Análise: São Paulo muda estilo para Diniz não virar Dom Quixote

Técnico diz que não vai insistir no modelo de jogo preferido quando perceber que ele é benéfico ao adversário. Na Ilha do Retiro, um São Paulo mais pragmático conseguiu vencer

Sport x São Paulo - Diniz
Fernando Diniz não quer ser o Dom Quixote do Morumbi (Foto: Rubens Chiri/saopaulofc.net)

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"Eu não fico idealizando uma coisa como Dom Quixote, uma coisa que não vai acontecer". Foi assim que Fernando Diniz começou a explicar a postura mais retraída do São Paulo na vitória por 1 a 0 sobre o Sport, nesse domingo, na Ilha do Retiro. Pressionado pelas recentes más atuações, o time abriu o placar logo no começo e, principalmente no segundo tempo, posicionou-se atrás da linha da bola para correr poucos riscos e assegurar os três pontos, algo bem diferente do jogo corajoso que o treinador tanto aprecia e tenta implementar.

Dom Quixote é o personagem que dá nome ao clássico livro de Miguel de Cervantes, publicado pela primeira vez em 1605. Trata-se de uma figura que, de tanto ler romances de cavalaria, passou a viver uma realidade paralela, como se fosse um cavaleiro medieval vivendo na Era Moderna.

Fernando Diniz não acha que está fora de órbita ao tentar construir um time propositivo, que sai jogando pelo chão, gosta de ter a bola e tenta agredir o adversário durante a maior parte do tempo, mas provavelmente sabe que o São Paulo está longe de transformar tudo isso em realidade - já esteve mais perto, imediatamente antes da pausa do futebol, mas retrocedeu muito e entrou em crise. O jogo pragmático em Pernambuco é um sintoma disso.

Alguns traços do estilo preferido do treinador foram vistos no primeiro tempo. O time apostou bastante na saída de bola pelo chão e atraiu a primeira linha de marcação do Sport para perto de sua área. Aos cinco minutos, Volpi foi inteligente ao perceber que havia apenas dois jogadores no campo de defesa do adversário e, com uma bola longa, gerou uma situação de mano a mano perfeita para Luciano servir e Pablo concluir em gol.

Um pouco mais tarde, uma sequência de passes bem dados fez o São Paulo transpor rapidamente as duas primeiras linhas de marcação da equipe pernambucana e abriu o campo para o lateral-direito (Igor Vinícius) conduzir a bola para o meio com liberdade e acionar o lateral-esquerdo (Reinaldo) em condições de finalizar e exigir boa defesa de Mailson. Em um outro lance, o próprio Igor apareceu como elemento surpresa para receber de Daniel Alves e chutar em cima do goleiro a melhor chance de fazer 2 a 0.

Foram boas jogadas, mas poucas. Suficientes para construir uma vitória contra um Sport frágil que provavelmente brigará só para não ser rebaixado, mas talvez não o bastante para ser competitivo contra o Athletico-PR, adversário de quarta-feira, às 19h, no Morumbi.

Diante do Sport, bastou manter a marcação encaixada durante todo o segundo tempo para correr pouquíssimos riscos e assegurar os três pontos - a melhor chance da equipe da casa foi um chute na trave originado por um erro de Volpi na saída de bola ainda no primeiro tempo. Contra um adversário mais forte, abrir mão da posse de bola e apostar na marcação talvez seja perigoso demais.

Achar o equilíbrio entre agredir e correr riscos é o desafio do São Paulo. Contra Fortaleza e Sport, nas duas vitórias que conseguiu até agora no Brasileirão, o time atacou o suficiente para marcar um gol e se defendeu o suficiente para não tomar. Contra Vasco e Bahia, quando tentou ser mais incisivo e se aventurou mais, foi pouco efetivo no ataque e deixou muito espaço na marcação. 

O primeiro tempo na Ilha do Retiro pode ter dado uma pista da postura ideal. Ao contrário dos jogos contra Vasco e Bahia, o São Paulo não subiu tanto a sua primeira linha para pressionar a saída de bola rival. A busca por tomar a bola bem perto do gol, embora tenha gerado uma pressão inicial nessas duas partidas anteriores, cansou os homens de frente e mostrou-se falha à medida que os meio-campistas foram pouco combativos. Ao não conter a construção adversária com a primeira pressão e deixar o portador da bola geralmente livre na zona central do campo, o Tricolor expôs sua dupla de zaga, normalmente bem adiantada, aos contra-ataques.

Muitos torcedores concluíram que Diniz trocou Bruno Alves e Arboleda por Diego Costa e Léo para corrigir esse problema, que não é causado por eles, mas pelo sistema. Mas o técnico explicou que as trocas foram pensando na saída de bola e disse que, da maneira como a equipe se comportou, Arboleda e Bruno provavelmente teriam sido seguros como a nova dupla foi.

Ele fez outras duas alterações na formação inicial. A presença de Gabriel Sara na vaga de Liziero contribuiu mais por recuar Daniel Alves e permitir que ele participasse da saída de bola, um ponto forte da equipe que havia se perdido, do que pela participação ofensiva do jovem, ainda muito instável. Já Luciano, que substituiu Igor Gomes, dificilmente sairá da equipe. Talvez o ideal, imaginando que Igor Gomes retome o bom rendimento, seja devolvê-lo ao time na vaga de Sara.

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