Semenya sofre derrota na CAS e terá de controlar hormônio para competir

Bicampeã olímpica não se enquadra em novo regulamento da IAAF, devido à produção de testosterona acima da média. Meio-fundista se vê perseguida e diz que seguirá no esporte

sul-africana Caster Semenya
Ninguém conseguiu parar a sul-africana Caster Semenya nos 800m nas duas últimas Olimpíadas (Foto: Divulgação)

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A Corte Arbitral do Esporte (CAS, em inglês) rejeitou nesta quarta-feira a apelação da sul-africana Caster Semenya, bicampeã olímpica nos 800m rasos, sobre as novas regras da Associação Internacional das Federações de Atletismo (IAAF), que limitam os níveis de testosterona nas atletas em algumas provas.

A meio-fundista sofre de hiperandrogenismo, um distúrbio comum em mulheres em idade reprodutiva caracterizado pelo excesso de andrógenos como testosterona. Em julgamento por 2 votos a 1, a CAS entendeu que o regulamento da entidade máxima do atletismo é necessário, embora discriminatório.

"O painel considerou que os regulamentos são discriminatórios, mas que, com base nas provas apresentadas pelas partes, tal discriminação é um meio necessário, razoável e proporcional para alcançar o objetivo da IAAF de preservar a integridade das mulheres no atletismo nos eventos restritos", informou a CAS.

A discussão sobre a presença da sul-africana em competições acontece desde 2009, quando ela se sagrou campeã mundial dos 800m em Berlim, na Alemanha, com apenas 18 anos. Por suspeitas de que apresentava vantagens físicas, a atleta precisou se ausentar dos campeonatos por um ano, mas acabou liberada pela IAAF.

Após a decisão, Semenya divulgou uma nota em que acusa a IAAF de perseguição e prometeu que não deixará de disputar as competições. Agora, ela terá de tomar medicamentos para reduzir os seus níveis de testosterona. O grande objetivo da atleta na temporada é defender o título mundial em Doha, no Qatar, entre os dias 28 de setembro e 6 de outubro. Ela faturou o ouro na última edição, em Londres, em 2017, assim como em Daegu (COR), em 2011.

"Sei que os regulamentos da IAAF sempre visaram especificamente a mim. Durante uma década a IAAF tentou me frear, mas isso tem me fortalecido. A decisão da CAS não me impedirá (de continuar competindo). Mais uma vez vou subir e continuar a inspirar as mulheres jovens e atletas na África do Sul e em todo o mundo", prometeu Semenya.

O novo regulamento da IAAF foi anunciado em abril de 2018. O texto determinou que atletas com "diferenças de desenvolvimento sexual" reduzissem a taxa de testosterona para poder participar de competições com distâncias entre 400m e 1.500m. O argumento utilizado é de que os níveis elevados do hormônio influenciam por aumentarem a explosão muscular.

Apesar da nova decisão, Semenya manterá todos os títulos conquistados até hoje, pois no período eles estavam submetidos às regras antigas. 

De acordo com o novo texto, estão impedidas de competir as atletas que não mantiverem os níveis de testosterona abaixo de 5 nanomols por litro de sangue durante, pelo menos, seis meses antes de um evento da IAAF.

A postura da CAS indica ainda que as diretrizes em busca da igualdade de condições no esporte feminino deverão ser mais rígidas daqui para frente, o que pode ter reflexos nos debates sobre a inclusão de transexuais.

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