Palmeiras é Brasil no Mundial? Em 1951 o clube foi; entenda

Na competição conquistada pelo Verdão há mais de 70 anos, o Maracanã cantou "Brasil, Brasil, Brasil" para os palmeirenses, que bordaram a bandeira do país em suas camisas

Palmeiras - Mundial de 1951
Detalhe da bandeira do Brasil bordada acima do símbolo do Palmeiras na final de 1951 (Foto: Reprodução/Palmeiras)

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Na tarde deste sábado, o Palmeiras enfrentará o Chelsea pela final do Mundial de Clubes, que está acontecendo em Abu Dhabi, nos Emirados Árabes Unidos. Milhões de brasileiros estarão na torcida, mas certamente não pelo Verdão, e sim pelos ingleses. Definitivamente, o Alviverde não é o Brasil no torneio. Mas já foi, em 1951, quando o Maracanã embalou o título mundial palmeirense.

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Atualmente, é inimaginável que torcedores rivais apoiem outro clube nesse tipo de competição. A realidade é com os famosos "secadores" e "antis" mandando todas as forças negativas possíveis para tal time perder. No entanto, no início dos anos 50, o Brasil era outro e vivia um momento completamente diferente, que envolvia a busca por uma identidade nacional por meio do futebol.

Em entrevista ao LANCE!, Fernando Galuppo, historiador e assessor de comunicação do Palmeiras, explicou o que trouxe o envolvimento do povo brasileiro com o Torneio Internacional de Clubes Campeões de 1951. No ano anterior, na Copa do Mundo, o país havia sofrido um doloroso revés ao ser derrotado na final pelo Uruguai, naquilo que foi chamado de "Maracanazzo".

- O povo brasileiro vivia um momento de bastante euforia, de bastante expectativa, em diversas áreas e diversos segmentos da vida. A questão da inauguração do Maracanã traz um sentimento de grandeza ao povo brasileiro, uma questão de autoestima, que depois o Nelson Rodrigues, com a derrota para o Uruguai, ele transfere isso para um sentimento de cachorro vira-lata, no qual o brasileiro se sentia inferiorizado em relação ao elemento estrangeiro.

- Então você passa por um momento de afirmação de identidade desse povo, vale lembrar que o grau de analfabetismo e semianalfabetíssimo da população era muito alto, quando houve toda essa movimentação tanto da Copa do Mundo, quanto do Torneio Internacional de Clubes Campeões, em que o Palmeiras foi campeão, muitas pessoas foram levadas a um impulso de se debruçarem nos jornais, nas bancas de jornal, comprarem os jornais, como o Jornal dos Sports, no Rio de Janeiro, e a Gazeta Esportiva, em São Paulo, para entenderem o que estava se passando, pessoas acabam se movimentando para uma maior instrução a partir dessa efervescência que o futebol causou naqueles dois anos entre 1950 e 1951.

Além desse contexto pelo qual passava o povo brasileiro, havia naquela competição um contingente grande de jogadores da Seleção e que tinham um certo renome no país. Esse fator também atraiu a atenção dos torcedores, não somente de palmeirenses e vascaínos, mas de outras agremiações.

- Eram dois clubes populares como o Vasco, um dos maiores Vascos da história, que era a base da Seleção Brasileira de 1950, um time fantástico, e o Palmeiras, que já tinha seus prestígios locais, era o então campeão paulista, um time com personagens importantes, que participaram da Copa do Mundo, como Juvenal, Jair da Rosa Pinto, que estavam atém acima do clube como Oberdan Cattani, que já era uma figura nacional, que tinha uma projeção de Campeonato Brasileiro de Seleções, era um goleiro emblemático.

- Outros jogadores como Canhotinho, Lima, Liminha, Luis Villa, que era um volante argentino, que tinha sido incorporado ao elenco. Então você tinha jogadores de renome, e isso fazia com que cria-se uma imagem e uma empatia, não só do torcedor do Palmeiras, mas do torcedor brasileiro de maneira geral.

A competição caminhou e o Verdão conseguiu se garantir na final contra a Juventus, da Itália, em duas partidas no Maracanã. Depois de vencer a primeira por 1 a 0, o time alviverde iria decidir a competição dependendo de apenas um empate para levantar a taça. Com a comoção que o torneio promoveu, os dirigentes palmeirenses quiseram abraçar essa brasilidade crescente.

- No caminhar da competição, você tem um evento muito bonito, que é o segundo jogo da final contra a Juventus, em que o Palmeiras, por meio de sua diretoria, faz uma movimentação junto à CBD para que o Palmeiras, no segundo jogo da decisão pudesse atuar com a camisa da Seleção Brasileira e isso é vetado, porque a CBD colocava aquele torneio como uma competição oficial e, por isso, teria que seguir as regras estipuladas.

Sem poder usar a camisa da Seleção, a solução do Palmeiras foi adaptar o seu uniforme para conter a bandeira brasileira, que foi bordada acima do símbolo do clube. 

- Como solução, isso tem imagens, o acervo é muito rico, para dar esse sentido de que o Palmeiras estava entrando em campo não só pelas questões do clube, pelos seus valores, pela sua torcida, mas também pelo povo brasileiro, o time entra no campo com a bandeira do Brasil em punho, e com a bandeira do Brasil bordada acima do escudo do Palmeiras, do lado esquerdo do peito da camisa. Isso é muito emblemático.

Em retribuição ou não ao gesto palmeirense, mas certamente movidos por um sentimento nacional, os mais de 100 mil torcedores no Maracanã foram bastante claros em sua torcida nas arquibancadas cantando "Brasil, Brasil, Brasil", ou seja, torciam para o Palmeiras, que era o representante do país naquela final de mundial diante de um time estrangeiro. Um outro mundo.

- Durante toda a partida, nas narrações e nos relatos, você percebe que a torcida, que não era em sua maioria palmeirense, eram quase 100 mil pessoas no maracanã, se tivessem 20 mil palmeirenses já seria algo muito grande. Vale lembrar que a questão do deslocamento não tinha a mesma facilidade de hoje, a maior via de deslocamento era a linha férrea, o fluxo já foi grande, mas mesmo assim a maioria da torcida era local e que se posiciona de cantar, entusiasticamente, não o nome do Palmeiras, mas sim o nome do Brasil.

- Durante o jogo e depois da conquista você ouve claramente nos registros "Brasil, Brasil, Brasil" e o Palmeiras dá a volta olímpica com a bandeira do Brasil, tem toda uma exaltação ao povo brasileiro neste momento de abertura, então todo aquele trauma que houve em 1951 de uma euforia que gerou uma grande depressão por uma derrota "inesperada" é capitalizada de maneira positiva a partir da conquista do Palmeiras ao povo, isso é estendido ao povo brasileiro.

Com um empate em 2 a 2 com a Juventus, o Verdão levou o título mundial para sua galeria de conquistas mas não foi só. Além da taça, o clube guardou para sempre o que a torcida fez no Maracanã naquele dia e mandou fazer uma placa em homenagem aos brasileiros que incentivaram o clube na competição. Hoje, essa peça está exposta na Sala de Troféus, recém-inaugurada no Allianz Parque.

- Depois da conquista do Torneio Internacional de Clubes Campeões de 1951, o clube faz um mausoléu, um marco em homenagem à torcida carioca presente no Maracanã, tem um memorial em bronze feito para os cariocas e para o povo brasileiro que apoiou o Palmeiras naquela competição. Esse pertencimento se encontra hoje na sala de troféus do Palmeiras - finalizou Galuppo.

Neste sábado, o Palmeiras está muito longe de ser Brasil contra o Chelsea, que deverá ter a grande maioria da torcida brasileira a seu favor. No entanto, como foi relatado no texto acima, há 70 anos o Verdão já teve o incentivo nacional.

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