Uma Olimpíada de cara nova

Novas provas para Tóquio-2020 animam confederações olímpicas brasileiras na busca por medalhas, mas ainda existem mais dúvidas do que certezas

Thomas Bach
AFP

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O alemão Thomas Bach, presidente do COI (Comitê Olímpico Internacional), assim que assumiu o cargo em 2013 havia prometido rejuvenescer os Jogos Olímpicos. E o plano está sendo cumprido à risca até agora. Após aprovar a entrada de cinco novas modalidades no programa esportivo para Tóquio-2020 no ano passado, o COI acertou, no começo de junho, uma nova mudança, esta bem mais radical. Com aval do comitê executivo da entidade, também foram incluídos 12 novos eventos, com foco na diversidade de gênero e aumento da presença das mulheres na Olimpíada.

Os resultados de todas estas mudanças farão com que Tóquio traga uma cara nova para a Olimpíada. Já tinha sido esta a sinalização com a entrada do surfe, skate e escalada esportiva, por exemplo. A tendência ficou ainda mais forte com a aprovação, por exemplo, da entrada do basquete 3x3, o ciclismo BMX freestyle e diversas competições mistas, como os revezamentos 4 x 400 m no atletismo e 4 x 100 m medley na natação.

O LANCE! procurou diversas confederações dos esportes olímpicos do Brasil e o próprio COB (Comitê Olímpico do Brasil), para saber quais os efeitos que esta segunda leva de mudanças aprovadas pelo COI trarão nas chances de medalhas dos atletas brasileiros para 2020. Se há muita esperança de bons resultados, também existem dúvidas sobre o que o novo cenário irá trazer para o esporte olímpico do país.

- O mundo olímpico está atento à possibilidade de entrada de novos esportes ou modalidades desde que o COI anunciou a Agenda 2020, com sugestões que buscam baratear os Jogos. O COB estuda constantemente o programa olímpico e discute as possibilidades com as confederações brasileiras, buscando oportunidades de crescimento para o Time Brasil – afirmou Jorge Bichara, gerente de performance esportiva do COB (Comitê Olímpico do Brasil).

O maior ponto de interrogação, contudo, é sobre de que forma estas novas provas poderão impactar positivamente na participação brasileira daqui a três anos, em Tóquio. Segundo Bichara, há muito trabalho a ser feito.

- Existem questões quanto ao formato das competições que ainda não estão totalmente definidas. É preciso aguardar também o sistema de classificação para os Jogos por parte de cada Federação Internacional envolvida, para termos mais clareza sobre a composição da delegação brasileira. Por serem estreantes, as novas provas/modalidades deixam o cenário aberto sem que estejam definidos grupos hegemônicos no cenário internacional. Vamos ter que trabalhar bastante para entrar nesses grupos – afirmou.

Mesmo tendo sido uma decisão recente, existe quem veja na entrada dos novos eventos uma oportunidade importante para a conquista de medalhas. É o caso de Ney Wilson, gestor de alto rendimento da CBJ (Confederação Brasileira de Judô).

- A CBJ vê de forma muito positiva a entrada da prova mista por equipes no judô. Trata-se de mais uma possibilidade real de subir ao pódio na Olimpíada. Em Mundiais por equipe, o Brasil tem apresentado bons resultados recentemente – afirmou.

Para Ricardo Prado, coordenador geral de esportes da CBDA (Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos), o recente histórico de resultados do revezamento 4 x 100 m medley, além da entrada das provas de 800 m para homens e 1.500 m versão feminina na natação, demonstra que a perspectiva para Tóquio-2020 é muito positiva.

- Tivemos ótimas atuações nestes eventos mistos no Mundial de piscina curta (25 metros), com conquista de medalhas. Além disso, nossos fundistas estão evoluindo muito nos últimos anos. Outro ponto que achei bom foi que as mudanças propostas pelo COI equalizaram as coisas, com todos sendo tratados de forma igual. É muito interessante ter uma prova com os dois sexos competindo juntos.

Algumas modalidades preferem a cautela neste momento em que as regras para cada uma destas novas provas ainda estão sendo estabelecidas.

- Neste primeiro momento, vamos trabalhar para criar condições favoráveis e conseguir a vaga para Tóquio. Precisamos manter os pés no chão e ter muita cautela. As regras devem ser reajustadas para todos – explicou José Luiz Vasconcellos, presidente da CBC (Confederação Brasileira de Ciclismo), a respeito da entrada do ciclismo BMX freestyle, uma das provas que o COI espera atrair a atenção de um público mais jovem para os Jogos Olímpicos.

- Ainda não recebemos qualquer informação da Iaaf (Associação das Federações Internacionais de Atletismo) ou do COB sobre a inclusão da prova mista do revezamento 4 x 400 m. Vamos aguardar para ter uma ideia como será o nosso planejamento – disse Anderson Rosa, gerente técnico da CBAt (Confederação Brasileira de Atletismo).

No caso do judô, apesar da expectativa positiva, as dúvidas existem também.

- Será uma novidade para todos. Nunca houve uma competição mista por equipes. O próximo Campeonato Mundial em Budapeste (28 de agosto a 3 de setembro) terá uma prova mista por equipes, por conta da aprovação do COI. Será uma maneira de avaliarmos o impacto deste tipo de evento – explicou Ney Wilson.

Este clima de incerteza também acaba influenciando no planejamento que cada confederação pretende fazer para sua modalidade com a entrada dos novos eventos no programa olímpico.

- Ainda precisamos esperar como ficará o calendário mundial. Hoje, temos competições mistas em Mundiais, Pan-Americanos da modalidade e Jogos , Sul-Americanos. Com a entrada na Olimpíada, novas competições serão criadas e isso influenciará no nosso planejamento – afirmou Lincon Yasuda, coordenador de seleções da CBTM (Confederação Brasileira de Tênis de Mesa).

A CBB (Confederação Brasileira de Basquete), que só recentemente conseguiu revogar, ao menos por enquanto, sua suspensão de competições internacionais imposta pela Fiba (Federação Internacional da modalidade) comemorou a entrada da modalidade 3x3, mas ainda espera mais informações para traçar seu planejamento neste ciclo olímpico.

- A suspensão não nos atrapalhou porque primeiro precisamos entender como serão os critérios de classificação para os Jogos de Tóquio-2020. Serão oito países, no feminino e masculino. Antes de pensar em medalha, precisamos saber como chegar até a Olimpíada – afirmou Francisco Oliveira, gerente de desenvolvimento do basquete 3x3 da CBB.


SAIBA MAIS

Conheça os eventos aprovados e demais mudanças no programa esportivo após a reunião do comitê executivo do COI em junho, de olho na Olimpíada de Tóquio-2020

Aquáticos (natação): 800 m (Mas), 1.500m (Fem), revezamento 4 x 100 m medley (Misto)
Tiro com arco: Competição por equipes mista
Atletismo: Revezamento 4 x 400 m (Misto)
Basquete: 3×3 (Feminino  e Masculino)
Boxe: Sairão duas categorias masculinas e entrarão duas femininas
Canoagem: Entrarão três categorias femininas e extintas três masculinas
Ciclismo BMX – Freestlye (Feminino e Masculino)
Ciclismo Pista – Madison (Feminino e Masculino)
Esgrima – Competição por equipes (Feminina e Masculina)
Judô – Competição por equipes (Mista)
Remo: Criação de uma categoria feminina e extinção de uma masculina
Tiro esportivo: Troca de três categorias masculinas por três mistas
Tênis de mesa: Criação de uma competição de duplas mistas
Triatlo: Criação de uma competição de revezamento por equipes mista
Levantamento de peso: Exclusão de uma categoria

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