Primeiro campeão da Supercopa do Brasil, Grêmio aguarda a taça até hoje e vai cobrar da CBF
Competição que volta a ser disputada neste domingo, Supercopa teve sua primeira edição em 1990 e foi conquistada pelo Grêmio, que vai enviar um ofício a entidade pelo troféu
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Depois do apito final do juiz em uma decisão, o momento mais aguardado por jogadores e torcedores de um time é o do levantamento da taça. Mas nem sempre um destes acontecimentos é seguido do outro. E, assim, um clube brasileiro está aguardando exatos 30 anos para receber um troféu. É o caso do Grêmio. Campeão da primeira edição da Supercopa do Brasil, em 1990, o clube gaúcho nunca viu a cor da taça e nem teve o prazer de levantá-la.
Novidade no futebol brasileiro naquele ano, a competição reunia os campeões da Copa do Brasil e do Campeonato Brasileiro da temporada anterior. No caso, respectivamente, Grêmio e Vasco. Mas, devido ao problema do inchaço calendário, a CBF optou, em conjunto com os dois clubes, por uma alternativa diferente. Como os times estavam no mesmo grupo da Copa Libertadores, os dois jogos pela competição continental também valeriam pela Supercopa do Brasil.
E o Grêmio levou a melhor. No jogo de ida, disputado em 14 de março no Estádio Olímpico, o Tricolor saiu na frente com uma vitória por 2 a 0, com gols de Nilson e Darci. Na segunda partida, no dia 18 de abril em um São Januário praticamente vazio, o empate em 0 a 0 garantiu o título para a equipe gaúcha. Mas não teve taça.
E não teve justamente pelo problema do calendário e das decisões tomadas em cima da hora. Segundo apurou a reportagem com representantes do Grêmio, como, à princípio, seriam dois jogos exclusivos para a Supercopa do Brasil, as partidas seriam transmitidas pela Rede Manchete. Mas, como foi definido que os duelos válidos pela nova competição seriam os já programados pela Libertadores, a transmissão ficou a cargo da Rede Globo, que detinha os direitos do torneio continental.
Mas a CBF já teria feito o troféu com o nome da Rede Manchete nele, pois a emissora seria parceira na promoção da nova competição. Com a mudança dos planos, não houve tempo hábil para a produção de uma nova taça e ficou a promessa de que seria entregue depois.
- Pela nossa pesquisa, a taça tinha o nome da Manchete. E, como os jogos da Libertadores foram transmitidos pela Globo, não houve a entrega da taça - afirmou Carlos Eduardo Santos, coordenador do Museu do Grêmio, ao LANCE!
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Ainda no mesmo ano, o Grêmio, através do então presidente Paulo Odone, chegou a cobrar da CBF a homologação do título e a taça. A homologação saiu, mas o troféu nunca chegou a Porto Alegre. Como competição não engrenou - só houve mais uma edição, também esvaziada, sem adesão da torcida e pouca cobertura da imprensa, com título do Corinthians sobre o Flamengo, em 1991, o caso acabou caindo no esquecimento. O Timão, pelo menos, recebeu o seu troféu.
Agora, o clube gaúcho quer aproveitar a volta da competição, que terá sua terceira edição no próximo domingo, entre Flamengo e Athletico-PR, para solicitar a entrega da taça que nunca chegou ao museu do clube.
- Vamos aproveitar o ressurgimento da competição para enviar um ofício a CBF solicitando a entrega da taça - disse Carlos Eduardo.
CBF estuda o caso
Apesar de, no seu site, a CBF tratar a disputa entre Flamengo e Athletico-PR como uma “nova competição” ou uma “novidade”, a entidade não deixa de reconhecer os títulos de Grêmio e Corinthians na década de 1990 e, inclusive, exalta os primeiros campeões nas suas redes sociais.
A atual gestão da CBF, que tirou do papel o plano que já existia há alguns anos para a volta da Supercopa, está ciente da falta da taça do Grêmio e vai estudar como e quando fazer a entrega do troféu. Ainda não há definição se o Tricolor receberá uma taça igual a que será entregue no Mané Garrincha, no próximo domingo.
Ex-jogadores cobram taça
Com Vasco e Grêmio focados na disputa da Copa Libertadores daquele ano, a Supercopa acabou ficando em segundo plano. E, trinta anos depois do título do Tricolor, as lembranças das partidas ficam ainda mais escassas. Tanto que o ex-atacante e agora treinador Cuca, campeão com o Grêmio em 1990, não se recordava da falta do troféu e foi surpreendido ao ser perguntado sobre o fato.
- Pois é, nem sabia disso (risos)... Mas, lembrando agora, a gente realmente não levantou nenhuma taça. Mas o que fica para história é a lembrança e o título. Taça é simbólico - afirmou o treinador, que depois brincou:
- Vou falar para Bolzan pedir para a CBF uma taça bem bonita - disse Cuca, se referindo ao atual presidente do Grêmio Romildo Bolzan.
Ainda que tenha demorado a lembrar a falta da taça, Cuca valorizou o título da Supercopa e celebrou a volta da competição.
- A gente esperava que a Supercopa vingasse. A Copa do Brasil (conquistada pelo Grêmio na sua primeira edição, em 1989) também era uma novidade e deu certo. Na Europa a gente vê isso todo ano, é uma unificação de títulos.
'Agora é uma oportunidade da CBF corrigir o equívoco deles e entregar a taça', disse Mazaropi
No entanto, o fato da Supercopa ter começado sem muitas certezas se daria certo e até sem data para ser disputada não diminui a vontade dos jogador de conquistarem o título. O Grêmio ter sido pioneiro ao vencer a primeira Copa do Brasil também foi ressaltado pelo ex-goleiro Mazaropi, também presente na conquista.
- Toda competição nova sempre é uma incógnita, mas os jogadores queriam ganhar. Como foi na primeira Copa do Brasil, em 89. É título, então a gente entrou para brigar pelo título - disse Mazaropi, que hoje é comentarista da Grêmio Rádio Umbro, antes de cobrar a entrega da taça.
- Agora é uma oportunidade da CBF corrigir o equívoco deles e entregar a taça para o Grêmio - decretou o ídolo tricolor.
Competição foi mal organizada
Com os problemas da primeira edição da Supercopa do Brasil, a CBF mudou o formato para disputa em 1991. Mas, mesmo realizado em jogo único entre os dois times mais populares do país, o duelo não foi badalado e levou apenas 2.700 pessoas ao Morumbi para ver o Corinthians fazer 1 a 0 no Flamengo, no Morumbi. Sob forte chuva e no meio do feriadão do aniversário da cidade de São Paulo, o jogo não atraiu o público.
Para o jornalista e pesquisador Celso Unzelte, a competição não engrenou por problemas na organização.
- Na primeira edição, já começou com algo que não pode mais ocorrer hoje, que é um jogo valer por duas competições. Na segunda, a partida teve um dos priores públicos da história do Corinthians e do Flamengo. Foram jogos pouco badalados e mal organizados, com interesse mínimo do público - afirmou Unzelte, da ESPN, antes de complementar:
- Não teve promoção e repetição. Sem repetição, ninguém compra a ideia e nada engrena. É como funciona na TV ou em um espaço no jornal. Se colocarem um programa de vez em quando na TV, ninguém vai lembrar.
Sem muita confiança, Unzelte avalia que a atual Supercopa do Brasil já começou com alguns problemas.
- No futebol brasileiro fala-se muito e se faz pouco. Já falaram que a Supercopa vai ser o "Superbowl brasileiro". Mas já começou sem ser a partida que abre a temporada. Vai acontecer em meio a disputa dos Estaduais, da Copa do Brasil e Libertadores. O Jorge Jesus, com a mentalidade de europeu, valoriza a competição, também para o currículo pessoal dele. Mas pode melhorar, se definirem um local com antecedência - como, por exemplo, ser sempre no Mané Garrincha, na capital do país. E também pode-se promover o turismo de futebol - finalizou Celson Unzelte.
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