Eslovena confirma superioridade no início de competições de vias guiadas na Copa do Mundo de Escalada
Janja Garnbret poderá se firmar como o maior nome do esporte em todos os tempos
Teve início no último final de semana em Villars-sur-Ollon, Suíça, a temporada de competições de vias guiadas na Copa do Mundo de 2019 da International Federation of Sport Climbing (IFSC). Após um intervalo de três semanas desde última etapa de competições de boulder, os participantes concentraram-se nas últimas semanas em treinamento de resistência (principal exigência neste tipo de competição).
A impressão geral ao final da competição é que a eslovena Janja Garnbret poderá se firmar como o maior nome do esporte em todos os tempos. Em seu país, desde a conquista nas primeiras seis etapas em Boulder, já é tratada como um dos grandes nomes do esporte da Eslovênia.
Ficou nítido também que depois das disputas nas semifinais, as equipes da Eslovênia e do Japão são as que continuam fazendo a diferença e dominando amplamente o esporte. Para se ter uma ideia, um total de sete japoneses entraram nas finais (3 mulheres e 4 homens), enquanto os eslovenos passaram com 4 escaladores para a final (3 mulheres e 1 homem).
Caminho duro para atletas de todas as Américas
Os atletas das Américas ainda estão a uma considerável distância dos principais concorrentes. A constatação é feita levando em conta que somente um atleta do continente americano, a norte-americana Brooke Raboutou (20º), se classificou para as semifinais da etapa suíça. Nenhum atleta do continente americano se classificou para as finais.
De acordo com a matemática que muitos sul-americanos realizam para vislumbrar alguma mínima chance no horizonte, o mais bem colocado das Américas se classificaria a algumas vagas pelo critério de cotas olímpicas do IFSC. Assim, já classificados pela Copa do Mundo (duas vagas por país para os mais bem colocados), abriria hipotéticas vagas na classificatória continental aos sul-americanos. Historicamente, os atletas da América do Norte obtêm melhor classificação que os da América do Sul em torneios continentais e nos do IFSC.
Entretanto, pelos resultados até agora obtidos no masculino por exemplo, os mais bem colocados da América do Norte foram Sean McColl (21º), Jesse Grupper (22º), Rudoulph Ruana (30º) e Natanael Coleman (37º). Os sul-americanos melhores colocados foram o brasileiro Cesar Grosso (45º) e os equatorianos Carlos Granja (79º) e Danny Valencia (83º). Pela matemática idealizada, os resultados os deixam bem longe de qualquer possibilidade de ir às olimpíadas se tiverem que brigar diretamente por uma vaga com canadenses e norte-americanos. Isso porque, lembrando, no torneio continental, que reunirá atletas das três Américas, classificará apenas um atleta no feminino e outro no masculino (caso este não tenha obtido vaga por classificação na Copa do Mundo de Escalada do IFSC).
Janja Garnbret invencível
A etapa de Villars-sur-Ollon serviu apenas para coroar a maior escaladora esportiva da atualidade: Janja Garnbret. Na história do esporte houve poucas demonstrações de superioridade de um atleta sobre os outros. Isso pode ser constatado pela performance irrepreensível de Janja e que entrou para a história. Isso porque o tempo na cidade suíça estava muito úmido, fazendo com que os escaladores tivessem enfrentando um problema de aderência nas agarras.
Usualmente, para superar esta dificuldade, os atletas usam um saco amarrado à cintura com carbonato de magnésio, para absorver o suor das mãos possibilitando maior aderência nas agarras. Quanto mais escorregadio ficar uma agarra de escalada, mais força e resistência do escalador é exigido. Pois Janja Garnbret durante as semifinais perdeu o seu saco de magnésio logo no início. Esta perda, pelo menos em teoria, a prejudicaria por causa do tempo úmido e da dificuldade da via a qual escalava.
Isso em teoria, pois o que se viu foi a maior demonstração de superioridade de uma atleta em competições de escalada. Mesmo sem o seu saco de magnésio, com o tempo úmido e sob pressão de classificar-se, Janja foi a única pessoa (homem ou mulher) a chegar ao topo de uma via nas semifinais. A eslovena literalmente flutuou por toda a via esbanjando elegância, força, técnica e concentração.
É consenso em quem cobre as competições de escalada esportiva que observar Janja Garnbret escalar é testemunhar um desempenho histórico comparado a grandes atletas como Pelé, Michael Jordan, Muhammad Ali, Yelena Isinbayeva, Martina Navratilova e Nadia Comăneci. Caso mantenha a performance de 2019 nas Olimpíadas, a eslovena será uma das maiores atrações dos Jogos de Tóquio 2020.
Porém, coube à linha feminina da final a maior crítica. Isso porque somente Janja passou de um ponto no qual todas as escaladoras caíram. Ou seja, todas as escaladoras do 2º ao 8º tiveram a mesma pontuação e houve desempate pelo tempo. Apenas Janja Garnbre chegou ao ponto onde todas haviam caído e resolveu com classe e maestria a passagem e, para delírio do público presente, de maneira estática, como se fosse fácil.
Janja tem estado em todas as finais de vias guiadas desde que competiu em categoria adulta e sua média de medalhas de ouro é de 66%. O segundo e terceiro lugares do pódio foram decididos de acordo com os resultados das semifinais.
A surpresa suíça
A maior surpresa da etapa foi o suíço Sascha Lehmann, que resolveu perfeitamente as duas secções de passos dinâmicos e a parte final e, sem hesitar chegou na agarra do topo que lhe deu a vitória. Foi seu primeiro ouro na categoria absoluta aos 21 anos e, para delírio do público, em casa.
Os três escaladores no pódio conseguiram chegar ao topo da via, sendo o desempate pelo tempo de ascensão. Os japoneses, apesar de serem maioria na final, terminaram na segunda parte da tabela de finalistas.
Resultado vias guiadas Masculino
1 Sascha Lehmann (Suíça)
2 YuFei Pan (China)
3 Alexander Megos (Alemanha)
4 Domen Skofic (Eslovênia)
5 Meichi Narasaki (Japão)
6 Tomoa Narasaki (Japão)
7 Yuki Hada (Japão)
8 Kokoro Fujii (Japão)
Resultado vias guiadas Feminino
1 Janja Garnbret (Eslovênia)
2 Chaehyun Seo (Coreia do Sul)
3 Ai Mori (Japão)
4 Akiyo Noguchi (Japão)
5 Mia Krampl (Eslovênia)
6 Lucka Rakovec (Eslovênia)
7 Julia Chanourdie (França)
8 Natsuki Tanii (Eslovênia)
