Luiz Henrique Medina se destaca no tênis de mesa

Relógio - Contagem Regressiva Gudalajara 2011 (Foto: EFE)
Relógio - Contagem Regressiva Gudalajara 2011 (Foto: EFE)

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Mais do que um campeão no tênis de mesa, Luiz Henrique Medina, de 59 anos, é um campeão na vida. Um verdadeiro sobrevivente. Nascido sem os dois antebraços, a perna esquerda, a língua e o maxilar inferior, foi abandonado pela mãe ainda criança. Mas ele provou ser possível superar todos os limites e barreiras, mesmo as físicas, por meio de muita garra e determinação. Hoje, dá palestras motivacionais por todo o Brasil, relatando a sua incrível história de vida.

– Para mim foi até fácil conviver com estas deficiências, pois sou uma pessoa bem extrovertida. Faço amizade rapidamente, o que quebra o clima de a pessoa ficar com medo de conversar comigo. Hoje em dia vivo muito bem, já viajei para vários países e sou totalmente feliz – afirmou Medina.

O mesa-tenista não conheceu a mãe, o pai nem qualquer outro familiar, pois foi deixado, recém-nascido, dentro de uma caixa de sapato numa calçada de uma rua da cidade de São Paulo. Acabou encontrado por dois policiais, que viram o objeto se mexendo.

Por pouco mais de 20 anos, Medina foi criado no Lar Escola São Francisco, um centro de reabilitação para deficientes físicos em São Paulo. Passou por cerca de 40 cirurgias no Brasil, todas custeadas pelo instituto onde morava. Com o auxílio de médicos, fonoaudiólogos e terapeutas ocupacionais, adaptou-se perfeitamente ao convívio social.

Uma das cirurgias que fez ainda criança, e depois na adolescência, foi para colocar o maxilar, o que hoje permite Medina, com um pouco de dificuldade, a falar. Também fez operações nos braços, o que hoje permite com que possa jogar tênis de mesa. Para tanto, ele prende a raquete com uma faixa de velcro.

Mas nenhuma dessas dificuldades impediu Medina de buscar uma vida normal. A partir da sugestão de uma amiga, se interessou pelo curso de Citologia do Instituto Brasileiro Contra o Câncer (IBCC). Estudou e passou em primeiro lugar.

– Na entrevista, não queriam a minha entrada no curso pois, na visão dos examinadores, por eu não ter os dois antebraços, ficaria difícil manusear o microscópio. Mas mostrei que eu era capaz – disse Medina, que hoje já está aposentado.


QUEM É
Luiz Henrique Medina
Mesa-tenista

Data e local de nascimento
A data que consta na certidão de Luiz é 4/6/1951, em São Paulo (SP).

Altura e peso
1,67m e 44 quilos.

Clube
Luiz joga pelo Clube de Jundiaí (SP).

Classe no tênis de mesa
O esporte é dividido em classes de 1 a 11, sendo que, quando maior o número, menor é o comprometimento físico-motor do atleta. Luiz joga na classe TT6, para competidores andantes.

Principais resultados
Medalha de prata por equipes e bronze individual nos Jogos Parapan-Americanos Rio-2007. Também já ganhou torneios internacionais.

Ranking paraolímpico
Primeiro lugar no ranking nacional e 26º no mundial de tênis de mesa.


MEMÓRIA:
Fatos da vida

Nome e nascimento
Depois que foi encontrado, recebeu o nome temporário Luiz Henrique. Acolhido no Juizado de Infância por um ano, foi levado para o Lar Escola São Francisco, onde ficou como anônimo por 5 anos. Somente no sexto ano teve seu nome registrado, ganhou o sobrenome Medina e uma certidão de nascimento, com a data de nascimento aproximada: 4 de junho de 1951, dia em que foi encontrado numa rua da cidade de São Paulo.

Apelido
Luiz ganhou o apelido Caíque por causa de sua perna mecânica, que tinha o pé em formato de um caiaque.

Pai de família
Aos 39 anos, conheceu Vanda, com quem teve um relacionamento que resultou no nascimento de seu único filho. Abandonado pela mulher, criou a criança sozinho. Hoje, Igor tem 20 anos, mora com o pai e trabalha com computação.

Guerra do Vietnã
Quando levava o filho ao colégio, Luiz brincava com as crianças que ficavam espantadas com sua condição física. Dizia que tinha participado da Guerra do Vietnã e que fora atingido por uma bomba.


BATE-BOLA
Luiz Henrique Medina
Em entrevista ao LANCENET!

O seu caso já foi estudado por algum especialista?
Não, mas como trabalhei em hospital, sempre tive acesso a laboratórios. Então, resolvi fazer um exame de genética para saber se meu caso estava ligado a isso. Geneticamente sou uma pessoa normal. Os médicos falaram que eu sofri uma má-formação congênita. Minha mãe deve ter tomado algum remédio.

Acha que ela pode ter tomado algum remédio para abortar?
Não sei. Mas dou graças a Deus que naquela época ainda não existia o exame de ultrassonografia. Se existisse, com certeza ela faria um aborto, pois veria minhas deficiências. Mas Deus queria que eu nascesse.

E por que você escolheu o tênis de mesa como seu esporte?
Trabalhei 36 anos em hospital. Ao me aposentar, queria fazer algum esporte. Tentei a natação, mas não gostei. Como eu joguei muito pingue-pongue quando criança, optei pelo tênis de mesa. Comecei a jogar há dez anos. No início foi difícil, mas como persisti, virei profissional.

Você já enfrentou alguma situação de preconceito?
Nunca. Estudei em colégios que tinham outras crianças com deficiências físicas. As crianças normais às vezes falam coisas, mas sem noção da maldade.

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