Fiel ao governo e sem patrocínios, japonês acumula feitos na maratona

Yuki Kawauchi garantiu na última segunda-feira um lugar de destaque para o Japão no mundo da maratona, geralmente dominado pelos quenianos e etíopes, ao vencer a prova dos 42km da Maratona de Boston, nos Estados Unidos. Mas, apesar dos resultados expressivos, o atleta de 31 anos tem uma rotina que passa longe da qualquer astro da modalidade e chama a atenção pelo estilo de vida que leva.

Na mais recente conquista, ele completou a prova em 2h15m54s, sob um frio de -3°C, com fortes ventos e chuva, e deixou para trás nomes como o americano Galen Rupp, medalhista de bronze nos Jogos Olímpicos Rio-2016, e conseguiu dois minutos de vantagem sobre o queniano Geoffrey Kurui, que o derrotou em Londres, no ano passado. 

O inusitado é que Kawauchi concilia sua preparação para disputas como essa com o cargo de inspetor em uma escola em Saitama (JAP), onde trabalha 40 horas semanais, e faz questão de manter.

Yuki, famoso por correr muitas maratonas vestido de panda, já havia chamado a atenção do mundo em 2011, ao obter o tempo de 2h08m37s para faturar a Maratona de Tóquio. Na época, não faltaram empresas interessadas em investir na carreira do atleta. Mas ele sempre recusou patrocínios, uma vez que, em seu país, funcionários públicos só podem ter um emprego. Por lá, é conhecido como "o corredor cidadão".

– Esse ambiente funciona para mim. Se eu tivesse mais tempo livre, poderia não funcionar tão bem– declarou o japonês.

Ele também não dispõe de uma equipe, com treinador, preparadores e suporte médico. Apenas recorre à acupuntura para manter o corpo em equilíbrio e fazer o que ama.

– Após uma corrida ou um treino puxado, faço um tratamento em águas termais e recorro às agulhas, tentando me livrar da fadiga. Se eu sentir muita dor, ajusto o meu treino para não ficar contundido por um longo período – contou Kawauchi.

E a regularidade se tornou marca da carreira do japonês. Em setembro do ano passado, venceu a Maratona de Oslo, na Noruega, com 2h15m57s, resultado que o colocaria no top 20 do Mundial do ano passado. Ele é recordista mundial de marcas abaixo de 2h20m, com 79 na carreira, e já avisou que pretende chegar a 100 até a Olimpíada de Tóquio-2020.

Como comparação, o título mundial da maratona no Mundial de Londres, em 2017, ficou com o queniano Geoffrey Kipkorir Kiruiu, com tempo de 2h08m27. Muitos acreditam que não seria problema para Kawauchi abaixar suas marcas e se equiparar aos resultados que o garantiriam uma medalha olímpica ou mundial. Mas essa não sua meta. Ele prefere evitar lesões, embora considere competir nos Jogos de Tóquio.

Em 2012, o atleta terminou a maratona de Tóquio em 14º lugar e não conseguiu vaga na equipe japonesa para os Jogos Olímpicos de Londres. Envergonhado, raspou a cabeça, como um pedido de desculpas para os que o apoiaram. 

Sem bolsa de organizadores para disputar suas provas, Kawauchi tem outros resultados expressivos no currículo. O japonês já venceu as maratonas de Zurique, na Suíça, e Sydney, Austrália, e foi ao pódio na de Fukuoka (JAP).