Feminista e do marketing, judoca da Seleção usa trunfos por Tóquio-2020

Bárbara Timo entra no radar do judô nacional e aumenta expectativa do país em categoria pouco badalada, incentivada por noivado. Atleta é destaque do Grand Slam de Abu Dhabi&nbsp;<br>

Bárbara Timo
(Foto: Divulgação/CBJ)

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Os trunfos de Bárbara Timo, medalhista de ouro na Universíade de Taipei, em agosto, são muitos para buscar uma vaga e a medalha nos Jogos Olímpicos de Tóquio-2020. Após uma ascensão considerada tardia no esporte, a carioca vive fase de amadurecimento, foco e metas cada vez mais ambiciosas.

Estudante de marketing da Estácio, a judoca de 26 anos não conseguiu disputar a Olimpíada do Rio de Janeiro, no ano passado. Maria Portela, principal nome até 70kg, é quem foi ao megaevento e acabou eliminada nas oitavas de final.

"As grande empresas apoiam os atletas que estão lá em cima, mas há uma base grande de atletas com potencial de imagem, como produto, que podem agregar"

Bárbara, no entanto, não saiu do radar da Confederação Brasileira de Judô (CBJ) e retornou à Seleção em janeiro, por meio da seletiva nacional. Agora, quer embalar o naipe feminino em uma categoria que, nos últimos anos, foi alvo de desconfianças.

Em 2017, além da conquista no Mundial universitário, a atleta do Pinheiros faturou o ouro no Grand Prix de Zagreb (CRO), no Paulista e no Troféu Brasil Interclubes. O próximo desafio é o Grand Slam de Abu Dhabi (EAU), a partir de hoje.

- Participei de todo o último ciclo olímpico, mas entrei um pouco tarde na Seleção, sem nenhuma experiência internacional anterior, nem treinamento. Tudo para mim foi novidade e ganhei experiência. Apanhei muito, mas me mantive lá - disse a judoca, que nos Jogos Universitários Brasileiros, em Goiânia, foi madrinha do evento na última semana.

De personalidade e opiniões fortes, apesar de discreta, Bárbara atualmente faz sessões de coach e compartilha sonhos e angústias da profissão com o noivo e judoca Marcelo Contini, da categoria até 73kg. Ambos buscam a primeira participação olímpica em 2020 e deixam as diferenças de lado.

"Estou em uma fase de aprendizado, competições toda hora, treinamento intenso e busca do meu melhor. Tenho certeza de que isso está trazendo resultados. Vou fazer de tudo para estar em Tóquio, em 2020".

- Sou muito feminista, e no início ele se assustava com algumas ideias, mas já aceita e até me apoia. Sou do Rio, gosto de funk e de sair para dançar. Ele prefere restaurante com amigos. Fazemos os dois - contou Bárbara, que defendia o Flamengo, mas se mudou para São Paulo este ano para ficar perto do noivo.

Ao lado de Marcelo, ela coloca em prática seus conhecimentos da faculdade para tentar atrair incentivo. Confessa que se esforçou para ser mais midiática e conta até com uma assessoria jurídica do ex-esgrimista Renzo Agresta. A carreira, enfim, engrenou.

- Temos projetos, buscamos empresas, mas, por ainda não termos uma medalha olímpica, as portas se fecham. Mas estamos na busca. Na minha cabeça, já sou campeã olímpica - brinca a atleta.

Mais brazucas em ação em Abu Dhabi

Para o Grand Slam de Abu Dhabi, a CBJ convocou 17 atletas (nove homens e oito mulheres). Uma das atrações é o embate entre Maria Portela e Bárbara Timo, os dois maiores destaques do time brasileiro na categoria até 70kg.

Entre os demais convocados, estão Érika Miranda, Mayra Aguiar e Rafael Silva, medalhistas no último Campeonato Mundial, que retornam ao circuito depois dos pódios em Budapeste (HUN). A campeã olímpica Rafaela Silva também está na lista e luta hoje.

As eliminatórias acontecem de madrugada. As final começam às 9h (de Brasília).

CBJ e CBDU buscam aproximação

A presença de Bárbara Timo nos JUBs na condição de madrinha do evento é só um dos sinais da aproximação entre a CBJ e a Confederação Brasileira do Desporto Universitário (CBDU). O presidente da entidade nacional do judô, Sílvio Acácio Borges, e o gestor de alto rendimento Ney Wilson estiveram em Goiânia durante os JUBs na última semana.

A modalidade é uma das que mais rendeu pódios ao Brasil na Universíade, com sete de um total de 12 obtidos pela delegação. Além do ouro de Bárbara, o país foi prata com Gabriela Chibana (-48kg) e Eleudis Valentim (-52kg), e a equipe masculina levou o bronze, assim como Vinicius Panini (-81kg), Ruan Isquierdo (absoluta) e Tamires Crude (-57kg).

BATE-BOLA
Bárbara Timo, judoca do Brasil, ao LANCE!

Como é um noivado entre dois atletas na busca por um objetivo em comum?
Esse momento é muito prazeroso, pois temos o mesmo sonho. A rotina é igual, mas não ficamos juntos o tempo todo. Estou aqui, e ele lá. Na semana que vem, vou para Abu Dhabi e, no início de dezembro, ele vai para Tóquio. Nosso dia a dia é muito intenso, mas nos ajudamos muito. Só não treinamos juntos porque dá briga (risos). Eu me estresso muito. Falo que ele não sabe brigar com menina.

Após os resultados deste ano, qual a sua perspectiva para o restante do ciclo olímpico?
Tenho uma perspectiva muito boa para mim. Estou em uma fase de aprendizado, competições toda hora, treinamento intenso e busca do meu melhor. Tenho certeza de que isso está trazendo resultados. Vou fazer de tudo para estar em Tóquio. Na minha cabeça, eu já fui campeã olímpica, assim como dos outros eventos que disputei. Só falta concretizar no plano físico. No cenário internacional.

Foi tranquila a adaptação do Rio para São Paulo?
Estou amando. O trânsito é igual ao do Rio. O que pesa é olhar só para asfalto, e não para a Lagoa e o Pão de Açúcar, mas me sinto em casa.

O esporte perdeu verbas na crise, e com o judô não foi diferente, embora a CBJ tenha renovado patrocínios. Como está a sua situação financeira hoje?
O cenário nacional é complicado. Assim como todas as outras, enxugou bastante em investimento. Mas acredito que a confederação está fazendo o melhor. Fora isso, tenho a Marinha, que amo e é minha base. Foi quando consegui me sentir independente, sem aquela pressão de ter de começar a trabalhar no mês seguinte para pagar contas. Eles me deram uma base para me dedicar ao judô. E o Pinheiros me dá uma estrutura maravilhosa. Mas falta patrocínio privado. As grande empresas apoiam os atletas que estão lá em cima, mas há uma base grande de atletas com potencial de imagem, como produto, que podem agregar.

A categoria até 70kg vinha um pouco apagada. Acredita em uma mudança?
Sempre vi nossa categoria muito forte e potencial, mas ao mesmo tempo nunca mostramos tantos resultados. Recebíamos críticas e isso prejudicava a confiança. Mas só neste ano, tivemos a Milena Silva, irmã da Mariana Silva, que foi vice-campeã mundial juvenil, a Maria Portela, que é top 10, foi campeã de Grand Prix, eu e a Ellen Santana, que fez semifinal do Mundial Junior. O trabalho vem sendo feito. Estamos construindo várias gerações de uma categoria que promete vir forte.

* O repórter viaja a convite da Confederação Brasileira do Desporto Universitário (CBDU)

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