Português tenta digerir tragédia na Volvo Ocean Race e descarta desistir

Velejador António Fontes, do Scallywag, busca recuperar forças após perda de tripulante britânico que caiu no mar. Barco modificou procedimentos de segurança após o acidente<br>

António Fontes
António Fontes é membro da equipe Scallywag (Foto: Pedro Martinez/Volvo Ocean Race)

Escrito por

O português Antonio Fóntes, de 34 anos, nunca havia imaginado que pudesse largar para uma etapa da Volvo Ocean Race e não voltar, por mais desafiadora que seja a famosa regata de Volta do Mundo. Até a perda do britânico John Fisher, tripulante do Sun Hung Kai/Scallywag, que caiu no mar no dia 26 de março, levantar questionamentos sobre sua carreira.

Na última quinta-feira, o barco de Hong Kong chegou aplaudido a Itajaí, em Santa Catarina, de onde os sete veleiros que disputam a competição largarão para Newport (EUA), na oitava etapa. E determinado a seguir em frente.

- Não foi nada fácil. Tivemos dez dias de muitos ventos e ondas nos mares do sul. E depois tivemos o acidente, que foi devastante para todos. É difícil de engolir o que aconteceu. Fomos para o Chile entregar o barco e depois descansamos. Havia muitos amigos do John a bordo. Tentamos descansar a mente para seguir em frente - declarou o velejador.

A tragédia aconteceu a aproximadamente 1.400 milhas a oeste do Cabo Horn, no trajeto entre Auckland (NZE) e a cidade catarinense. O cenário era de ventos fortes e frio. Os tripulantes atravessam os mares com uma espécie de cinto de segurança, mas é comum que eles os soltem em determinados momentos. John se movia para a frente do barco com o objetivo de fazer um ajuste padrão, mas foi levado por uma onda.

- O John caiu no mar preso a um cabo do barco, provavelmente já inconsciente. Ventava muito, mais de 40 nós. Havia muitas ondas e nosso barco ficou totalmente tombado, o mastro tocando na água. Demoramos muito tempo para recuperar o barco. Quando voltamos para trás para procurá-lo, não o encontramos - contou o atleta.

Os tripulantes decidiram modificar os procedimentos de segurança após o episódio que levou justamente o responsável por planejar a proteção dos velejadores.

- Agora, em vez de termos só uma linha de segurança no colete, temos duas. Quando passamos por zonas como aquela, antes de tirarmos a de trás, já temos a da frente. Nunca estamos soltos. Nós faremos isso. Não sei os outros times - afirmou António.

John Fisher
Estande do Sun Hung Kai/Scallywag fez homenagem ao velejador John Fisher em Itajaí. Atletas e fãs escreveram bilhetes&nbsp; (Foto: Jonas Moura)

Barcos disputam regata costeira

A largada para Newport acontece neste domingo, às 14h (de Brasília). Nesta sexta-feira, seis dos setes barcos disputam a In-Port Race, regata que vale como desempate na classificação geral, ao final de todas as etapas. O Scallywag será a única ausência, pois terá de preparar os equipamentos para a largada.

- Temos toda a força de trabalho do The Boatyard dedicada a trabalhar nesse barco. Também temos fornecedores no local para nos ajudar com determinadas tarefas' - afirmou Neil Cox, chefe do estaleiro da Volvo Ocean Race.

A sétima etapa foi vencida pelo Team Brunel, com 15 minutos de vantagem para o vice Dongfeng Race Team. O AkzoNobel, da brasileira Martine Grael, ficou em terceiro. A liderança geral é do Dongfeng.

BATE-BOLA
António Fontes, velejador

Como era sua relação com o John Fischer?
Era boa. Era como um pai para todos nós. Sempre cuidava de todos e nos apoiava. Uma grande pessoa. No fundo, continuar a competição seria o que o John iria querer da gente. Vamos fazer isto por ele.

Em que momento aconteceu o acidente?
Estamos sempre presos, mas em alguns momentos temos de tirar a proteção. Foi precisamente nesse momento que aconteceu esse imprevisto.

Já imaginava que um dia ma tragedia como essa poderia acontecer?
Ninguém nunca imagina, embora saibamos que já tenham acontecido mortes no passado e há o risco. Mas não é algo que vem à nossa cabeça.

O acidente te fez repensar se deveria seguir velejando no oceano?
No início, bastante. Mas agora, depois de descansar um bocado, recompus as ideias e pretendo continuar, com mais cuidado e respeito.

O que significa correr a Volvo Ocean Race?
Este é o topo da carreira de um velejador profissional. Lutei muito para chegar aqui e é muito difícil. Não conseguimos passar o Cabo Horn, ao sul da América do Sul, por exemplo. Há menos pessoas que passaram por ele do que subiram ao Everest, por exemplo.

* O repórter viaja a convite da Volvo Ocean Race

News do Lance!

Receba boletins diários no seu e-mail para ficar por dentro do que rola no mundo dos esportes e no seu time do coração!

backgroundNewsletter