COB admite baixo uso de máquinas da bioquímica e diz buscar solução

Entidade afirma que passa pela 'desmobilização' da área da espectrometria de massas e promete fechar parceria para utilização de aparelhos que custaram mais de R$ 4 milhões

COB Espectrometro de massa
Um dos quatro aparelhos de espectrometria de massas em posse do COB. Legado não gera ciência (Foto: Reprodução)

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O Comitê Olímpico do Brasil (COB) admite a dificuldade de colocar em prática os equipamentos de espectrometria de massas do Laboratório Olímpico, que foram adquiridos ao custo de mais de R$ 4 milhões, graças a um convênio de fomento à pesquisa e à inovação entre a Financiadora de Estudos e Projetos (Finep) e a Fundação Coordenação de Projetos, Pesquisas e Estudos Tecnológicos (Coppetec), da UFRJ. O caso foi revelado pelo LANCE! em reportagem publicada nesta segunda-feira.

A entidade informou que a área está em processo de “desmobilização”, por entender que ela não atende aos objetivos atuais, e que pretende nos próximos meses definir a destinação das máquinas.

Um dos quatro espectrômetros nunca sequer foi ligado para não perder a garantia, segundo o diretor de Esportes do COB, Jorge Bichara. Ele diz que o processo de busca por uma solução teve início há dois meses. As máquinas estão registradas em nome da Coppetec. O COB detém apenas a posse delas.

– A bioquímica tinha um peso maior no início. Outras áreas, como a biomecânica, ficaram desprovidas. Mas o custo de manutenção é alto. Nós procuramos parcerias. Já fizemos contatos com Inca, Inmetro e Fiocruz para rodarem esses equipamentos em sua plenitude, pois neles a relação custo benefício seria melhor. Houve diversas visitas, trocas de e-mails e mensagens. Não avançamos, pois envolve custos elevados e queremos um acordo para utilizar as máquinas por demanda. Estamos em negociações com a UFRJ para devolvermos. Pretendo fechar isto entre dezembro e janeiro – falou Bichara.

O COB afirma ter optado por direcionar investimentos para ciências que dão respostas “rápidas e menos custosas” na bioquímica (como os da foto abaixo), e que pretende substituir a área em desmobilização por odontologia e fisiologia com câmaras hiperbáricas. O dirigente diz que é interesse da entidade encontrar a solução.

Equipamento bioquímica COB
Alguns dos aparelhos em uso da bioquímica aos quais o L! teve acesso em visita ao Laboratório Olímpico (Foto: Jonas Moura/Lancepress!)

– Alguns espectrômetros ficam ligados 24 horas por dia, e corro riscos de picos de luz. No Troféu Maria Lenk (de natação), tenho de mudar o sistema de energia para gerador, para atender à demanda de cronometragem do evento. Preciso ter uma pessoa da Waters lá só para cuidar das máquinas e não gerar riscos, pois elas se encontram em excelentes condições de uso – afirmou Bichara. 

O LANCE! questionou o Inca se houve conversas sobre eventual parceria, mas não obteve resposta até o fechamento da reportagem. A Finep foi perguntada sobre a subutilização dos equipamentos, mas também não enviou uma posição.

CONFIRA O QUE O COB RESPONDEU AOS QUESTIONAMENTOS DO LANCE!

Os espectrômetros de massas foram os equipamentos de maior investimento na bioquímica, e consequentemente, representaram o maior gasto dos recursos da Finep. Por que durante minha visita ao Laboratório, no dia 31 de outubro, eles não foram mostrados?
Após três anos de funcionamento do Laboratório Olímpico (LO) com avaliações de atletas de alto rendimento, o LO está em um processo de estudo interno dos equipamentos utilizados nas avaliações dos atletas de alto rendimento e analisando novas tecnologias e serviços que possam ser prestados e oferecidos a treinadores e atletas. A área de espectrometria de massa é uma área que estamos nesse momento desmobilizando, por entender que a relação de resposta rápida aos treinadores e atletas não nos atende, bem como a relação custo benefício de manutenção dos equipamentos, por isso entendemos que ela não deveria ser mostrada mas ela está a disposição para uma visita ainda hoje se você quiser tirar alguma dúvida sobre a boa condição de uso dos equipamentos. Um deles inclusive nem foi finalizada sua montagem e mantém sua garantia integral de uso.

Os equipamentos de espectrometria de massas estão sendo utilizados? Se sim, quantos e como?
Já estamos em contato com empresas e universidades que poderiam se beneficiar mais amplamente com os equipamentos adquiridos para pesquisa. A própria Waters (fabricante dos nossos equipamentos de espectrometria de massas) está nos auxiliando, já há alguns meses, com essa desmobilização da área – por entender a importância que esses equipamentos podem ter para outras instituições de pesquisa. Não entendemos que teríamos e nem geraríamos nenhum tipo de prejuízo agindo assim, pois teremos acordos que permitirão o uso desses equipamentos transferidos para rodarem pesquisas internas de acordo com a demanda de uso. Estamos também em contato com a Coppetec.

Uma vez que o projeto do Laboratório o vincula como instituição de pesquisa, o que permite diversas facilidades fiscais, e que houve significante parte do projeto dedicado a bolsas pagas via Finep-CNPq, o que os equipamentos de espectrometria de massas geraram para a ciência e para o benefício dos atletas? Há artigos publicados com base em sua utilização?
Estamos no início de coleta e tratamento de dados para produção científica – ainda não há nada publicado ou submetido a publicação.
* O COB informou que teve um projeto aprovado, mas não publicado, na Plataforma Brasil, com o título: “Avaliações Metabólico-Nutricional e Fisiológica em Atletas de Alto Rendimento”.

Considerando que a missão do COB é "desenvolver e representar com excelência o esporte de alto rendimento do Brasil, trabalhando na melhoria de resultados esportivos do Time Brasil, elevando a maturidade de gestão do COB e Confederações filiadas e fortalecendo a imagem do esporte olímpico brasileiro", quantos e que tipos de exames já foram realizados com os equipamentos de espectrometria de massas? 
Foram iniciados avaliações e estudos em metabolômica e desenvolvimento do método de identificação e quantificação de creatina e creatinina. Nas avaliações diárias dos atletas de alto desempenho, são necessários métodos rápidos de extração, identificação e quantificação. 

E com os outros equipamentos da bioquímica comprados?

Com os Point of care (POCT) já foram realizados mais de 2500 exames em mais de 500 atletas de alto rendimento atendidos pela bioquímica desde 2017. Nestes equipamentos são utilizados cartuchos e são observados parâmetros relacionados a gasometria, injúria muscular e hepática, perfil hepático e estresse renal, macro e micronutrientes, reposta imunológica. São avaliados, tais como: Bicarbonato, Lactato, pH, Cálcio ionizado, Cloreto, Creatinina, Glicose, Nitrogênio ureico/Uréia, Potássio, Sódio, Creatinoquinase, Proteína C-reativa, Alanina aminotransferase, Albumina, Amilase, Aspartato aminotransferase, Bilirrubina total, Cálcio, Fosfatase alcalina, Gama glutamiltransferase, Proteína total, Urato, CK-MB, Ferritina, Microalbulminúria, Hematologia (Contagem de Glóbulos Brancos, Número de Basófilos, Porcentagem de Basófilos, Número de Neutrófilos, Porcentagem de Neutrófilos, Número de Eosinófilos, Porcentagem de Eosinófilos, Número de Linfócitos, Porcentagem de Linfócitos, Número de Monócitos, Porcentagem de Monócitos, Contagem de Eritrócitos, Concentração de Hemoglobina, Volume Corpuscular Médio, Hemoglobina Corpuscular Média, Concentração de Hemoglobina Corpuscular Média, Hematócrito, Contagem de Plaquetas, Volume Plaquetário Médio, Amplitude de distribuição das Plaquetas, Plaquetócrito), Amônia. Os exames são realizados de acordo com objetivo da comissão técnica, sendo assim, respondendo a perguntas referentes a fase de treinamento para melhora da performance do atleta. Podendo estar relacionado a avaliação das cargas internas impostas pelo treinamento ao metabolismo do atleta e as suas necessidades nutricionais. Alguns destes equipamentos foram utilizados nos Jogos Olímpicos de Londres (2012), do Rio de Janeiro (2016) e serão usados em Toquio em 2020 e também nos Jogos Pan Americanos de 2015 (Toronto) e Lima (2019) no qual os atletas estavam em uma fase de polimento. Foram observados parâmetros relacionados a hidratação, injúria muscular e resposta imunológica dos atletas.

O LABORATÓRIO OLÍMPICO

A proposta
Inaugurado em 2016 com o objetivo de ser referência em Ciências do Esporte da América Latina, o Laboratório Olímpico contou com o aporte de R$ 13 milhões do governo federal, por meio de um convênio de fomento à ciência e à inovação.

O financiamento
Os recursos vieram da Finep, empresa pública vinculada ao Ministério da Ciência, Tecnologia, Inovações e Comunicações (MCTIC), que ofereceu os recursos para a Fundação Coppetec, que adquiriu os equipamentos da fabricante Waters. O projeto custou R$ 13.014.925,55, sendo R$ 11.500.000,00 em aporte direto e R$ 1.514.925,50 destinados a bolsas de pesquisas científicas e transferidos pelo Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq). A produção científica era uma contrapartida essencial para que o dinheiro fosse disponibilizado.

Os atrasos
As conversas se arrastavam desde 2006, mas o acordo foi celebrado no dia 23 de dezembro de 2009, quase três meses após o Rio de Janeiro ter sido eleito sede dos Jogos de 2016. O Laboratório só ficou pronto no final de 2016. Os testes tiveram início em 2017. 

Orçamento
As despesas para a operação do Laboratório Olímpico são pagas com recursos oriundos da Lei Agnelo/Piva. Em 2019, até o dia 21 de novembro, a área gastou R$ 5.642.272,37, sendo R$ 4.114.793,62 em despesas com pessoal e R$ 1.527.478,75 em manutenção e atendimento a atletas.

Outras áreas
Além da bioquímica, o Laboratório Olímpico tem ativas as áreas de fisiologia, biomecânica, preparação física, fisioterapia, medicina, nutrição, preparação mental, análise de desempenho, gestão do conhecimento e tecnologia.

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