Alojamento é arma do Barça até para segurar promessas

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Parte do sucesso da cantera barcelonista se explica pela La Masía, tradicional alojamento do clube para garotos de fora da cidade. Mais do que oferecer conforto às promessas, o local tem o objetivo de inseri-las na cultura do Barça – e, assim, até protegê-las.
Inaugurada em outubro de 1979, a La Masía fica ao lado do Camp Nou. A casa possui dois andares e abriga 60 garotos. Destes, 12 dormem no local; os demais, em quartos no interior do estádio. Todos, porém, usufruem da estrutura da escola-residência, com refeitório, vestiários e sala de convivência.
Nos corredores do Barça, no entanto, o que se considera mais valioso na La Masía é intangível. Enquanto vivem no local, os garotos absorvem valores da cultura catalã e entendem a importância esportiva, social e até política do clube para a região no Norte da Espanha.
– Estando próximos ao time principal, eles se acostumam com a pressão. É mais fácil intimidar os jovens de um outro clube do que os nossos – afirma Albert Benaiges.
Na escola que frequentam pela manhã (à tarde, treinam), aprendem o catalão. A língua é fundamental, mesmo porque é utilizada na redação de todos os contratos do clube. O desempenho acadêmico também é exigência para permanência dos garotos na La Masía.
– Estive em La Masía por seis anos. Eles encucam valores como companheirismo e humildade. Há muita disciplina – diz o ex-jogador Luis MIlla, atual técnico da seleção sub-21 da Espanha.
O estreitamento de laços dos jogadores com o Barça acaba por deixá-los mais imunes ao assédio de agentes e clubes. Prova disso é que boa parte das jovens promessas sequer possui contrato profissional – é o caso do meia Thiago Alcántara, apontado como sucessor de Xavi.
A capacidade de formação de talentos se ampliará no meio do ano. Será inaugurada a nova La Masía, localizada no CT do Barça. Esta será dez vezes maior do que a atual e terá capacidade de receber 122 jogadores. O custo da obra é de oito milhões de euros (R$ 18,3 milhões).
Confira bate-bola exclusivo com Luis Milla, que viveu na La Masía no início dos anos 80:
LANCENET!: Qual a importância que a La Masía teve na sua carreira?
LUIS MILLA: Teve uma grande importância. Lá, eu me formei como jogador e, principalmente, como pessoa. Você também está do lado do estádio, respira futebol o tempo todo.
LNET!: Sobre esse lado da formação como pessoa, é mesmo um grande diferencial do clube?
Sim, porque não são todos aqueles garotos que se tornarão profissionais, que irão viver do futebol. Lá, passam valores que irão ficar para toda a vida.
LNET!: Vocês podiam receber a visita de amigos e familiares?
Sim, não havia problema. Os que eram do subúrbio ou de cidades próximas estavam sempre próximos da família. Os garotos que eram de lugares mais distantes tinham contato no fim de semana, quando os jogos e as atividades eram todos abertos.
LNET!: Naquela época, o estilo de jogo da base já era idêntico ao do time principal, como é hoje?
Não era tanto assim. Havia muitas mudanças de treinador. Queriam resultados, não se perseguia um conceito de jogo e de trabalho. Isso só se consolidou quando Cruyff assumiu o time principal, em 1988. Ele levou tudo o que fazia lá em cima para a cantera. Desde então, vem sendo assim.
LNET!: Como técnico da seleção sub21 da Espanha, você percebe que o Barça é, de fato, diferenciado?
O importante no Barça é que todos sabem que é um clube que valoriza a base. Os garotos sabem que, se tiverem qualidade, poderão seguir um caminho e chegar lá em cima. É importante, pois isso motiva muito eles. São ambiciosos, querem fazer as coisas bem. Esse é o segredo.
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