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Figuras da Torcida: ‘Sheik do Acesso’ e a voz do Novorizontino na luta para sair do quase

Vaga na Série A bateu na trave nos últimos dois anos

Sheik do Acesso sonha com uma vaga na primeira divisão (Foto: Reprodução)
imagem cameraFoto: Reprodução
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Guilherme Lesnok
São Paulo (SP)
Dia 14/06/2025
04:00

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Muito além das quatro linhas, o futebol se firmou como uma das maiores expressões culturais do Brasil. Presente no cotidiano, ele move paixões, une comunidades e reflete aspectos sociais, econômicos e até políticos do país. Das arquibancadas aos bares, dos hinos entoados pelas torcidas às gírias que invadiram o vocabulário popular, o futebol vai além do esporte: é identidade e cultura viva. Nesse contexto, o torcedor símbolo conhecido como “Sheik do Acesso” se tornou peça fundamental na mobilização da torcida e na luta do Novorizontino por uma vaga inédita na Série A do Campeonato Brasileiro.

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Cristiano Alves Marinho, de 42 anos, é o criador do personagem “Sheik do Acesso”, surgido no embalo do sonho de ver o Novorizontino chegar à Série A. Morador de Novo Horizonte, onde também nasceu, ele trabalha como cabeleireiro e enxerga no clube a oportunidade de construir uma nova história para a cidade. 

— O Novorizontino é a alma de Novo Horizonte. É a camisa que as crianças desenham na escola. É o bar que para ver o jogo. É o orgulho de quem mora aqui. Mas o clube ainda trata isso como detalhe. Falta devolver em cultura, em presença, em participação. Futebol é cultura popular. E cultura se fortalece com respeito, não com muros — disse Sheik em entrevista exclusiva ao LANCE!.

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— Surgiu da fé. Quando tudo parecia distante, eu vesti o turbante e disse: “vamos subir!” Alguns riram. Outros duvidaram. Mas eu segui. O nome “Sheik do Acesso” representa um compromisso com a promessa. É mais que apelido. É missão. E missão não se abandona no meio da estrada — completa.

Sonho perto, vaga distante

O Novorizontino esteve muito perto de fazer história e alcançar a elite do futebol brasileiro em duas temporadas consecutivas. Em 2023, a campanha consistente — com 19 vitórias, 6 empates e 13 derrotas — levou o time a somar 64 pontos, mas a tão sonhada vaga escapou por apenas um ponto, selada de forma dolorosa na última rodada. No ano seguinte, o roteiro se repetiu. O time chegou a ter mais de 96% de chances de acesso, mas acabou ficando fora novamente. Apesar de igualar os 64 pontos do Ceará, o Tigre foi superado no critério de número de vitórias, que garantiu aos cearenses a quarta colocação e o passaporte para a Série A.

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— Foi um teste de alma. Ver o time tão perto do paraíso e não entrar dói mais do que perder por goleada. O torcedor sofreu calado, como sempre. Mas não desistiu. Cada “não” que recebemos nos últimos anos, transformamos em mais um grito, mais uma faixa, mais uma bandeira. O problema é que tem gente lá dentro que parece ter aceitado a trave como destino. O Sheik não aceita. E a torcida também não — comenta Sheik.

Em meio à expectativa, o “Sheik do Acesso” traduz em palavras o sentimento de uma cidade inteira.

— Seria a consagração de um povo. O acesso não é só número, é justiça. É a confirmação de que o interior fala alto, pisa firme e pode sonhar grande. Mas fique claro: subir sem estrutura humana é cair antes da próxima rodada. Que o clube suba com consciência. E que não se esqueça de quem empurrou a escada — explica. 

O clube e a cidade

A relação entre clube e torcida, segundo o “Sheik do Acesso”, ainda é marcada pelo distanciamento. Para ele, falta sensibilidade da diretoria em reconhecer a importância de quem apoia o time. O episódio mais simbólico, relembra, aconteceu na semifinal do Paulistão, quando, após a derrota, jogadores e comissão técnica deixaram o gramado sem sequer cumprimentar os torcedores que viajaram até São Paulo. 

— A cidade respira, sim. Mas o clube ainda não aprendeu a ouvir esse sopro. A relação com a torcida é rasa. Quase burocrática. E esse distanciamento vem de cima. Começa na presidência, nas escolhas de se calar onde se deveria construir ponte. A semifinal do Paulistão foi um retrato disso. A torcida pegou estrada, viajou para São Paulo com esperança e fé no peito. Eu estava lá. Perdemos o jogo, faz parte. Mas o fim foi o mais dolorido: o time saiu de campo sem sequer saudar a torcida. Esperamos, chamamos e nada — disse. 

Sheik e torcedores do Novorizontino (Foto: Reprodução)
Sheik e torcedores do Novorizontino (Foto: Reprodução)

— Na volta, paramos para jantar. Por coincidência, o ônibus da delegação chegou junto. No restaurante, o presidente me cumprimentou ao cruzar comigo — um encontro casual. Mas ali não era momento de cumprimentar o Sheik. Era momento de olhar para quem gritou até o fim. Tinha gente que vendeu coisa no Pix para comprar ingresso. Tinha criança com a camisa do Tigre, esperando só um gesto. E o que aconteceu? Nada. Nenhuma palavra, nenhum aceno. Isso não é sobre vaidade, é sobre respeito. A cidade cresceu. O time cresceu. E ainda assim a relação com o povo segue pequena. O Sheik segue acreditando, porque fé é coisa que não se explica, se carrega. Mas toda fé pede presença. E o torcedor não quer brinde. Quer consideração — segue.

O “Sheik do Acesso” também faz um alerta sobre os desafios que vêm junto com o sonho da Série A. Para ele, o acesso representa muito mais do que prestígio esportivo — é visibilidade, geração de oportunidades e fortalecimento econômico para a cidade.

— Muito mais do que imaginam. Mas é preciso sair do improviso. A Série A traz visibilidade, dinheiro, oportunidades — mas exige preparo. E quem não entender isso vai assistir de fora. O Sheik vê potencial em cada esquina. Mas é preciso visão de longo prazo, não só de tabela — relatou.

2025: o sonho se realiza?

No momento o Novorizontino ocupa a segunda colocação da Série B com 22 pontos, seis vitórias, quatro empates e apenas uma derrota. Neste momento, se o campeonato terminasse hoje, o Novorizontino estaria classificado para a Série A, o que aumenta a expectativa de, enfim, deixar o 'quase' para trás.

— Pode ser, sim (que suba). Porque esse ano o Novorizontino começou a corrigir o que faltava: atitude ofensiva, comando técnico e reforços de peso. A chegada do novo treinador trouxe outra postura. O time deixou de ser tímido e passou a ser mais propositivo, mais ousado. Vieram jogadores experientes, com bagagem, e isso muda o ambiente. Mas só será o ano se o clube inteiro, de dentro para fora, entender que acesso não é sorte: é preparo, entrega e respeito com quem empurra esse time no grito — disse Sheik.

Após a dor dos fracassos nos anos anteriores, o Sheik quer ver a torcida firme e exigente, mantendo acesa a chama do sonho. Se a tão sonhada vaga na Série A do Brasileirão vier, será a consagração de uma luta sustentada por vozes, resistência e esperança.

— Que sigam firmes, mas conscientes. Que aplaudam o esforço, mas não aceitem o desrespeito. Que saibam que são a alma do clube — e alma não se negocia. A arquibancada precisa ocupar espaço, exigir voz, manter o fogo aceso. O Sheik não é um. O Sheik é todos. E juntos, somos uma avalanche que ninguém segura — aponta.

— Vai ser como merece (comemoração): no chão da cidade, com o povo, com os braços para o céu. Vai ter turbante, vai ter cavalo, vai ter grito e talvez até camelo. Mas acima de tudo, vai ter verdade. Porque o Sheik não quer fama. O Sheik quer justiça. E o acesso é só o começo de uma história muito maior —.

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