Da Taça de Prata à Série C carioca: Campo Grande renasce das cinzas

Tradicional clube da zona oeste carioca vive processo de reestruturação focado em voltar aos dias históricos que viveu nas décadas de 70 e 80 no Ítalo del Cima

Atual time do Campo Grande, que disputa a Série C Carioca
(Reprodução)

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Cabal, denodado e empreendedor. Assim como diz o hino, o Campo Grande Atlético Clube, tradicional time da zona oeste carioca, continua valente e corajoso em busca de voltar aos dias de glórias. Agora, na quarta divisão do Campeonato Carioca, o Galo tenta se reerguer e reviver os seus dias históricos.

Oficialmente fundado em 13 de Julho de 1940, o clube da antiga zona rural do Rio de Janeiro foi um dos principais times do subúrbio carioca durante o século passado ao lado de América, Olaria, Madureira, e do seu rival Bangu. A história do clube conta com grandes jogadores do futebol nacional.

O Campusca, como é chamado carinhosamente pelos torcedores, revelou alguns nomes conhecidos. Dadá Maravilha foi revelado pelo alvinegro, assim como atacante Vágner Love, que passou pelas categorias de base do clube. Paulo César Gusmão, técnico que treinou os quatro grandes do Rio, iniciou sua carreira de goleiro profissional também no Campo Grande. Assim como Vanderlei Luxemburgo, que começou sua gloriosa carreira de treinador do clube da zona oeste. 

Em 1982, veio a maior glória da história do clube, o título da Taça de Prata, equivalente a Serie B do Campeonato Brasileiro, com uma vitória por 3 a 0 no CSA de Alagoas no jogo extra, em um lotado Ítalo del Cima, com 15.567 pessoas. Nesse campeonato, o Campusca, além do título, teve o melhor ataque da competição, com 39 gols e o artilheiro, Luisinho das Arábias, com 10 gols.

No Campeonato Carioca, a melhor campanha do clube foi em 1991, quando terminou em quinto lugar. Naquele ano, o Campusca contou com um setor ofensivo estrelado por Elói, meia-atacante ex-Vasco e Botafogo, o centroavante Cláudio Adão que passou pelos quatro grandes cariocas, e o ídolo vascaíno Roberto Dinamite, que chegou ao clube aos 37 anos de idade.

- Foi super prazeroso jogar no Campo Grande. Tivemos o Elói, o Adão, além de uma juventude muito boa que contribuiu e muito para que pudéssemos fazer uma bela campanha, em um time muito bem armado. Foi muito legal jogar lá - disse Dinamite.

Entretanto, a época prateadas do clube ficou distante. Sem disputar a elite carioca desde 1995, o Campo Grande acabou despencando nas divisões inferiores, alternando temporadas entre a segunda e terceira divisão, chegando ao ponto de não ter time profissional por alguns anos. Humberto Fernandes, presidente do clube há quatro anos, tenta explicar o motivo do clube ter sofrido tantas quedas:

- O Brasil mudou. O futebol ficou caro. Creio que o clube sofreu com essas mudanças no país e não estávamos preparados para isso. Ficamos parados no tempo nessas últimas décadas. Mas é pensar pra frente, o Campo Grande tem um bairro que a população é apaixonada pelo clube e creio que vamos nos reerguer - afirmou o mandatário.

O clube em 2008 chegou a ser vice-campeão da terceira divisão do Carioca e conseguiu o acesso à Serie B do Rio de Janeiro, mas não conseguiu se manter e foi novamente rebaixado. O Campo Grande continuou a acumular campanhas ruins até ser excluído da disputa da terceira divisão por dívidas com a FERJ no ano de 2012. Em 2013, o clube chegou a disputar a competição, mas com uma equipe formada apenas com jogadores da base, sem profissionais.

- Lamento essa situação do Campo Grande justamente pela razão de ter um bom estádio, em uma região de população muito grande e ter um belo trabalho de base - frisou Dinamite.

O alçapão da zona oeste

O estádio é o Ítalo del Cima. Com capacidade para até 18 mil pessoas, era o maior dos clubes menores do Rio de Janeiro, até a reforma do Luso Brasileiro, na Ilha do Governador. O estádio recebeu grandes duelos na história, chegando até a sediar um Fla-Flu, em 1992 pelo Campeonato Carioca. Na ocasião, o Tricolor bateu o Rubro-Negro por 1 a 0, gol de Ézio, com um público de 3.672 pessoas. 

Atualmente, o estádio não vive os mesmos dias de antigamente. Por algum tempo, o campo só servia para treinos por conta de laudos de segurança dos bombeiros, que não permitiam a realizações de jogos. Humberto, presidente do clube, admite que está viabilizando um projeto de reforma para o estádio, que foi liberado pela FERJ para jogos, mas sem torcedores presentes.

- A ideia é reativar o Ítalo para jogos e eventos. Temos um grupo de amigos fazendo esse trabalho. A ideia é ter grandes jogos, como tivemos no passado e também para ser utilizado pelos clubes grandes, estamos trabalhando para isso. Quando o estádio da Ilha foi escolhido pelo Flamengo, o nosso estádio estava concorrendo, mas por alguns fatores não foi escolhido. O bairro respira futebol, a população ama futebol e é de fácil acesso. Creio que será bom para todos.

Italo del Cima
Ítalo del Cima ainda não pode receber torcedores (Foto: Divulgação)

Roberto Dinamite, que estreou no Campo Grande no Ítalo del Cima, em uma partida amistosa contra a Portuguesa-SP,  também se queixa da situação do tradicional estádio:

- É um estádio que precisa melhorar e ter um investimento. Torço para que realmente possam reativar o Ítalo para que Campo Grande volte a ser um local que dá oportunidade para as novas gerações que sonham em jogar em um clube grande, mas que primeiro tem que passar pelo Campo Grande para isso se tornar realidade. Acho que os empresários da região, a própria prefeitura junto com a federação, poderiam investir nisso, seria um gasto bem mais baixo do que foram feitos em outros estádios. Acho que a Zona Oeste merece isso.

Mesmo sem equipe profissional por algum tempo e com o estádio inviabilizado para jogos oficiais pela Federação e pelos bombeiros, o Campo Grande não parou o trabalho nas categorias de base, que sempre foi uma referência no clube. De lá saíram jogadores como Dadá Maravilha, Vagner Love, Valdir Bigode. 

- A gente manteve a base, hoje temos equipes do Sub-10 até Sub-17 em atividade, sempre participando dos campeonatos das categorias e revelando vários bons atletas. Agora temos a oportunidade de ter o time profissional, que esteve parado por algum tempo por conta de problemas financeiros, mas a base sempre esteve forte e em atividade - afirmou Aristides, diretor das categorias de base do Galo.

Hoje, para alegria da população do bairro, o Campo Grande voltou à suas atividades profissionais. No último domingo, fez sua estreia na quarta divisão carioca, contra o Canto do Rio, outro clube muito tradicional, e empatou por 2 a 2, fora de casa, sob o comando de João Santos. O atual técnico da equipe foi revelado pelo clube e mostrou satisfação em estar presente nesse momento tão importante na história do Campusca, dessa vez como treinador.

- É um sentimento de gratidão. É um enorme desafio assumir o clube que me projetou para a vida futebolística, é muito gratificante. Eu não esperava que fosse neste momento, apesar de estar preparado para isso.

A atual equipe conta com jovens formados nas categorias de base do clube e com o experiente centroavante Fábio Saci, ex-Bahia e que estava no Angra dos Reis. João afirma que o objetivo é mais do que nunca conseguir o acesso.

- O grupo está trabalhando para isso. Em todas as equipes que trabalhei, sempre procuro chegar ao topo. Não podemos entrar em uma competição e pensar pequeno, temos que procurar excelência, estar a cima o tempo todo. Eu acredito nesse grupo.

A caminhada será difícil. Na quarta divisão, o Campo Grande terá a árdua tarefa de subir degrau por degrau, enfrentando todas as dificuldades possíveis para atingir seu objetivo. Levar os dias históricos de volta ao Ítalo del Cima.

*Sob a supervisão de Aigor Ojêda

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