Confira os bastidores da queda de Adilson
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A fome com a vontade de comer. É assim que pode ser definida a saída de Adilson Batista do cargo de treinador do Corinthians, confirmada no domingo, após o revés para o Atlético-GO (4 a 3), em casa.
O treinador não sentia o mesmo respaldo da diretoria e achava que, a qualquer momento, teria de sair. O presidente Andrés Sanchez e o diretor de futebol, Mário Gobbi, por sua vez, não concordavam com várias de suas atitudes nas últimas semanas e evitaram respaldá-lo com a intensidade de outrora.
Um encontro no vestiário, já com a presença do capitão William, selou uma decisão que já estava tomada por Andrés. O presidente jamais havia deixado sua cadeira na Área VIP antes do fim de um jogo. Ao ver sua equipe levar o quarto gol, ele levantou-se e foi embora.
Durante a caminhada até a saída, fez um desabafo ao lado do colunista do LANCE! Benjamin Back.
– A maionese desandou...
Naquele momento, o mandatário já estava com a decisão tomada, ainda mais com o "respaldo" que a pressão da principal torcida organizada do clube concedia a ele. Por telefone, Andrés avisou Gobbi, que retransmitiu a Adilson e William.
– Não existia mais confiança. Eles conversaram com Adilson, tentaram alertar que algumas das suas escolhas eram equivocadas, mas o treinador não ouvia ninguém. Tomava a decisão e pronto – afirmou ao LANCE! uma pessoa próxima a Andrés.
E quais os motivos para a quebra de confiança entre treinador e diretoria? Dentro e fora de campo, diversas atitudes de Adilson bateram de frente com Andrés e Gobbi. Algumas delas, para piorar a situação do treinador, ainda contavam com a reprovação da torcida. A titularidade de Thiago Heleno, que atuando desde o início em quatro jogos não ganhou nenhum, foi a gota d'água no Parque São Jorge.
– Em uma conversa depois do jogo, ontem (domingo), ambas as partes acharam que seria melhor a retirada dele. Infelizmente, o futebol tem essas desilusões – confirmou Andrés.
Outros fatores contribuíram para a saída de Adilson, inclusive, relativos ao relacionamento com membros da comissão técnica.
Os motivos da queda precoce de Adilson Batista no Timão
Esquema tático
Ser ofensivo com todos os titulares à disposição era visto pela diretoria do Corinthians como uma evolução em relação ao trabalho de Mano Menezes. Uma virtude que, na visão de Andrés, Mário Gobbi e muitos torcedores tornou-se um grande equívoco em meio à maratona de jogos e, principalmente, às ausências de tantos titulares. Jogar menos exposto, em meio aos inúmeros problemas, era visto como obrigação. Adilson, porém, manteve o esquema superofensivo. E aí...
Thiago Heleno x Paulo André
Os jogos contra Fluminense (Engenhão), Santos (Vila Belmiro) e Internacional (Beira-Rio) eram considerados os mais complicados para o Corinthians no último mês. Com Paulo André e William na zaga, a equipe venceu os dois primeiros e empatava o terceiro até aos 48 minutos do segundo. Adilson aguardou a melhora de Thiago Heleno, que sofria de gastrite, e o colocou como titular, revezando os outros dois ao seu lado. Resultado: quatro jogos (Botafogo, Ceará, Atlético-MG e Atlético-GO) e nenhuma vitória. No último domingo, Adilson cortou Paulo André, deixou Chicão no banco e manteve Thiago ao lado de William. No intervalo, em vez de refazer a dupla titular de três anos, tirou o capitão para colocar Chicão. P.S: torcida já havia pegado no pé de Heleno desde a escalação no placar.
Desgaste com os líderes do grupo
Ao preterir Paulo André para colocar Thiago Heleno, que era reserva imediato da dupla de zaga titular, Adilson desagradou os principais líderes do grupo corintiano. Ronaldo, Roberto Carlos, Elias, William e Dentinho formaram uma amizade estreita com Paulo André nos últimos meses, com direito a rodadas de pôquer nas respectivas residências. Não houve nenhuma rebelião nem motim contra o treinador, mas a situação causou estranheza e deixou os líderes do grupo irritados.
Fama de Professor Pardal
Zagueiro por atacante. Lateral por um meia. Com a cabeça na ofensividade, somado aos problemas médicos e de cartões, Adilson optou pelo improviso em determinados jogos. Fez do meia Danilo e do zagueiro Leandro Castán os substitutos de Roberto Carlos na lateral esquerda; colocou Bruno César como atacante pelo lado direito, recuando Jorge Henrique para o meio-de-campo, entre outras mudanças nada convencionais.** Bruno, por exemplo, chegou a vir a público para reclamar.
Pressão da Gaviões da Fiel
A cobrança dos líderes da maior uniformizada do clube, que foram ao CT Joaquim Grava, influenciaram na decisão de Adilson de sair e na decisão de Andrés de mandá-lo embora. Mas não foi decisiva, ao contrário do que muita gente pensa. Prova disso é que, um dia após a queda na Libertadores, 20 membros da Gaviões foram à sala da presidência e pediram a cabeça de Mano Menezes. Andrés não apenas manteve o treinador como, horas depois, anunciou a renovação de seu contrato. Uma prova de confiança no trabalho do atual comandante da Seleção. Uma prova de falta de segurança e confiança no trabalho de Adilson.
Sombra de Mano Menezes e Parreira
Torcida, diretoria e conselheiros jamais esqueceram do atual treinador da Seleção Brasileira. Ao deixar a equipe na liderança do Brasileirão-10, com mais de 70% de aproveitamento, o treinador era motivo de comparação com Adilson a todo momento. A iminente chegada de Parreira como coordenador das categorias de base do clube, que estava pré-agendada para janeiro de 2011, era analisada por Adilson como um perigo iminente. Prova disso é que, em sua última entrevista coletiva, afirmou: "Quem sabe o Parreira não assume no meu lugar?".
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