Esquerdinha chega aos 45 anos na ativa, mira 50 e quer recorde de clubes
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Você lembra do Esquerdinha? Faltou muito pouco para ele virar parte importante da história do futebol brasileiro como campeão da Copa do Mundo de 2002. Muito pouco mesmo! Convocado por Luiz Felipe Scolari em janeiro daquele ano para um amistoso, ele acabou fora da lista de maio por um "acidente de percurso".
Talvez para compensar essa frustração, foi atrás de outras metas na carreira. Primeiro, queria ser o mais velho jogador em atividade na história do país. Agora, nesta entrevista ao LANCE!, ele revela seu novo objetivo: defender 40 clubes diferentes e se tornar o maior "cigano" do nosso futebol.
Até agora foram 34 clubes, sendo o último o Barretos, do qual decidiu sair no início de março. Prestes a completar 45 anos, o meia conhecido pelas passagens por Santos, São Caetano, Botafogo e – claro – Seleção Brasileira, jogou sete partidas da Terceira Divisão do Campeonato Paulista em 2015 e marcou um golaço em uma delas. O problema é que ele ficou irritado com um treinador que não dava chance aos veteranos e pediu para ir embora.
– Achei errado mandar o treinador embora, aí entrou um que não resolveu nada e eu decidi sair em solidariedade. Ligaram para mim pedindo para voltar, mas não me arrependo – desabafa o veterano revelado pelo próprio Barretos, em 1992.
Esquerdinha ainda tem contrato com o Barretos, mas dificilmente retornará. Ele quer o 35º clube, para chegar mais rápido à marca desejada e superar o preconceito contra os jogadores mais velhos.
– Você ainda vai me entrevistar de novo. Quando eu entrar no Livro dos Recordes, quando eu chegar no time 40 e quando eu estiver jogando com 50 anos. E bem! – diz, revelando outra meta que criou há pouco.
– Eu vi a entrevista de vocês aí com o Muller. O camarada vai voltar a jogar com 49 anos, deve ser para me desafiar! Vou ter que buscar ele, né, fazer o quê? – diz, aos risos.
Você lembra do Esquerdinha?
BATE-BOLA com ESQUERDINHA
Meia, de 44 anos, ao LANCE!
Você voltou depois de 23 anos para o clube onde foi revelado. Por que já saiu?
Houve um acordo lá, porque trocaram de treinador e a coisa afundou. Li hoje (quinta-feira) que já trocaram mais duas vezes de técnico na A3. Ou seja, planejamento nenhum.
Mas teve um diretor que te acusou de estar mal fisicamente. Teve algo disso?
Mal fisicamente? Problema físico de quem? Joguei sete de oito jogos, o preparador físico não me deixava de fora. Isso é desculpa desse diretor, é conversinha. A questão é que o segundo treinador quis afastar os jogadores experientes, só colocava na furada. Quando estava perdendo é que eu entrava. Achei muito desumano.
Acha que isso acontece porque existe preconceito com os jogadores mais velhos no país?
Existe muito preconceito, não é pouco. Não é desqualificando os mais novos, mas nós experientes damos força, ajudamos e resolvemos. Se eu fosse treinador contrataria os experientes. Olha o Muller aí, que vai voltar. Ele joga dez minutos, pega três vezes na bola e resolve o jogo. Os treinadores têm que abrir a mentalidade. Olha Zé Roberto, Rogério Ceni, Paulo Baier, Aloísio Chulapa...
O Muller deu uma entrevista aqui ao LANCE! dizendo que ele ajudará com experiência no novo time. Pensa assim também?
Eu li isso aí. Mas para mim é sempre como se fosse o começo. Eu sei que logo vou ter que parar, mas independentemente da idade me sinto sempre começando. Quando cheguei ao Barretos com uma semana já tinha feito dois jogos, uma vitória e um empate, sem ficar fora de nenhum treino. Isso só acontece porque eu me cuido muito, gosto de treinar, tenho muita vontade de ir para um treino. Além disso não tenho vício de nada, durmo cedo e não bebo refrigerante há dez anos. Eu tenho exemplo a dar.
Mas os companheiros pegam no pé por causa da idade?
No grupo faziam direto provocação, "ah, vovô, vovozinho". Mas eles se inspiram em mim. Com essa idade é difícil continuar. Eu me cuido e falo disso para eles, de saber se alimentar, de se cuidar. O Barretos também tinha contratado o Osny, atacante, mas esse está garoto ainda. Tem 39 anos. Acho que as próximas gerações só vão poder se alongar ainda mais se forem inteligentes.
Não ter jogado a Copa do Mundo de 2002 é uma frustração?
Ah, cara, mas é lógico. Até difícil falar disso... Mas eu fui convocado dois meses antes da Copa do Mundo, estava crente que ia ser chamado, e o objetivo era esse. Depois que fui pensar que podia ter sido chamado antes, para ter uma sequência e colocar um pé lá... Mas na hora a gente só consegue ficar puto mesmo.
Por que o Felipão te testou tão perto da Copa e não chamou?
Foi mais ou menos um teste, né? Porque foi só um amistoso com a Bolívia. Mas na época o pessoal tinha muito preconceito com quem estava surgindo no São Caetano. Ou você acha que outros também não mereciam? Adãozinho? César? Adhemar? Ninguém acreditava no São Caetano, desconfiavam da nossa qualidade, da nossa subida rápida. Eu acho que podia ter sido chamado, mas é a vida. Essas coisas acontecem.
Você saiu para jogar no Santos, depois no Botafogo e viu de longe a queda do São Caetano, hoje na Série D. O que aconteceu?
Era uma equipe muito boa que se juntou. Todos simples, humildes, do interior, mas com o objetivo definido de vencer. O clube deu uma caída porque começou a investir muito alto, perdeu a essência. Ainda teve a morte do Serginho que terminou tudo. Na época eu só não fiquei porque não me deram aumento, porque os salários eram uma verdadeira mixaria, cara.
Aí aconteceu tudo no mesmo ano: Santos, Seleção, Botafogo. Foi um ano muito agitado, né?
Foi sim, foi sim. Vim emprestado para o Santos no início de 2002 e com duas semanas fui chamado para a Seleção. Duas semanas. Aquilo me minou lá dentro, com os companheiros. Depois acabou o contrato no meio do ano e acertei com o Botafogo. O problema é que o Botafogo estava todo enrolado, cheio de dívida... Aí não teve jeito, caímos.
O Botafogo ainda te deve?
A quem o Botafogo não deve? Meu salário está lá até hoje, nunca recebi.
Muitos times te devem salários?
Bom, joguei em 34 clubes. Acho que uns 40 me devem salário.
E de onde nasceu esse objetivo de jogar em 40 clubes? É algum tipo de recorde ou objetivo?
Sou sempre alegre, não desisto nunca e faço minha carreira por etapas. Traço uma meta, um objetivo, alcanço, e já traço outro. No Brasil não deve ter 50 jogadores acima dos 40 anos. Eu consegui. E levo também a visibilidade para eles, porque tem muito jogador experiente que quer jogar ainda, mas ninguém olha. Eu tenho responsabilidade de jogar bem e aí vão olhar e os treinadores vão mudar de ideia. A gente ajuda dentro de campo, resolve jogo, tem liderança, sabe lidar com arbitragem, irritar o adversário. Ser velho é bom.
As pessoas do meio do futebol estão te levando a sério nesse projeto?
Não tenho tanto clube à toa. Tenho é muita vontade de ajudar, de jogar, de treinar. Não preciso provar nada para ninguém, mas quando veem o desenvolvimento já mudam de opinião. Eles se surpreendem: 'Como pode correr tanto nessa idade?'.
E como pode?
É só ver que eu estou treinando aqui na academia hoje, sozinho, em Luziânia (GO). É meu maior prazer. O 35º clube não demora a chegar. Você vai falar comigo de novo.
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