‘Confederações devem compartilhar mais o poder’, afirma Fabiana Bentes

Presidente da organização Sou do Esporte diz que ainda há um enraizamento de forças nas entidades, mas vê sinais de evolução na busca por melhor governança no setor no Brasil

Fabiana Bentes
Fabiana Bentes fundou a Sou do Esporte em 2015 (Foto: Divulgação / CBDA)

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Presidente da Sou do Esporte, associação sem fins lucrativos que atua como rede de relacionamento entre atletas, entidades, poder público e o setor privado, Fabiana Bentes acredita que há avanços na gestão das confederações no país, apesar das barreiras.

O IV Prêmio Sou do Esporte, que acontece hoje, às 18h30, no Grand Hyatt, no Rio de Janeiro, pretende mostrar isto. A cerimônia celebrará os destaques do ano e, como nas três edições já realizadas, elegerá a melhor entidade no quesito governança. A Confederação Brasileira de Rúgbi (CBRu) venceu as últimas edições e está entre as finalistas.

Ao L!, Fabiana falou sobre a premiação, avaliou o quadro atual da gestão esportiva no Brasil e defendeu uma maior descentralização do poder das mãos dos dirigentes.

Qual é o objetivo do Prêmio Sou do Esporte e que balanço faz do atual estágio de modernização de entidades esportivas aqui?
O prêmio nasceu para ser algo construtivo. Eu sou jornalista e sei o quanto as federações sempre foram apunhaladas de todos os lados. Mas achei que não seria possível que no esporte só tivessem maus exemplos. A intenção é valorizar os bons exemplos. Quando lançamos o prêmio, em 2015, 90% das confederações não sabiam de fato o que era governança. Eles contestavam: “Como a gestão não é boa se trouxemos medalha olímpica?”. Nestes anos, vimos uma mudança nas confederações. Na medida que a lei exige, entidades buscam se enquadrar. Infelizmente, ainda não é uma realidade da maioria se interessar pelo tema e mudar o esporte. Ainda há um enraizamento do poder que não vai sofrer uma ruptura como gostaríamos, mas é um processo que vai aos poucos chamando a atenção das pessoas.

Como tem sido o retorno dessas confederações ao trabalho de vocês?
Muitas confederações olímpicas se interessaram. Nunca tivemos a intenção de confrontar dirigentes. Sempre que eles nos abriram as portas, sentamos e os auxiliamos na melhoria. Não é um processo de ruptura, e sim de construção de consciência de cultura esportiva. Muita gente fala que precisamos profissionalizar o esporte. Isso é duvidoso. Não que não precisemos de profissionais, mas há um problema de modernização de estatutos, de responsabilidade. Muitos dirigentes podem colocar um CEO, mas não dar autonomia a ele de executar ações. Hoje, nossa bandeira maior é na modernização dos estatutos e no auxílio ao COB para que tenhamos menos peso das federações, que faz ser mais difícil de romper esse poder. Batemos não só na transparência.

É possível que uma confederação como a CBAt, que esteve manchada por denúncias de má gestão nos últimos anos, seja eleita como a de melhor governança. Como isso é pensado?
Às vezes, uma entidade pontua mais em uma questão e menos em outra. A parte de equidade as vezes é maior que a de prestação de contas. Uma denúncia de 2011 pode não impedir que uma confederação ganhe o prêmio de 2016. A má gestão pode não corresponder ao ano das denúncias. Não é o fato de o presidente ser denunciado que faz a confederação ser ruim.

O Prêmio valoriza os “Atletas de Valor”, melhor gestor e outros nomes de destaque no ano. Como foram feitas essas escolhas?
Nossas escolhas representam os valores que buscamos, bem como nossa missão, de transformar o Brasil em uma nação esportiva. Temos de buscar exemplos no esporte que tenham referência com isto. Procuramos no mercado patrocinadores e pessoas do esporte, e estudamos nomes ao longo do ano. Avaliamos o comportamento dentro e fora do ambiente esportivo. Pedimos para dirigentes nos ajudarem a identificar. Este ano, escolhemos a Yane Marques (pentatlo moderno), a Priscila Pedrita (MMA) e a Verônica Hipólito (atletismo paralímpico). Elas representam valores de superação e excelência. A Verônica teve um momento de desânimo, e foi muito bom para a autoestima dela ser escolhida. A Pedrita passou por um período de envolvimento com drogas e deu a volta por cima. A Yane não compete mais, mas nossa regra é que os atletas eleitos não precisam estar necessariamente atuando, mas representar os nossos valores.

O texto da MP 846, aprovado na noite de terça pela Câmara, incluiu uma alteração no artigo 18-A da Lei Pelé para exigir que os atletas tenham 1/3 de votos em assembleias. Mas ficou fora uma proposta de limitar em 40% o peso de qualquer categoria. O que achou?
A mudança tem de priorizar o compartilhamento de poder e de responsabilidades. Quando se restringe e se deixa as federações terem peso maior, as mudanças se arrastam. A MP pode causar uma mexida efetiva na reestruturação das confederações. Elas terão de medir o voto com peso. Gosto da ideia da limitação. Infelizmente, as leis são necessárias, pois vai demorar para termos uma cultura esportiva aqui.

O que acharia de uma possível fusão do Ministério do Esporte com o da Educação, como tem sido considerado por interlocutores do presidente eleito Jair Bolsonaro?
Para mim, o nome não importa, e sim a eficiência. Temos hoje mecanismos importantes de controle, e em uma secretaria talvez olhemos de forma minuciosa. Teria uma quebra de hierarquia, uma vez que ministro dialoga com presidente e secretário não. Mas minha preocupação é mais sobre quem vai assumir esse ministério. Já tive experiências com professores que não estavam nem aí para o esporte. Mas se for alguém que entenda o valor do esporte, pode ser bom. Temos atualmente uma competição contra os computadores das crianças, que vão se tornando mais sedentárias e praticam menos esportes. Precisamo de políticas públicas de massificação, de professores preparados, de clubes que captem atletas, para, assim, atendermos a uma garantia que é constitucional.

Você é cotada para assumir o cargo de secretária de Desenvolvimento Social e Direitos Humanos do governo do estado do Rio. O esporte terá lugar?
Certamente haverá uma preocupação com o esporte. Desenvolvimento social é esporte, assim como é educação, cultura, segurança e saneamento básico. Obviamente tem de ser um trabalho que respeite as limitações de execução, pois existem as outras secretarias no governo para cada área, mas, se eu for para lá, levarei o tema, sim.

Estudo leva em conta critérios

O IV Prêmio Sou do Esporte ranqueará na categoria “governança” as cinco confederações que mais pontuaram no estudo da organização, que leva em conta transparência, equidade, prestação de contas, integridade institucional e modernidade. O top 5 tem CBVela, CBTM, CBRu, CBV e CBAt. A ex-tenista Maria Esther Bueno é a homenageada especial. Na categoria Atleta de Valor, venceram Yane Marques (pentatlo), Pedrita (MMA) e Verônica Hipólito (atletismo).

QUEM É ELA

Nome
Fabiana Gracindo Bentes de Rengifo
Formação acadêmica
Formada em Comunicação Social/Jornalista, pós-graduada em Relações Internacionais pela PUC-RJ e MBA Executivo pela FDC.
Cargos
Presidente da Sou do Esporte; Vice-presidente dos Conselhos de Esportes & de Segurança Publica da ACRJ; e Consultora do BID
Como atleta
Competiu no remo

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