Coach de Rafaela Silva quer auxiliar judoca a ser lenda nível Riner e Bolt

Exemplos do astro francês, do ex-velocista jamaicano e do ex-nadador Michael Phelps guiam ações de Nell Salgado para manter a carioca motivada até a Olimpíada de Tóquio<br>

Rafaela Silva e Nell Salgado
Rafaela Silva e Nell Salgado. Relação de amizade e trabalho duro visando carreira da judoca (Foto: Reprodução)

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Uma das responsáveis pela volta por cima de Rafaela Silva após a decepção em Londres-2012 até a consagração na Rio-2016, Nell Salgado tem uma meta bem clara para manter a judoca nos trilhos: transformá-la em lenda não só da modalidade, mas do esporte, no patamar do judoca Teddy Riner, do ex-nadador Michael Phelps e do recém-aposentado do atletismo Usain Bolt.

A carioca atua como coach esportiva, função voltada para o fortalecimento da mente e cada vez mais utilizada no alto rendimento. As sessões acontecem de forma presencial, mas, no caso de uma atleta como Rafaela, que passa períodos fora do país, a saída é o telefone. Não há um dia que não se falem.

Após a queda nas oitavas de final dos Jogos de 2012, período em que Rafaela entrou em depressão e sofreu com casos de racismo, Nell usou o personagem Zé Pequeno, do filme “Cidade de Deus”, favela onde a judoca nasceu, para motivá-la, devido à sua contundência e postura de campeão. Ela deveria "incorporar" o ex-traficante para defender a medalha que seria sua. Agora, o trabalho vai além.

– O personagem está estabelecido. É o Zé Pequeno. O que buscamos é uma maneira de ela se manter focada no novo objetivo, que é o da lenda. Para o judô, ela já é uma. Só existem treze no mundo que foram campeões mundiais Junior e Sênior, e olímpicos. Ela só tem 25 anos. Pode mais. Queremos que ela busque ser uma  lenda para o esporte, para o país, como um Teddy Riner, Bolt e Phelps – explicou Nell, de 45 anos, ao LANCE!.

Os exemplos vêm de esportes distintos, mas servem para estabelecer a importância que equipe por trás de Rafaela dá à atleta. Bolt, que se despediu das pistas em agosto no Mundial de Londres, faturou na carreira oito medalhas de ouro olímpicas e 14 em mundiais. Phelps é simplesmente o maior medalhista olímpico da história, com 28 pódios. Riner, por sua vez, é o nome a ser batido na categoria acima de 100 kg do judô, dono de oito ouros individuais em Mundiais e duas vezes campeão olímpico.

Em entrevista ao LANCE! publicada nesta terça-feira, na véspera da participação de Rafaela no Mundial de Budapste (HUN), a brasileira contou que tem sido cobrada por Nell pelos momentos de relaxamento e pela preguiça de treinar. A coach confirma que tem sido mais "chata" depois do ouro olímpico.

– Sempre vou encher o saco. As vezes, ela vê que pego mais leve com outros atletas e diz: “Comigo, você é um limão”. Eu digo que sim, porque ela é fora de série. Nunca vou deixá-la ser 99%. Vou bater nela para ser 100% – afirmou a coach, que trabalha, dentre outros nomes, com a saltadora Ingrid Oliveira.

COM A PALAVRA
Nell Salgado

Fugir do oba oba após o ouro é necessário

Foi complicado este ano. Houve muito oba-oba, muita gente em torno da Rafaela. Há compromissos que não têm a ver com o judô, mas com a medalha. Sabemos que faz parte, não dá para fazer omelete sem quebrar ovos. Ela ficou bem dispersa. Ainda assim, teve um bom resultado, com um bronze no Grand Slam. Agora, para o Mundial, chegou um pouco dispersa até um tempo atrás. Mas o último mês foi bem bacana. Depois que ela foi treinar no Japão e na Espanha, focou mais, fez um trabalho diferenciado e retomou o ritmo. De duas semanas para cá, fizemos um trabalho efetivo para o este Campeonato Mundial.

Ela é muito inteligente, até me deixa mal acostumada. É uma atleta acima da média. Fico buscando as Rafaelas em todos os atletas com quem trabalho, e é complicado. Ela é rápida demais, pega tudo muito fácil. Os conceitos, as ferramentas.

Nos falamos todos os dias. Agendamos um horário no intervalo dos treinamentos ou durante a fisioterapia. Nesse momento, eu fico à mercê do atleta. Às vezes, ela me chama de madrugada e falamos. Quando se trata de cabeça, nunca se sabe a hora que a dor virá. Meu papel é estar à disposição dela para qualquer assunto, para dissipar todas as dúvidas da cabeça dela. Por volta de 12h, 13h, e antes de dormir, depois trocamos mais ideia. É um diálogo interno.

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