

Naturalmente, fomos nos distanciando. A última vez que nos encontramos foi no enterro do pai dele. Mas ele segue a mesma pessoa. Sempre foi muito querido por todos aqui no bairro. É uma grande pessoa.

Bate-Bola

Márcio Braga
Irmão mais novo do Abel Braga

-1- O que você acha que o Abel Braga leva com ele até hoje da infância vivida
na Penha?

- Abel leva com ele a humildade. Éramos muito felizes aqui, a vida com os vizinhos era próxima, tínhamos muitos amigos. Ele poderia ser mais alegre, mas entendo que são muitas preocupações.

-2- Ele gostava muito de futebol?

- O Abel gostava muito de jogar, dava um trabalho aos vizinhos, que reclamavam quando a bola caia no quintal deles. Era muito levado.

-3- Vocês se falam muito?

- Muito, depois da morte do nosso pai. Digo agora que ele é o chefe da família. Estamos reformando a casa e ele está nos ajudando.

-4- Como está a torcida pelo Fluminense?

- Estamos torcendo muito para que ele vença o clássico. Sofremos muito com as críticas que fizeram a ele. Sabemos que o Fluminense vai brigar para ser campeão.

Pai brigava por Abelzinho

Para quem acha que Abel tem temperamento forte, a explicação talvez esteja na genética. Márcia Braga, de 54 anos e filha caçula da família, lembra com bom humor do tempo em que assistia com o pai às partidas do irmão na arquibancada
do Maracanã:

- Quando alguém xingava a mãe do Abel, meu pai virava e dizia "você está xingando minha mulher?". Começava a confusão. Abel nos dizia que jogava olhando para a torcida. Quando via uma briga, sabia que era nosso pai.

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