Experiência de Buffon, técnico linha dura e batalha de egos. O que esperar do PSG para a nova temporada

O PSG estreia na Ligue 1 neste domingo, em casa, contra o Caen. O clube francês tem novidades para a temporada, que tem a Champions como principal objetivo da equipe

15h - LIGA DOS CAMPEÕES: O PSG de Neymar e companhia encara o Celtic na Escócia. Goleada? Siga o tempo real do LANCE! O EI Maxx transmite<br>
Neymar, Cavani e Mbappé esperam repetir números da última temporada (AFP)

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Entra temporada, sai temporada e o luta do PSG por uma conquista inédita do título da Champions League não termina. Neste domingo, o clube parisiense faz sua estreia no campeonato francês contra o Caen, mas não mistério para nenhum torcedor que o desejo máximo do clube é a taça do maior campeonato europeu. Para isso, alguns fatores podem ajudar a equipe nesta empreitada; como a chegada de Buffon, a troca de comando e o brilhantismo de Mbappé.

Projeto Qatari
Em 2011, o empresário qatariano Nasser Al-Khelaifi comprou o PSG com intuito de transformar o clube em um dos gigantes do futebol mundial. Na primeira temporada a frente da presidência do clube parisiense, o árabe contratou alguns bons jogadores da época, como Pastore, Matuidi e os brasileiros Maxwell, Alex e Thiago Motta. As negociações deram certo e a equipe foi campeã francesa da temporada 2012/2013.

Com o passar dos anos, estrelas foram se juntando ao forte elenco da equipe francesa e títulos começaram a ser acumulados, de modo que, das sete taças do campeonato nacional presentes na galeria de troféus do PSG, cinco deles foram conquistados após a injeção de dinheiro na equipe. Neste período chegaram grandes jogadores por quantias milionárias, como Ibrahimovic, Thiago Silva, Dí María, Cavani, Neymar e o mais recente deles Kyllian Mbappé. Hoje, o elenco do PSG está avaliado em 832 milhões de euros (mais de 3,5 bilhões de reais) e é o nono elenco mais caro do mundo.

Nasser Al-Khelaifi - PSG
Nasser Al-Khelaifi assumiu o PSG em 2011 (Foto: Fabrice Coffrini / AFP)

Frustrações na Champions League
No entanto, os diversos títulos da Liga Francesa, Copa da França e outros campeonatos menores, não parecem ser suficientes para atingir a meta de se tornar um gigante no futebol mundial. Diferente dos campeonatos nacionais, o PSG acumula fracassos no principal torneio de clubes da Europa. De 2012 para cá, a equipe francesa foi eliminada na Champions League quatro vezes nas quartas de final (de 12/13 até 15/16) e duas nas oitavas de final (16/17 e 17/18). Para Eric Frosio, jornalista do principal veículo de esportes da França, L'Equipe, o PSG necessita dessa conquista para subir um degrau na escala mundial.

- Ainda não é considerado um gigante, é novo, tem apenas 40 anos de história, não tem as mesmas conquistas de Real Madrid, Barcelona, Bayern de Munique e Manchester United, por exemplo. Com o investimento do Catar, a equipe conseguiu construir um elenco muito estrelado, mas o passado e os títulos não podem ser comprados. - disse o jornalista, que complementou falando como é o sentimento dos torcedores parisienses com a falta dessa taça:

- A frustração por não conquistar uma Champions varia com a faixa etária do torcedor na França. Os mais antigos, que acompanham o clube desde antes da posse de Al-Khelaifi, sabem da história, da pouca idade do clube e entendem melhor. Já os mais jovens que cresceram junto com o investimento na equipe estão mais decepcionados. - explicou Frosio ao L!

Troca no comando
Um dos fatores que pode deixar os torcedores do PSG ansiosos por um horizonte melhor está no banco de reservas. Em 2016, o clube da cidade Luz contratou o espanhol Unai Emery, que fazia grande sucesso no Sevilla, onde conquistou três títulos da Europa League consecutivos. No PSG, o técnico manteve o sucesso. Apesar de deixar escapar o título francês da temporada 2016/2017, o espanhol venceu sete títulos nacionais em dois anos no clube. Contudo, ficou faltando o título mais desejado.

Sob comando de Emery, os parisienses foram eliminados duas vezes consecutivas nas oitavas de final da Champions, frustrando o projeto qatari. No entanto, esse não foi o maior pecado do treinador. Na última temporada, as manchetes internacionais passaram semanas falando sobre um suposto "racha" no elenco do PSG. O motivo? Um desentendimento entre Neymar e Cavani sobre quem cobraria os lances de bola parada da equipe. Emery, que deveria ter tomado as rédeas da situação, foi passivo e deixou a situação tomar proporções maiores, o que contribuiu na sua demissão.

Se por um lado, o ex-treinador era inerte, por outro, o novo comandante tem fama de "linha dura" e insubordinado. Para esta temporada que se inicia, Nasser Al-Khelaifi contratou o alemão Thomas Tuchel, que dirigiu o Borussia Dortmund de 2015 à 2017. Antes dos auri-negros, Tuchel se notabilizou por fazer ótima campanha com o pequeno Mainz FC, levando a equipe a um impressionante quinto lugar na Bundesliga e vaga na Liga Europa. Uma temporada depois do feito, o alemão assinou com o Dortmund, onde foi campeão da Copa da Alemanha na temporada 2016/17.

Com uma ideia de jogo ofensiva, de troca de passes curtos, quebra das linhas defensivas e triangulações ao redor de quem está com a bola, o alemão de 44 anos fez bom trabalho no Borussia, tendo mais de 60% de aproveitamento. No entanto, apesar do bom futebol apresentado e do título da Copa da Alemanha, Tuchel foi demitido do comando da equipe auri-negra ao fim da temporada de 2016/17. A causa da demissão do treinador teria sido desentendimentos com a diretoria e alguns atletas do elenco. O treinador tinha opiniões fortes e muitas vezes se mostrava independente, com relação a decisões tomadas pelo dirigentes da equipe. No mais, se depender do novo comandante, os jogadores do PSG vão ter de mostrar maior obediência tática e disciplinar. Para o francês Stéphane Darmani, comentarista dos canais 'ESPN', Tuchel chega para colocar ordem na casa:

- O Ego atrapalhou um pouco na temporada passada, sobretudo com a chegada do Neymar. Ele se achou superior ao clube, aí desencadeou uma série de conflitos com Cavani, Dí Maria e com os torcedores. Nessa temporada, acho que isso deve ser superado, principalmente pela chegada de Thomas Tuchel, que é conhecido por ser um treinador rígido, firme e que sabe gerenciar os egos elevados dos atletas. Ele foi escolhido para comandar o clube justamente por esse motivo, então acho que essa página está virada.

A vaga de Emery, que deixou o PSG, será preenchida no clube francês por Thomas Tuchel, um alemão de temperamento forte que teve o Borussia Dortmund como clube de maior expressão no currículo
Tuchel (à direita) durante a apresentação no PSG (AFP)

Experiência de Buffon
Além da negociação de Cristiano Ronaldo que trocou o Real Madrid pela Juventus, outro acordo chamou a atenção na janela de transferências. Após 17 temporadas na Velha Senhora, o goleiro Gianluigi Buffon deixou o clube italiano para se juntar ao PSG, no que pode ser sua última temporada. Aos 40 anos, a lenda italiana foi contratada à custo zero pelo clube francês após encerrar o contrato com a Juve. O arqueiro chegou a anunciar que se aposentaria ao fim da temporada, mas voltou atrás para reforçar a equipe de Thomas Tuchel.

Com a chegada de Buffon, a maior virtude que o PSG ganha é a experiência. Num elenco jovem e com problemas de relacionamento no elenco, o italiano pode passar mais tranquilidade e conhecimento para os companheiros de equipe. Apesar nunca ter conquistado uma Champions League, o ex-goleiro da Azzurra tem carreira multicampeã. Os 21 títulos na Itália e a taça da Copa do Mundo de 2006 são algumas das credenciais do goleiro para assegurar a posição de titular na meta francesa e passar mais experiência internacional para os companheiros em momentos decisivos, como em partidas da Liga dos Campeões.

Buffon é apresentado no PSG
Buffon desistiu da aposentadoria para jogar um ano em Paris (AFP)

Protagonismo de Mbappé?
Na última temporada, a tríade Neymar, Cavani e Mbappé teve desempenho impressionante. Neymar, apesar da grave lesão, fez 28 gols e deu 16 assistências em 30 jogos, Cavani se tornou o maior artilheiro da história do PSG, marcando 40 vezes e distribuindo 11 assistências, enquanto que Mbappé balançou as redes em 21 oportunidades, além dos 15 passes para gol. No entanto, uma pergunta chama a atenção para a próxima temporada. Será o trio, mais uma vez eficiente em conjunto ou algum deles leva vantagem na disputa? Se depender da publicidade envolvendo um dos três, quem leva vantagem é Mbappé. O L! conversou com Eduardo Esteves, dono do portal 'MKT Esportivo' que explicou a situação:

- É um panorama completamente normal e esperado. O Marketing Esportivo é desempenho, e o mercado publicitário é um reflexo disso. Nesse caso, Mbappé sendo destaque na Copa, ele passa a figurar nas campanhas publicitárias, é uma imagem que nesse momento é vitoriosa. É natural, as empresas querem que seu produtos sejam promovidos por quem está em alta. O garoto francês gerou muito apelo, por isso estampa os outdoors e sai como garoto propaganda tanto pelo clube, tanto por patrocinadores. - disse o profissional que tem MBA em Gestão Esportiva.

De fato, Mbappé sai na frente nessa disputa. Além de fazer bonito na última temporada, o francês têm um fator que o deixa em vantagem em relação aos outros dois; a Copa do Mundo da Rússia. O garoto de 19 anos ganhou de vez o coração dos franceses após vencer o Mundial de 2018 no último mês de julho. Com 4 gols, Mbappé teve ótimo desempenho e foi peça fundamental no título conquistado pela equipe de Didier Deschamps, o que rendeu ao atleta o prêmio de melhor jogador jovem da competição. Segundo Darmani, ainda é cedo para Mbappé assumir o protagonismo no PSG:

- Acho difícil o Mbappé assumir o protagonismo no PSG agora. O Neymar continua acima, ele precisa dar a volta por cima nessa temporada, depois da imagem que deixou na Copa do Mundo, então vejo o brasileiro muito motivado, principalmente nos jogos grandes. Mbappé tem 19 anos, vem numa crescente muito grande, está num nível de atuação excelente, fez boa Copa do Mundo e saiu campeão, mas ainda é muito novo, terá muito tempo para assumir esse protagonismo. - explicou o comentarista francês.

Ídolo da França e um dos grandes nomes da Copa, Mbappé acumula recordes importantes em sua carreira
Mbappé foi um dos destaques da França na Copa do Mundo (AFP)

Imagem de Neymar no pós Copa e duelo de egos com Cavani
Se as troca de técnico, a chegada de Buffon e o brilhantismo do Mbappé apontam para um horizonte de glórias maiores, outros fatores podem atrapalhar o clube do shiek árabe na busca pela orelhuda. Um outro motivo que qualifica Mbappé como principal atleta para comandar as ações no ataque do PSG é a péssima imagem de Neymar depois da Copa do Mundo. Mesmo com os ótimos números da sua primeira temporada no futebol francês, o jogador de 26 anos não parece ter conquistado a empatia dos adeptos do clube de Paris.

Em setembro do ano passado, durante uma partida contra o Lyon na Ligue 1, Neymar se envolveu em confusão com Cavani à cerca de quem bateria uma penalidade. Na oportunidade o brasileiro cobrou o pênalti e marcou o gol; mas com o descontentamento de Cavani e os torcedores do PSG tomando as dores do uruguaio, o camisa 10 começou a ser vaiado pela torcida nos jogos seguintes. Contudo, meses se passaram e o episódio foi ficando esquecido, mas a torcida do clube francês nunca teve o mesmo apreço que tem pelo camisa 9 e agora por Mbappé; e esse fato se agravou ainda mais depois da Copa do Mundo de 2018.

Neymar e Cavani
Relação Cavani-Neymar foi estremecida na última temporada (AFP)

No Mundial da Rússia, além do baixo desempenho que era esperado do craque, marcando apenas dois gols e pouco eficiente na maioria das jogadas, o brasileiro ficou marcado pelas quedas exageradas em disputas de bolas com os adversários. Criticado por toda imprensa e torcedores do mundo todo, o atleta virou motivo de piadas na internet; pessoas ao redor do planeta criaram o #Neymarchallenge, onde a brincadeira consistia em todos ficando de pé e quando alguém gritava "Neymar", todos caiam no chão, fingindo lesões. O camisa 10 da Seleção Brasileira chegou a ser protagonista de um vídeo de um patrocinador, tentando se justificar da situação, mas não foi bem digerido pelos brasileiros. O jornalista do 'L'Equipe' afirma que a imagem do craque nunca esteve tão manchada:

- A imagem de Neymar está péssima devido a Copa do Mundo, nunca esteve tão ruim. O próprio torcedor do PSG está chateado com ele, quer ver o brasileiro mais generoso e entrosado com o time. Tudo que ele conquistou até agora ficou no passado, está na hora dele acordar, recomeçar do zero e justificar o preço que o PSG pagou por ele. - falou o repórter do veículo francês, Eric Frosio.

No entanto, o proprietário do site 'MKT Esportivo' pondera, dizendo que é compreensível que Neymar esteja em baixa, mas diz que o jogador já está consolidado no futebol internacional e com o tempo vai voltar a ser a estampar marcar, conquistar espaço com os patrocinadores e figurar novamente nas propagandas do Paris Saint Germain:

- Se Neymar fosse utilizado agora soaria um pouco negativo, por causa do desempenho na Copa. Mas eu não vejo grandes reflexos com relação a isso à longo prazo. Na última sexta-feira mesmo, a Nike já fez um comercial com a participação do jogador. O camisa 10 não se envolveu em nenhuma polêmica, não protagonizou nenhum caso absurdo. Estamos falando de Neymar, é uma figura consolidada no cenário internacional, uma imagem que vende, midiática, que tem muita influência e leva pessoas ao consumo. - comentou o publicitário Eduardo Esteves.

Neymar
Neymar saiu com fama de cai-cai e virou meme pós Copa (Divulgação)

Investigação da "quebra" do Fair Play Financeiro
Um outro agravante que gera preocupação para a temporada são as contratações. Diferente das últimas janelas, o PSG foi tímido no mercado no último mês. A equipe francesa trouxe apenas o goleiro Buffon, à custo zero, e promoveu alguns atletas da equipe B para reforçar o elenco principal. A baixa ação na janela se explica pelo Fair Play Financeiro. Instituído em 2010 pela UEFA, o programa visa manter o equilíbrio financeiro das contas dos clubes. As principais equipes podem gastar em contratações apenas 30 milhões a mais do que o clube recebeu. E de acordo com a entidade máxima europeia, o PSG não está seguindo esses padrões.

Em julho e agosto do ano passado, o clube parisiense realizou a contratação de Neymar por 222 milhões de euros e Yuri Berchiche por 18 milhões de euros. Os altos valores chamaram a atenção da UEFA que abriu investigação contra o clube, que inclusive se posicionou publicamente afirmando que ajudaria a entidade na busca. No entanto, apesar de não ter confirmação de infração desta medida e nenhuma punição com relação a isso, o PSG preferiu não recrutar nenhum atleta por altos valores com medo de uma futura condenação por violação do Fair Play Financeiro. Segundo o jornalista da 'ESPN', o clube da cidade Luz pode ter problemas falta de reforços.

- Essa inatividade do PSG no mercado por atrapalhar a equipe principalmente em duas posições. Primeiro na lateral-esquerda, onde houve a saída do Berchiche e não chegou ninguém para reposição. O Kurzawa é uma opção, mas terminou a temporada passada em baixa. E o segundo setor é o meio campo, onde as opções de primeiro volante na equipe são poucas, visto que Thiago Motta se aposentou e Diarra não convenceu até aqui. Embora existam essas duas posições carentes, o restante do elenco é recheado de ótimos atletas e pode pensar grande na temporada. - disse Stephane Darmani ao L!

Sem dúvidas, o PSG é franco favorito ao título do Campeonato Francês como nos últimos anos. A grande questão está na Champions, todos esses fatores ajudam e prejudicam a equipe em algum ponto. Resta aos torcedores parisienses, torcer para que os aspectos positivos superem os negativos e o projeto qatari não falhe por mais um ano. O PSG estreia neste domingo contra o Caen, no Parc des Princes, buscando a vitória para começar a temporada com o pé direito.

*Sob supervisão de Bernardo Cruz

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