Bernal vence etapa que não terminou e vira líder da Volta da França

Entenda o que levou o colombiano a assumir a ponta na classificação geral e tornar-de favorito ao título ao vencer prova interrompida por avalanche. Allaphilippe cai para 2º<br>

Tour de France - Egan Bernal
O líder da Volta da França agora é o colombiano Egan Bernal. Etapa de sábado será decisiva (Foto: AFP)

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A 19ª e antepenúltima etapa da Volta da França, a prova ciclística mais tradicional do mundo, realizada na manhã desta sexta-feira entre Saint-Jean de Maurienn e Tignes (126km de montanha), tinha tudo para definir o favorito ao título. Mas terminou de forma totalmente inesperada: quando restavam os 25km finais para o fim, uma chuva de granizo gerou um paredão de gelo que bloqueou a estrada pela qual os ciclistas passariam entre a última descida e a subida final para a chegada no alto da montanha. E aí ficou a tensão: a disputa deveria ser cancelada? Ou seria melhor terminá-la no alto da penúltima subida, no caso a montanha Col d'Iseran?

O regulamento indicava as duas opções, e os organizadores estavam diante de um dilema: cancelar a etapa e favorecer o francês Julian Alaphilippe, que entrou na prova na liderança, ou considerar que 80% da etapa foi realizada e validá-la, mesmo levando em conta que o ciclista da casa perdeu muito tempo e, naquele momento da chegada ao penúltimo topo, o líder passou a ser o colombiano Egan Bernal, que liderava a prova com Simon Yates em sua cola e o restante muito atrás?

No fim das contas, a organização definiu pela segunda opção, favorecendo a disputa esportiva e ciente de que, no fim das contas, Alaphilippe estava no lucro. O motivo: ainda aparecia em segundo lugar e a tendência era perder muito mais posições, caso a prova chegasse na final estabelecida.

Com isso, Bernal, que começou 1m30 atrás, mas chegou ao cume com 2m07 à frente de Alaphilippe, passou para a liderança, 45 segundos à frente do rival (ele somou bônus de tempo por ter chegado em 1º no topo). O britânico Geraint Thomas, atual campeão e da mesma equipe de Bernal, é o terceiro.

Alaphilippe cai para 2º, mas é o maior vencedor

A interrupção da prova acabou sendo excepcional para Alaphilippe. Na subida para a penúltima montanha, o francês da Quickstep, o surpreendente líder desde a primeira semana, começou a ficar para trás. Isso era esperado nas provas de sexta-feira e sábado (montanhas altas) e era o indicador que ele perderia a liderança, chegaria muito atrás e daria adeus ao título. Isso ficou ainda mais evidenciado quando Bernal, colombiano da Ineos e o segundo colocado, fez o ataque que o tirou do bolo dos líderes e foi buscar os cilistas da fuga. Ao chegar no topo de Col d'Iseran, ele, que começou a etapa 1m30s atrás de Alaphilippe, colocou mais de dois de frente, assumiu a ponta e só ampliava a diferença na descida.

Alaphilippe, totalmente exausto, já estava pronto para perder o segundo lugar pata Thomas (a diferença era de 20 segundos) e provavelmente cair para sexto antes da última subida (após a chegada certamente estaria fora do Top10).

Porém veio o inesperado. A organização confirmou a paralisação da prova. E com a definição de que ela terminaria na penúltima subida, ele consegue sair de uma etapa que o pulverizaria ainda em segundo lugar geral.
Na entrevista após a confirmação dos resultados, Alaphilippe, praticamente jogou a toalha em relação ao titulo.

- Foi um sonho vestir a camisa amarela e acho que não vou mai conseguir recuperá-la. Só tenho a agradecer este apoio incrível que eu tive - disse

Etapa de sábado é 'final de Copa'

A Volta da França-2019 é a mais equilibrada, imprevisível e emocionante dos últimos 30 anos e tudo deve ser decidido hoje. A etapa 20 tem 216km, entre Albertville e Val Thorens. Trata-se da etapa rainha, a mais dura deste tour, com duas montanhas fora de categoria (as mais difíceis e com altimetria acima de 4.000) e chegada no topo em 2.365m. Isso deixa em aberto a disputa do título, pois qualquer um no Top 10 (exceto Alaphilippe, que não é especialista) pode vencer com grande diferença se buscar a fuga e todos os que estão até quatro minutos atrás de Bernal pode sair da etapa como líder: Steven Kruijswijk (holandês da Jumbo, quarto), Emanuel Buchmann (alemão da Bora, 5º) Rigoberto Uran (colombiano da EF) e os três ciclistas da Movistar: Nairo Quintana (Colombia), Mikel Landa (Espanha) e Alejandro Valverde (Espanha).

Perguntas e respostas.

Porque Alaphilippe, líder desde o início, é zebra?
Por dois motivos: embora seja um ciclista excepcional, ele é especialista em provas de um dia. No Tour, não tem um companheiro de equipe que possa ajuda-lo eficazmente e não é especialista em montanha alta. É quase um milagre que ele ainda esteja na liderança. Caso seja campeão, será a maior zebra em décadas. E ele já fez muito. Mesmo que não seja o campeão, será um dos grandes vencedores do Tour e já virou de vez ídolo nacional da França.

Quem é o maior favorito?
Neste momento Egan Bernal, o outro grande vencedor deste tour. Compare com o Mbappe na Copa do mundo. Uma cara de 19 anos que foi a sensação e deveria ser o MVP. Bernal tem 21 anos, sua briga era para ser o melhor jovem (camisa branca) e isso ele já garantiu 99% (só não será se abandonar a prova). E entra na penúltima etapa, hoje, na liderança. Pode ser campeão em cima dos superastros e com idade de júnior.

Quem tem muito a perder?
Um já perdeu. Thibaut Pinot. O ciclista d Groupama é que era o francês favorito e não Alaphilippe. E entrou em quinto lugar na estapa desta sexta-feira, mas sentiu a perna e abandonou a disputa.

Porque a etapa deste sábado é final de Copa do Mundo?
Primeiro por ser a mais dura. Depois porque é típica de uma vitória de fuga, quando o vencedor põe muita vantagem, acima de quatro minutos. Isso dá chance até para quem está lá atrás na classificação geral

Mas ainda há a última etapa, porque esta é mais decisiva?
Porque a última etapa com chegada em Paris é plana. Isso significa que todos os 100 ciclistas chegarão em bloco com o mesmo tempo e o que vale é chegar no Top3 para pegar bônus de tempo (10s pra o 1º, 6s para o 2º e 4s para o 3º). Ou seja, poderia ter disputa se a diferença do líder para o segundo colocado fosse abaixo de 10s. Mais ainda assim tem outro complicador: quem ganha este tipo de prova são velocistas, atletas com muita explosão nos 100m finais. Imagine no atletismo o Ulsain Bolt disputar a reta final com o campeão de maratona? Venceria em 99,9% das vezes. Velocistas, são Bolt/ Líderes da classificação geral são velocistas.

Então, quem sair da etapa de hoje na ponta será o campeão?
Só não será se ocorrer a seguinte situação: Julian Alaphillipe em segundo lugar e com menos de 10s pra o líder. Alaphilippe é o único que está no TOP30 que tem condições de vencer um sprint contra velocistas como Peter Sagan ou Elia Viviani. Mas tudo indica, e até o próprio Alaphilippe já disse, que ele terminar a etapa deste sábado próximos dos líderes seria um verdadeiro milagre.

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