#LancePelaPaz: Árbitro do clássico mineiro diz que repensa carreira após ameaças: ‘Família não sai de casa’

Igor Benevenuto apitou Atlético-MG e Cruzeiro e marcou um pênalti para o Galo. O profissional revelou ainda não ter voltado para casa, com medo do que pode acontecer

Igor Benevenuto
Igor Benevenuto, de 41 anos, tem sofrido ameaças desde o último domingo (Reprodução/Instagram)

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O ábitro Igor Benevenuto vive um drama após a partida entre Atlético-MG e Cruzeiro. Responsável pelo comando do jogo do último domingo, o mineiro de 41 anos marcou um pênalti para o Galo, que venceu o jogo por 2 a 1. Em papo exclusivo com o LANCE!, o profissional revelou que tem sofrido ameaças desde então e que ainda não voltou para casa.

- Antes do clássico, alguns torcedores me mandaram mensagens dizendo que iam ficar de olho em mim. Após o jogo que foi pior. Passaram de carro na porta da minha casa várias vezes. Ainda não voltei para casa, o mesmo carro tem rodado lá. Não sei como vou fazer. Fora as mensagens no Instagram e WhatsApp, minha vida virou uma tristeza. Muitas ameaças, o que me deixa com muito medo. Por causa de uma partida de futebol, as pessoas cometem barbaridades, e eu não vou pagar para ver - lamentou o árbitro.

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O Cruzeiro vencia o jogo até os 40 minutos do segundo tempo, quando Hulk converteu a penalidade marcada por Benevenuto. Nos acréscimos, o time de Antonio Mohamed virou. A decisão do árbitro no lance foi apoiada pela comissão de arbitragem de Minas Gerais. Igor falou sobre segurança do trabalho no Brasil e o que precisa melhorar neste aspecto.

- Hoje, até certo ponto eu me sinto seguro, mas tenho receio, principalmente dessas arenas mais modernas, que tem o campo mais exposto. Tem lugares do estádio que a PM não atua, só os seguranças. A facilidade que o torcedor tem para o acesso ao campo é muito grande. O Brasil não está preparado socialmente, culturalmente e intelectualmente para ter esse tipo de proximidade do torcedor ao gramado - opinou Benevenuto, que emendou:

- Devido a impunidade e as leis que são arcaicas, que já deveriam ter sido mudadas há muito tempo, tornam o futebol hoje um pouco inseguro. O que precisa mudar, não só para a arbitragem, mas também para os atletas e os torcedores de bem, são leis mais punitivas. Os órgão públicos tem que agir com mais rigor. Tem que ser tudo monitorado, para minimizar esses fatos, fazer um trabalho grande de inteligência da polícia, como foi feito com torcidas no exterior - completou.

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Antes do clássico mineiro, um torcedor foi morto em uma briga de torcidas em Belo Horizonte. O rapaz foi baleado e não resistiu aos ferimentos na manhã do domingo. Igor Benevenuto contou que mora com uma tia e um avô, de 83 anos, e que os dois estão com medo de sair à rua por conta dos recentes acontecimentos e ameaças.

- É claro que eu penso na minha família. Tenho sorte que minha mãe, felizmente não está morando aqui hoje. Mas moro com a minha tia e meu avô, que está acuado e tenso com tudo que ocorreu. Morrem de medo de sair na rua. Penso neles e em mim. Hoje é quinta-feira e eu ainda não voltei em casa. Repenso minha carreira, até onde vale a pena, arriscar sua vida e a dos familiares. É uma situação terrível essa pressão psicológica - desabafou o árbitro.

Nas últimas semanas, o Brasil presenciou algumas cenas de violência como os ataques aos ônibus de Grêmio e Bahia. O goleiro do Esquadrão, Danilo Fernandes sofreu cortes e precisou ser hospitalizado. No México, a partida entre Querétaro e Atlas foi marcada por selvageria entre torcedores. Igor Benevenuto comentou os recentes acontecimentos e apontou um fator que pode amenizar esses tipos de situações.

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- Eu não consigo ver uma solução para essas cenas de barbaridade que estamos vendo há algumas semanas. De imediato, eu acho que os dirigentes dos clubes tem que se unir, se mostrarem respeitosos entre si, e darem esse exemplo. Eu acho que a atitude de um profissional de um clube reflete na torcida. Se um dirigente ou jogador é agressivo com o árbitro, essa é a mensagem que ele passa para a torcida. A intolerância está muito grande e a falta de respeito ao próximo também - disse Benevenuto, antes de finalizar:

- As pessoas têm que entender que o árbitro nunca vai ser perfeito. Ele vai se equivocar, é um ser humano, assim como um atacante que erra um pênalti ou um goleiro que franga. A primeira solução é empatia. E depois, tem que ser criadas novas leis para esses casos. Estamos chegando em um ponto que vai ser impraticável. Vamos esperar ter mais mortes para ter uma solução? Tem que capacitar a arbitragem também. Por quê os clubes não tentam ajudar a arbitragem no Brasil a ter contrato de trabalho, para viver exclusivamente disso e se dedicar a profissão? Vai ter muito mais resultado positivo, mas é muito mais fácil criticar - concluiu Benevenuto.

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