OPINIÃO: Ceni se foi… E o São Paulo? Novos ares podem não dar conta dos problemas estruturais do clube

Mais que treinador, ex-goleiro se valia da idolatria para responder por praticamente todas as áreas do Tricolor. Resta saber se o substituto está disposto a assumir o papel de manager involuntário

Rogério Ceni e Charles Hembert
Ceni durante treinamento do Tricolor neste ano, no CT (Foto: Divulgação)

Escrito por

Está frio, o café acabou e me peguei cochilando em diversos momentos enquanto cumpria um pedido da chefia para buscar algum elemento sobre os últimos 18 meses do São Paulo treinado por Rogério Ceni, demitido na tarde desta quarta-feira (19). Estagnado na criatividade resolvi buscar respostas nas coletivas concedidas pelo ex-goleiro no período exato de quase um ano em que sou um dos responsáveis pela cobertura do clube do Morumbi neste LANCE!. E um estalo me veio. É impressionante a desenvoltura do eterno ídolo são-paulino de preencher um espaço que em tese não seria seu: o de explicar quase tudo sobre o cotidiano.

Não é algo necessariamente inédito. Afinal, já usei esse espaço após o caso Marcos Paulo vir à tona de como o São Paulo é um clube à mercê das boatarias pela completa inabilidade de seus dirigentes em se posicionar publicamente sobre qualquer assunto que seja, dos delicados aos usuais. 


+ Comentaristas aumentam o tom em discussão ao vivo: relembre outras tretas no jornalismo esportivo

Senão vejamos, há exatos oito dias atrás, em uma rara entrevista, o diretor de futebol Carlos Belmonte garantia a permanência de Ceni no comando. O que mudou em apenas uma semana? Sendo que a sombra de Dorival Júnior sempre pairou sobre o Morumbi desde a eliminação no Campeonato Paulista. Mas aquilo que os offs escondem, alguns setores internos agiam para desmentir. Se tornou recorrente a profusão de informações diferentes. Cabia ao torcedor escolher a que mais lhe fosse palpável. E a Ceni perder boa parte das suas entrevistas para explicar os fatos...

Não entendam esse texto como uma defesa de Ceni. Evidente que havia problemas escancarados no trabalho. Mas o quanto a disposição do ex-goleiro pode ter sido abalada por treinar e mobilizar um elenco envolto em polêmicas. E visivelmente desamparados.

Coube a Ceni nesse quase um ano explicar aos jornalistas contratações, saídas, dificuldades financeiras, atrasos de salários, problemas em renovações contratuais, questões estruturais, brigas internas, processo sucessório do presidente Julio Casares, jogador acusado de agredir namorada... Sempre com rara elegância e coerência entre seus pares no ambiente quase bélico criado atualmente entre repórteres e treinadores nas malditas coletivas.

Que o Ceni ídolo era um escudo à diretoria, é uma alcunha sombria que dificilmente será quebrada no caminho entre os dois lados. Uma faca de dois gumes e uma responsabilidade excessiva ao homem pago para treinar e escalar o time. Relação penosa que novamente termina de maneira infeliz, seja pela exposição danosa ao ídolo e firmeza do treinador ainda iniciante.

Sem Ceni e o peso de suas falas e atitudes, resta saber se o sucessor, sem a mesma caminhada e familiaridade dos bastidores no Morumbi, estará disposto a assumir a mesma responsabilidade, mas sem o peso da exposição e a guarita da idolatria. É esperar... 2023 começou, enfim ao Tricolor e seus cartolas.

+ Confira os jogos e classificação do Brasileirão-23 na tabela do LANCE!

News do Lance!

Receba boletins diários no seu e-mail para ficar por dentro do que rola no mundo dos esportes e no seu time do coração!

backgroundNewsletter