O dia em que o São Paulo foi soberano: Amoroso relembra os 20 anos do Mundial de 2005
Há 20 anos, o São Paulo conquistava seu terceiro título mundial

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Há exatos 20 anos, o mundo foi pintado de preto, vermelho e branco. Em 18 de dezembro de 2005, o São Paulo venceu o Liverpool por 1 a 0 e conquistou o tricampeonato mundial. Para relembrar aquela conquista e a temporada em que o Tricolor se consolidou como "soberano", o Lance! conversou com exclusividade com Amoroso, titular e peça fundamental da campanha histórica.
Antes de tudo, é preciso voltar no tempo. Voltar à história de um São Paulo que, ao ser comparado com o de hoje, parece distante, mas segue extremamente vivo no imaginário da torcida. Tudo isso em um contexto diferente. Naquele ano, a Fifa passou a assumir integralmente a organização do Mundial de Clubes, após anos dividindo a promoção do torneio com a Uefa e a Conmebol. Com um novo formato, reunindo campeões de todos os continentes, a competição iniciava uma nova era, marcada pela presença do Tricolor logo em sua primeira edição sob esse modelo.
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Após conquistar a Libertadores em uma final contra o Athletico-PR, o São Paulo já mirava algo ainda maior, o terceiro título mundial.
A caminhada começou em uma fase preliminar diante de um representante da confederações asiática. Na semifinal, um duelo que entrou para a história contra o Al-Ittihad, da Arábia Saudita. Foi ali que Amoroso brilhou. Na vitória por 3 a 2, marcou dois gols que mantiveram vivo o sonho são-paulino. O terceiro gol foi anotado por Rogério Ceni.
Segundo Amoroso, o elenco deixou a Libertadores já com o Liverpool na cabeça como provável adversário da decisão. Na época, o Al-Ittihad era praticamente desconhecido, tanto pela distância geográfica quanto pela dificuldade de acesso a informações, algo muito diferente da realidade atual.

- Na realidade, a gente tinha treinado depois da Libertadores para enfrentar o Liverpool. Sabíamos como enfrentar um time favorito ao título do Mundial, pela trajetória deles tanto na Champions League quanto no Campeonato Inglês. Só que não esperávamos a dificuldade que encontraríamos na semifinal contra o Al-Ittihad, até porque, naquela época, não tínhamos tantas informações do clube como se tem hoje - contou Amoroso.
- Acreditávamos no nosso talento e na força do elenco para ganhar o jogo com tranquilidade, mas não foi o que aconteceu. Tivemos dificuldades, em alguns momentos ficamos expostos a uma possível virada do Al-Ittihad, e conseguimos terminar o primeiro tempo empatados em 1 a 1. Graças a Deus, consegui fazer dois gols, dando um pouco mais de tranquilidade ao time naquele momento mais complicado. - completou.
A final contra o maior campeão europeu da Inglaterra
O Liverpool de 2005 impunha respeito. A última vez que o São Paulo havia levantado um troféu de tamanha relevância fora em 1993, em um cenário completamente diferente, com outro elenco e outros protagonistas. Desta vez, a missão estava nas mãos de nomes que se tornariam ídolos, como Paulo Autuori, Rogério Ceni, Amoroso, Mineiro, entre tantos outros.
A equipe inglesa era experiente, competitiva e mentalmente muito forte. Um time repleto de estrelas, com Xabi Alonso, Gerrard e o comando de Rafa Benítez. Ciente do desafio, o trabalho psicológico conduzido por Autuori começou ainda no avião, como relembrou Amoroso.
— A gente já sabia que, chegando à final, enfrentaríamos um grande clube, como o Liverpool. O Paulo Autuori trabalhou muito bem, e a comissão técnica teve papel decisivo no aspecto mental da equipe. Assistimos ao jogo deles no dia seguinte, contra o Saprissa, se não me engano, e ficou claro que não poderíamos cometer faltas perto da área. Precisávamos disputar a segunda bola, embora também fosse um time com fragilidades, principalmente na linha de impedimento — relembrou Amoroso.
A decisão foi disputada no Japão, do outro lado do mundo, em outro fuso horário e sob uma cultura completamente diferente. Em uma noite fria, o São Paulo foi a campo com Rogério Ceni; Cicinho, Fabão, Edcarlos, Lugano; Junior, Mineiro, Josué, Danilo; Amoroso e Aloísio.
Mais do que competir, o São Paulo foi superior aos ingleses na etapa inicial, e o gol foi o reflexo dessa atuação. Em uma jogada bem trabalhada, Fabão fez o lançamento, Aloísio, recém-chegado ao clube, dominou e encontrou Mineiro, que finalizou com precisão para abrir o placar. Uma frieza e eficiência que Amoroso fez questão de destacar.
— O gol saiu com a entrada surpresa do Mineiro nas costas da zaga. Treinamos para não conceder nada a eles, mas é impossível enfrentar uma grande equipe por 90 minutos sem cometer erros ou dar espaços — relembrou.
Entre tantos destaques, Rogério Ceni teve uma atuação que o colocou em um patamar reservado a poucos no futebol mundial. Um verdadeiro mito. No segundo tempo, atrás no placar e pressionado pelo favoritismo, o Liverpool avançou e passou a atacar com intensidade. Ainda assim, encontrou uma defesa são-paulina firme e, quando conseguiu finalizar, parou em Rogério Ceni. Foram dez defesas em uma atuação simplesmente surreal.

— Em alguns momentos, o Rogério nos salvou, especialmente nas bolas paradas, que eram muito fortes no Liverpool. A ideia era marcar um gol e sustentar o resultado até o fim. Quando conseguimos balançar as redes com o Mineiro, todo mundo se entregou para lutar até o último minuto — completou Amoroso.
Assim, o clube da fé consolidou sua história e se tornou soberano. Campeão do mundo pela terceira vez.
Festa da torcida do São Paulo
A taça foi conquistada do outro lado do mundo, mas foi recebida no Brasil com uma festa que se tornaria inesquecível. Em São Paulo, a torcida se reuniu em massa para celebrar, e a exibição do troféu pelas ruas da cidade ganhou destaque, tornando-se capa dos maiores jornais internacionais, incluindo o próprio Jornal Nacional. No aeroporto, a euforia estava visível, com milhares de fãs esperando pela chegada dos campeões.
No trio elétrico, o "Time de Guerreiros" desfilava com os uniformes do Tricolor e o troféu nas mãos, sendo aplaudido por mais de 10 mil pessoas. Amoroso, em entrevista ao Lance!, relembrou aquele momento único.

- Naquele momento, a gente não sabia o tamanho dessa importância até chegar ao Brasil. A gente conquistou, estava no estádio, no vestiário, no avião. Quando chegamos a São Paulo, tivemos a noção do feito que tínhamos conseguido, junto da torcida tricolor, da Nação São-Paulina. Não é fácil ganhar o Mundial de Clubes. Você enfrenta grandes equipes do futebol brasileiro para se classificar para a Libertadores, precisa ganhar a Libertadores, que é uma competição muito difícil, com viagens que às vezes te desgastam pela distância, pela altitude, por partidas completamente diferentes de quando você joga, por exemplo, uma Champions League, em que as viagens são curtas - relembrou.
- Você chega ao Mundial para enfrentar o melhor time da Europa. E, depois de 20 anos dessa conquista, você percebe algo incrível, impressionante, algo que vai além do que a gente imaginava. Ganhar o Mundial de Clubes contra a melhor equipe do continente europeu é algo que vai permanecer na memória do torcedor são-paulino por muitos e muitos anos. A gente espera que o São Paulo possa voltar a ganhar títulos importantes, porque é um clube que tem tradição e respeito dos adversários, principalmente em competições internacionais - completou Amoroso.

20 anos depois...
O São Paulo enfrenta uma realidade totalmente diferente. Agora, 20 anos depois, o cenário é outro. Há 20 anos, o Tricolor não conquista uma Copa Libertadores. Jejuns de títulos, dívida, polêmicas políticas... São cenários opostos, que neste ponto de vista, se assemelham até mesmo a equipes completamente diferentes. Quem viveu 2005, praticamente não reconhece 2025. Amoroso explicou ao L!, sobre seu olhar de ídolo e ex-atleta, por onde passam estas diferenças.
Vinte anos depois de uma conquista que se tornou símbolo de excelência e competitividade, o debate sobre os caminhos do São Paulo volta à tona. Entre planejamento, identidade e escolhas no mercado, a reconstrução passa por decisões que vão além do orçamento. É nesse contexto que surge a reflexão sobre como equilibrar tradição e realidade, formando equipes capazes de sustentar a pressão da camisa tricolor e competir em alto nível, mesmo diante de adversários financeiramente mais poderosos.
- Acho que é um pouco de tudo. Valorização da base, contratações pontuais para cada posição, atletas que realmente não sintam o peso da camisa do São Paulo, jogadores que, em partidas importantes, façam a diferença. Faltou ao São Paulo assumir mais responsabilidade, sobretudo por parte de atletas de renome, que chamassem a responsabilidade para fazer com que o clube voltasse a ganhar títulos e competisse de igual para igual com equipes hoje financeiramente mais fortes, pela situação que o clube atravessa. Com elenco reduzido, é preciso contratar com assertividade - finaliza Amoroso, que atendeu a reportagem em ligação.
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