Ao LANCE!, Danilo Fernandes fala sobre o Internacional na Série B: ‘Demoramos a entender’

Destaque no Colorado desde que chegou ao clube, goleiro fala sobre momento do time, sonho de disputar a Copa da Rússia e saída do Corinthians

Danilo Fernandes
Marcelo Campos - MS+Sports

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Danilo Fernandes está acostumado a topar com encruzilhadas em sua carreia. O goleiro, de 29 anos, já se deparou com momentos em que sua decisão seria tão ou mais importante que uma grande defesa em um jogo qualquer de futebol. Até agora, os desafios topados e superados fizeram dele um dos principais goleiros do Brasil.

Um dos principais jogadores do elenco do Internacional, o goleiro recebeu a reportagem do LANCE! após o treino da última terça-feira no CT Parque Gigante. Em pouco mais de 30 minutos de bate-papo, fez uma profunda análise da temporada difícil pela qual o Colorado atravessa.

Além disso, considera que o desafio de deixar o Corinthians, e a galeria de títulos que deixou por lá, pela chance de ser titular no Sport como fundamental para sua carreira, de fato, ser reconhecida e decolar. E foi direto: enquanto houver esperança, vai sonhar uma das três vagas para o gol da Seleção na próxima Copa do Mundo.

Como está sendo essa temporada pelo Internacional?

É um ano de reformulação. Não é fácil, mudaram muitos jogadores, diretoria, comissão. Por isso leva um tempo para as coisas se encaixarem. Tivemos um Gauchão que na minha visão fomos bem, mesmo perdendo a final para o Novo Hamburgo, porque duvidaram muito do nosso elenco. Na Copa do Brasil fomos bem, tiramos o Corinthians e caímos para o Palmeiras em um duelo onde a gente não merecia perder. E agora estamos na Série B, que é um campeonato bem mais complicado que a elite, e nós demoramos a entender como jogar ela da melhor maneira possível. Felizmente agora vivemos uma boa fase.

A ficha, então, demorou a cair para vocês sobre o que era uma Série B? Conta o fato do Inter está jogando pela primeira vez também essa demora para se estabilizar na competição?

Acredito que sim. Esperávamos mais facilidade, mas vimos o quanto é difícil. O futebol se ganha dentro de campo e não por você possuir, por exemplo, o melhor elenco ou falando. Se você não atuar bem do início ao fim e se impôr, os outros time vem e atropelam a gente, como aconteceu em derrotas dentro do Beira-Rio. Com todo o respeito aos adversários, ninguém imaginaria que isso acontecesse na Série B. Demoramos sim a entender, teve pressão, a própria torcida achava que seria mais fácil e estava machucada pela queda do ano passado.

Qual o jogo, na sua visão, marcou a virada do Inter na competição pra que hoje esteja na liderança e uma situação bem mais tranquila do ponto de vista do acesso para a Série A?

O jogo que nós perdemos para o Vila Nova em Goiânia, com gol no fim, nós chegamos no vestiário, olhamos um na cara do outro no estilo: "E aí, rapaziada? A gente tem que acordar". Essa partida já era na reta final do primeiro turno e a gente precisaria se recuperar a tempo de começar o segundo turno voando. Aquela derrota nos deixou muitas lições. Era um jogo tranquilo para conseguirmos a vitória, estádio sem torcida, o adversário deixando a gente jogar, mas em um dado momento deu para escutar algo na linha: "Vamos que não é isso tudo". Esse jogo serviu de estalo e depois emplacamos essa boa sequência.

Até que ponto a vinda de reforços nesse período, sobretudo o Damião com a história que tem aqui dentro, foi importante para ajudar nesse processo de "reencontro" do Inter dentro de campo e consequentemente fim da pressão?

O Damião e o próprio Camilo, que chegaram depois, são muito experientes. O Leandro tem uma história aqui dentro, o torcedor sabe quem é ele. É importante em uma competição tão difícil como a Série B, em um ano complicado, ter esse tipo de jogador calejado e que aguenta a porrada. Não que os que já estavam aqui não aguentassem, mas é preciso de experiência nesse momento. Isso faz também com que o adversário tenha mais respeito por nós.

Qual motivo para o trabalho do Antônio Carlos Zago não ter fluído, e com o Guto Ferreira, apesar de um início também difícil, ter dado liga agora?

Não sei te dizer o motivo. Posso te falar que da maneira como a gente tava tratando o campeonato, sem aquela entrega de hoje, dificultava e isso independia do treinador que estivesse aqui. Na minha opinião não sei dizer se a vinda do Guto ajudou nesse processo de compreensão melhor de como jogar a Série B. Cada treinador tem sua maneira de dirigir. Mas o fundamental foi a mudança de atitude pessoal de cada jogador. O Zago teve um bom trabalho e o elenco gostava dele. O Guto chegou, com ideia nova, nos deu moral, e nós abraçamos ele.

Na sua visão qual rival te surpreendeu mais na Série B? O Inter tem a obrigação do título, ou apenas a garantia do acesso por si só basta?

Penso que toda a competição precisamos entrar com o foco no título. Mas por ser um ano onde o clube passa por reformulação, nosso principal objetivo é subir e retornar o mais rápido possível para a elite. Se a gente estiver em primeiro, óbvio que vamos tentar o título. Sobre os rivais, acho que naquele momento de oscilação, nosso principal adversário foi e segue sendo nós mesmos. Mas temos pela frente times com qualidade e com totais condições de subirem também.

Que tipo de lição fica para o Internacional pegando todo esse gancho desde o rebaixamento de 2016 e momentos turbulentos nesta temporada para na próxima o clube voltar ao caminho de brigar por coisas grandes na elite?

Nenhum clube grande quer ser rebaixado. Mas às vezes a queda te faz enxergar o que está acontecendo de errado no clube. Então esse tipo de situação ajuda no sentido de uma reestruturação, uma reflexão de mudanças que precisam ocorrer para voltar forte. É ruim cair, mas que fique de lição, pois não foi algo que aconteceu só em 2016. Mas tenho certeza que o Inter voltará forte. É uma camisa pesada e merece isso.

Você vê a tua saída do Corinthians para o Sport como decisiva para a mudança da tua carreira como um todo?

Sem dúvidas. Fiquei 18 anos no Corinthians, vivi muitas coisas lá. Já estava há muito tempo no elenco profissional, mas jogava muito pouco. Goleiro né uma posição que às vezes é mais complicado para jogar, mas eu queria ter uma sequência. Queria sair para jogar, mas não iria para qualquer lugar. Por essas coisas do destino, o Sport apareceu no fim do meu contrato. O Corinthians ficou empurrando a minha renovação, e quando apareceu essa possibilidade de ir para o Sport, falei pro meu empresário fechar na hora. Foi a melhor coisa que me aconteceu na vida. Graças a Deus tive uma grande passagem por lá e que me permitiu o Inter se interessar por mim.

Tem um gosto especial quando você enfrenta o Corinthians e, principalmente, consegue sair vitorioso?

Quando se enfrenta um ex-clube é diferente. Você quer jogar bem, no meu caso defender tudo (risos). Mas não levo para o lado pessoal, de mágoa. É mais um jogo. Às vezes se você fica pilhado nesse tipo de situação, pode cometer erros. Mas não deixa de ser especial, vencendo melhor ainda (risos).

Você já vem de uma sequência de boas temporadas, seja no Sport ou mesmo aqui no Inter. O Tite te deu uma oportunidade em janeiro. Faltando menos de um ano para a Copa e com a posição de goleiro, em tese, sendo a mais aberta hoje na Seleção, dá pra sonhar em ter uma vaga e estar na Rússia no ano que vem?

Claro que dá. Vou sonhar sempre, enquanto tiver uma esperança. Muitos dizem que realmente essa posição no gol não está fechada, mas não é por insegurança dos jogadores da posição. O momento é tão bom dos goleiros brasileiros que existem muitas opções. Não estou aqui querendo defender a classe. São muitos atletas para três vagas. Por isso a cobrança é ainda maior por quem está sendo convocado. Mas se tiver brecha, vou lutar pelo meu espaço.

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