Gilvan de Pinho: ‘Trabalho de continuidade, mas não de continuísmo’
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32º presidente da história do Cruzeiro, Gilvan de Pinho Tavares assume oficialmente o seu mandato em janeiro de 2012. Mas o novo mandatário já assumiu as funções no clube celeste e transferiu seu gabinete para a Toca da Raposa II, visando dar tranquilidade aos atletas do clube, que passam por incômoda situação no Brasileirão. Foi no CT cruzeirense que Gilvan recebeu a reportagem do Lance! e abriu o jogo sobre os planos para sua administração. Renovação de Fabrício é uma das prioridades.
- Tenho certeza que dará tudo certo, espero que dê!
O presidente ainda garantiu contratações impactantes na Raposa.
- (Jogadores) para chegar e dar alegria para a torcida do Cruzeiro.
Lance!net: Você conseguiu uma votação expressiva na eleição para presidente (391 votos a favor, e apenas 48 contra). Esse número assustou-o ou já esperava essa grande vantagem?
Gilvan de Pinho Tavares: Eu já esperava. Tinha absoluta certeza. Pela minha passagem pelo conselho deliberativo, modéstia a parte, foi uma das melhores gestões. Eu mudei o jeito do conselho, o deixei mais ativo, participando, realmente, da vida do clube. E os conselheiros gostaram muito disso. Aqueles que já me conheciam mais intimamente continuaram a me prestigiar. Aqueles que, daquele dia em diante, me conheceram mais proximamente passaram a ver que o melhor para o clube era eleger a chapa que eu estava. Pois eu tinha mais preparação para assumir o clube. Já o outro candidato (Alberto Rodrigues), embora ele seja muito querido no Cruzeiro, sabemos que ele torce nos momentos da narração de jogos, mas não tem essa presença no clube e não havia se preparado para exercer a presidência, já que ele nunca exerceu um cargo dentro do Cruzeiro. Os conselheiros sabiam que ele não era o mais indicado e por isso eu estava com a convicção de que seria o mais votado.
L!: O Zezé Perrella apoiou sua candidatura. Você associa essa vitória expressiva ao suporte do ainda presidente da Raposa?
Gilvan: O apoio dlee foi de suma importância. Ele e o irmão dele, Alvimar, são muito bem-quistos pelos conselheiros do Cruzeiro. Mas eu sei que tenho luz própria. Se por um motivo ou outro, ele não pudesse apoiar, eu tenho certeza que minha votação seria parecida com essa.
L!: Como Zezé passou muito tempo a frente do clube, o senhor pretende recorrer a ele para conselhos para assumir esse cargo?
Gilvan: Já conversei muito com ele. Zezé já disse que a administração é minha, não será dele. Mas, todo momento que eu precisar da experiência dele, ele estará à disposição. Não só ele, como também o Alvimar e outros cruzeirenses ilustres que passaram pela direção do Cruzeiro em alguns cargos. Obviamente, não vou dispensar essa experiência. Eu tenho um programa próprio de administração e quero aplicá-lo. Mas quando necessário não vou deixar de contar com toda a experiência que eles tiveram. Ele e Alvimar foram os presidentes que mais ganharam títulos pelo Cruzeiro. As obras estão por aí: Toca da Raposa II, sede administrativa, fortalecimento da marca, além da quantidade de títulos.
L!: Nas suas passagens em cargos no clube, teve funções não tão ligadas intimamente ao futebol, carro chefe da Raposa. O senhor se vê preparado para, agora, estar a frente destas decisões?
Gilvan: Perfeitamente. Eu sendo do jurídico do Cruzeiro, todos esses contatos com empresários, com pessoas que lidam com futebol acabavam sempre passando pelas minhas mãos. Toidas essas formalizações passavam pelo jurídico. Então, eu não estava tão afastado. Além do que, sempre acompanhei todos os jogos do Cruzeiro, era frequente minha presença aqui na Toca (da Raposa II) vendo treinos, contato com os membros da comissão técnica. com os atletas, então, nem se diga. Pois quem fazia as defesas deles nos tribunais de Justiça Desportiva era eu. Não estava tão afastado (do futebol), estava próximo e adquiri conhecimentos para colocá-los na minha bagagem para, hoje, que estou assumindo, poder ter essa experiência e poder aplicar na administração do Cruzeiro.
L!: O senhor comentou sobre não esperar chegar até janeiro (início do mandato de Gilvan) para começar sua administração. Sua presença na Toca da Raposa II nesses últimos dias significa que o trabalho já começou?
Gilvan: Isso é uma contingência do que aconteceu com o presidente do Cruzeiro, que assumiu a cadeira do Senado, após o falecimento de Itamar Franco. Ninguém podia imaginar que isso ocorresse como aconteceu. O senador Itamar Franco tomou posse no início do ano e seis meses depois faleceu. O presidente (Zezé Perrella) teve que assumir como senador e, como mandato é em Brasília, ele passou a não ter o tempo necessário para administrar o Cruzeiro, com presença diária aqui junto da comissão técnica e do departamento de futebol. Muito preocupado com isso, ele pediu que se fizesse o mais rápido possível a eleição para presidência para que pudesse me delegar também essas funções, para que a direção não estivesse afastada aqui da Toca. Então, no dia da eleição, já fiz essa promessa. Assim que terminasse, eu já mudaria meu gabinete para a Toca da Raposa.
L!: A ideia é a manutenção das pessoas que estão no departamento de futebol ou pensa em uma reestruturação do setor?
Gilvan: Eu tenho colocado que o meu trabalho vai ser de continuidade, mas não de continuísmo. O que está dando certo nós não vamos mexer. Na parte de futebol, o diretor, Dimas Fonseca, vem desempenhando um excelente trabalho na sua função. Não pretendo mexer. De imediato é antecipar as negociações para vindas de alguns atletas que desejamos, renovações de contrato e até atletas que estão emprestados e podem voltar. Temos que antecipar, não pode deixar para o ano que vem. Porque em janeiro temos que estar com plantel montado para fazer uma boa pré-temporada para fazer frente aos campeonatos que vamos disputar.
L!: A ideia é contratar jogadores consolidados no futebol nacional, para chegar e assumir a camisa de titular?
Gilvan: (Jogadores) para chegar e dar alegria para a torcida do Cruzeiro.
L!: Qual o tratamento pretendido para as categorias de base do Cruzeiro, sobretudo na questão da transição do júnior para o profissional?
Gilvan: Sabemos que o trabalho é muito bem feito na base do Cruzeiro. Grande parte desses atletas já vinha ganhando os torneios que eles tinham disputado, são jogadores que têm condição de vestir a camisa do Cruzeiro. Estão preparados para isso e vem mostrar que as divisões de base do Cruzeiro estão bem servidas de atletas. Não quer dizer que eles vão ser titular imediato após sair da base. Tem esse período de transição e nem sempre a titularidade ocorre de imediato. Nós pretendemos incrementar mais esse trabalho, fazer com que a base produza mais do que vem produzindo. Nós fazemos um investimento muito grande na categoria de base, e achamos que, se ela produzir mais, o custo do futebol profissional fica mais barato.Nós vamos tentar fazer isso, mas é um trabalho a ser feito no Brasil inteiro. Onde tiver um jogador com condição de servir à categoria de base da Raposa, nós vamos tentar negociar, mostrando que somos uma vitrine muito forte, muito grande. Fazendo isso, talvez, vamos resgatar um período não tão longe que deu muito certo. Por exemplo, o Ronaldo Fenômeno, que chegou ao Cruzeiro com quinze anos. Teve também o Luisão, o Maicon, entre outros.
L!: Falando das revelações do Cruzeiro, o centroavante Léo, que disputou o Mundial sub-17 pela Seleção Brasileira, tem chamado muita atenção. O futebol dele está sendo acompanhado de perto pelo staff do futebol profissional do Cruzeiro.
Gilvan: Não só ele, como outros jogadores também, como o Pedro Paulo. Eles se saíram muito bem, foram destaques daquela seleção. Eram jogadores que estavam nos planos para vir para a equipe profissional, mas todos os dois contundiram. Estão voltando de lesão e não puderam ser utilizados nesse período.
L!: A maior preocupação da torcida é a permanência do Montillo, sempre muito cobiçado nas janelas de transferência. O Cruzeiro trabalha para contar com o futebol dele em 2012?
Gilvan: Pelo futebol que ele tem jogado, imagino, que todos treinadores se interessem pelo Montillo. É um jogador de primeira linha do futebol mundial, convocado para a Seleção da Argentina, etc. Mas não temos a menor intenção de desfazer do craque maior do time, xodó da torcida. Para nossa sorte, o Montillo se adaptou muito bem a Belo Horizonte, gosta daqui. Também não demonstra interesse nenhum em sair. Enquanto isso estiver ocorrendo nós queremos o Montillo no Cruzeiro e será uma luta nossa. Não há nenhum contato (com o Corinthians) e não há interesse da nossa parte.
L!: Cruzeiro teve que reestruturar o elenco no meio do ano. Os jogadores que chegaram não têm conseguido uma sequência de bons jogos. Acredita que o clube contratou de forma errada em 2011?
Gilvan: Não foram contratações erradas. O jogador que sai do Brasil e vai para o exterior, fica lá determinado período, eles têm dificuldade de readaptar ao futebol brasileiro. O Bobô vinha evoluindo, estava se readaptando. O Keirrison, contra o São Paulo, já mostrou uma grande evolução. Estamos com esperança que em pouco tempo eles voltem a render o que têm condição e que ajudem o Cruzeiro neste final de competição.
L!: A folha salarial do Cruzeiro é parecida com as dos clubes grandes brasileiros?
Gilvan: Tenho certeza que a folha de pagamento do Cruzeiro é menor que as dos principais clubes do futebol brasileiro. Nós sabemos comprar e pagar. Vivemos dentro do nosso orçamento. Mas a folha é perfeitamente compatível com nosso orçamento. Ano que vem a expectativa é que esse orçamento seja maior e que poderemos gastar mais um pouco. Agora, não costumamos revelar os valores, mesmo porque isso é publicado no balanço anual e foi divulgado no mês de abril. Ali fica claro quanto o Cruzeiro arrecada e gasta.
L!: As negociações para a renovação do Fabrício estão avançadas? O vínculo encerra no fim do ano.
Gilvan: Estive reunido com Fabrício e o empresário dele (Reinaldo Pitta) antes da data das eleições. Coloquei para eles que não era correto antes de ocorrer a minha eleição eu acertar bases contratuais. Eles entenderam que era melhor deixar para depois das eleições. Agora, eleito, já posso falar como novo presidente do Cruzeiro, tenho total condição de discutir o contrato. Tenho certeza que dará tudo certo, espero que dê!
L!: Existe o interesse na contratação do Ávine, lateral-esquerdo do Bahia?
Gilvan: Posso garantir que o Ávine é um grande alteta, que estamos observando e que é bem recomendado. Não temos nenhum contato, nem com ele, nem com empresário. Eu também nem faria (proposta). Pois ele é um jogador de um clube (Bahia) em uma situação semelhante (tentando evitar o rebaixamento) a do Cruzeiro e seria antiético iniciar negociação.
L!: Tem ajuda do Emerson Ávila e do Alexandre Grasseli na observação de jogadores? Qual a função deles?
Gilvan: São funcionários do Cruzeiro e foram designados para fazer esse trabalho de percorrer o Brasil e levar atletas ao departamento de futebol. Eles assistem jogos pela televisão e vão pessoalmente acompanhar as partidas dos jogadores que interessem. Eles estão viajando, fazendo esse trabalho, trazendo informações que precisamos, para, depois, iniciarmos os contatos e tentar negociar.
L!: O sócio do futebol é um projeto a ser trabalhado novamente com o retorno de um estádio em Belo Horizonte? Em 2012, o Independência poderá receber os jogos dos times mineiros.
Gilvan: Nós fizemos 20.000 sócios do futebol, pois esperávamos contar com o Independência quando o Mineirão fosse desativado para passar pelas obras para a Copa do Mundo de 2014. Mas o governo do estado desativou os dois estádios em Belo Horizonte, para reformá-los. Nós ficamos sem estádio. O sócio não ia a Arena do Jacaré. O número de presentes na Arena é muito menor ao número dos que compareciam no Mineirão. Por isso, diminuiu o número de sócios. A fidelidade dos que continuaram foi até muito grande. Temos pouco menos de quatro mil no momento.Mas também porque diminuímos o valor para manter a fidelidade. Quando viermos a reativar o programa queremos contar com eles.
L!: Prevê mudanças no projeto do sócio do futebol?
Gilvan: O nosso programa será melhorado. Tenho certeza que quando tivermos a notícia da reinauguração do Independência já teremos lançado o projeto para 2012. Acredito que aqueles vinte mil vão retornar e teremos outras adesões para aumentar nossa arrecadação. Assim podemos melhorar nosso plantel e trazer jogadores de melhor nível. Isso vai nos ajudar a fazer o prometido: montar uma equipe de nível maior para 2012.
L!: Qual o plano da sua administração para os outros esportes, além do futebol? Cruzeiro tem investido no vôlei, atletismo e, mais recente, no MMA.
Gilvan: Eu pretendo expandir. O vôlei já é bem sucedido, de primeira grandeza. Posso garantir que o Cruzeiro não gasta com isso, é o nosso convênio com o Sada e os custos saem desta parceira. Pretendemos, nesse modelo, apoiar outros esportes. Vamos construir uma Arena multiuso e investir em outros esportes para fortalecer a marca.
L!: Cruzeiro já tem parceria para a construção da Arena?
Gilvan: Essa arena não está sendo bancada pelo Cruzeiro. Isso é um projeto do Governo Federal e atendemos todos os requisitos exigidos para essas verbas. Temos o terreno e, com a preocupação do Governo com as Olimpíadas de 2016, está destinando a verba para construção de ginásios.
L!: A marca do Cruzeiro está se valorizando. Já tem previsão de arrecadação de patrocínio para o próximo ano?
Gilvan: Nosso contrato com o BMG (patrocinador master) vai até dezembro de 2012. A partir disso não sei como vai ser. Vamos ver a proposta que o BMG pode fazer e as propostas de outros interessados para ver qual vai ser. Evidentemente, vamos ficar com a melhor proposta. O marketing está crescendo, posso até adiantar que o patrocínio para o jogo contra o São Paulo deve se repetir contra o Corinthians. E mais ainda na manga da camisa temos o patrocínio da Netshoes e estamos assinando contrato com uma empresa lá para os Estados Unidos para vender produtos em uma loja virtual para o mundo inteiro. Hoje, temos uma arrecadação muito boa e nosso marketing cresceu demais.
L!: Dá para competir com os times de São Paulo e Rio de Janeiro, que recebem maior dinheiro de televisão e patrocínio?
Gilvan: Crescendo a sua marca dá para competir. Já somos a quinta maior torcida do Brasil, segundo a pesquisa do Ibope. Isso significa que a televisão paga pela quantidade da torcida, pela força da marca, pelo pay per view vendido. Quanto mais se ganha títulos mais adeptos você consegue. Aprendemos que as crianças torcem pelo time que está ganhando, nenhuma criança gosta de torcer pelo perdedor. Nossa torcida aumenta proporcionalmente quando ganhamos títulos. É muito bom o trabalho que vem sendo feito no nosso marketing. Agora, expandindo em outros esportes, a nossa marca vai crescer mais ainda. Aí fica a obrigação da televisão pagar mais. Ainda ficamos longe da força de Flamengo e Corinthians, mas já estamos igualando e ultrapassando times que já foram maiores que o Cruzeiro. Hoje, estaticamente já são menores.
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