É errado brasileiro torcer para a Argentina? Jornalista explica rivalidade entre os países

Jornalista Ariel Palacios comentou sobre aspectos históricos que geraram essa rivalidade entre as nações sul-americanas

Montagem Torcidas Brasil x Argentina
Torcedores brasileiros e argentinos na Copa do Mundo do Qatar (Foto:EFE/EPA/Neil Hall; EFE/EPA/Friedemann Vogel)

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A Copa do Mundo do Qatar chega ao fim neste domingo com um histórico duelo entre Argentina e França. Por ser o último Mundial de Lionel Messi, um grande número de torcedores brasileiros estão admitindo torcida para o tricampeonato dos 'hermanos'.

Sendo assim, o LANCE! entrevistou o jornalista brasileiro Ariel Palacios - que é correspondente da Globo News em Buenos Aires - para entender mais sobre a rivalidade entre os dois países. Ao lado de Guga Chacra, o jornalista escreveu o livro 'Os Hermanos e Nós', que detalha lendas urbanas da relação entre Brasil e Argentina no futebol.


Ariel falou sobre a relação histórica entre Brasil e Argentina, tanto no campo geopolítico quanto no meio do futebol. O jornalista ainda afirmou conhecer diversos brasileiros que irão torcer por uma vitória da equipe comandada por Lionel Scaloni sobre Mbappé e companhia neste domingo.

"São 11 atletas de um lado e 11 do outro. As pessoas precisam recuperar o prazer em assistir o futebol e deixar de lado o passaporte dos jogadores"

- Ariel Palacios

- Sim, conheço muitos. É um fenômeno que cresceu ao longo dos últimos anos. Quando as sociedades de dois países passam a se conhecer melhor e começam a desaparecer os medos ou ódios arcaicos de setores mais primitivos (tanto da Argentina para o Brasil como do Brasil para a Argentina) é normal que existam sentimentos positivos em ambas direções. Ora, é como as pessoas da França e da Alemanha, países que foram inimigos geopolíticos durante décadas mas que há mais de meio século possuem um entrosamento fenomenal. Até porque, quando ocorre um jogo entre seleções de dois países, não são as sociedades que se enfrentam. São 11 atletas de um lado e 11 do outro. As pessoas precisam recuperar o prazer em assistir o futebol e deixar de lado o passaporte dos jogadores - iniciou Ariel.

ariel palacios
Ariel é correspondente da Globo News em Buenos Aires (Foto: Reprodução / Globo)

Ariel Palacios também afirmou que, por parte dos argentinos, a rivalidade com o Brasil é 'apenas mais uma'. De acordo com o jornalista, Uruguai, Chile e até mesmo Inglaterra são rivais ferrenhos da Argentina.

"Há uma monogamia brasileira nessa relação futebolística. No entanto, do lado argentino, o Brasil é apenas um dos vários rivais"

- No Brasil a gente geralmente considera que a Argentina é nosso maior rival no futebol. Há uma monogamia brasileira nessa relação futebolística. No entanto, do lado argentino, o Brasil é apenas um dos vários rivais. Por um lado, está a rivalidade argentina com o Uruguai, que é a rivalidade mais antiga no futebol. Além disso, a frequência é mais intensa do que com o Brasil. A seleção argentina jogou o dobro de vezes com a uruguaia do que com a brasileira. Aí entrou em cena o Brasil. Foi rival nos anos 60 e 70. Mas em 1982, devido à guerra das Malvinas, a Argentina passou a encarar a Inglaterra como a seleção que mais queriam derrotar. Não é à toa que os dois gols mais recordados pelos torcedores argentinos não são contra o Brasil. São contra a Inglaterra, na Copa de 1986. Além disso, nos últimos anos, surgiu a rivalidade contra o Chile, devido a questões geopolíticas também, mas nos últimos anos principalmente pela Copa América - disse o correspondente.

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O jornalista, que nasceu na Argentina, se formou na Universidade Estadual de Londrina, no Paraná. Ele revelou que torce apenas para a Seleção Brasileira no futebol, porém, ama assistir todo e qualquer jogo. Na opinião dele, as pessoas têm o direito de torcer para quem quiserem.

" Não vejo problema algum em brasileiros torcendo pela seleção argentina. Não sou um fiscal ideológico ou futebolístico para fiscalizar quem torce por quem. Fiscalizar é coisa de quem tempo de sobra"

- Eu, pessoalmente, só torço pelo Brasil. E, quando o Brasil não está presente em um jogo, eu não torço. No entanto, me divirto vendo um jogo, seja um Mongólia x Burundi ou um Argentina x França. Uma pessoa pode se divertir vendo um jogo. Tal como assistir uma ópera, que eu adoro. Mas não é obrigatório torcer por algum jogador, da mesma forma como não tenho que torcer por um personagem de uma ópera contra outro. Mas, não vejo problema algum em brasileiros torcendo pela seleção argentina. Não sou um fiscal ideológico ou futebolístico para fiscalizar quem torce por quem. Fiscalizar é coisa de quem tempo de sobra - explicou.

O jornalista acredita que os brasileiros não odeiam os argentinos e que a torcida para que Messi vença uma Copa do Mundo engloba também torcedores de todo o mundo. Ele aproveitou para fazer um paralelo entre as personalidades do atual camisa 10 e Maradona, a quem fez duras criticas sobre a vida pessoal. 

"O Messi é um cara legal, ao contrário de Maradona, que era um racista, homofóbico, misógino, espancador de mulheres, pedófilo e apoiador de ditaduras"

- Considero que sempre existiram brasileiros que gostaram da Argentina. Mesmo há 50 anos, quando existia uma tensão geopolítica entre as ditaduras militares dos dois países muitas pessoas no Brasil gostavam da Argentina e vice-versa. Os argentinos, nos anos 60 e 70 começaram a ficar fascinados pela música brasileira. E a partir do final dos 70, adquiriram um costume nacional: ir de férias anualmente ao Brasil em massa. Conheceram o Brasil. E gostaram do Brasil. O mesmo fenômeno ocorreu do lado brasileiro, só que é mais recente, nos últimos 15 anos, com turistas indo em massa à Argentina. Aliás, Buenos Aires é o principal destino turístico para os brasileiros que fazem sua primeira viagem ao exterior. Se os brasileiros odiassem mesmo a Argentina não viajariam a para lá. Percebo que há um crescente número de pessoas não-argentina em todo o planeta que torcem pelo Messi. De forma geral nem sabem os nomes dos outros jogadores argentinos. Elas torcem apenas pelo Messi. Ora, ele é um cara legal, ao contrário de Maradona, que era um racista, homofóbico, misógino, espancador de mulheres, pedófilo, apoiador de ditaduras de esquerda e de direita, simultaneamente. Messi é um cara caladão, que não fala em terceira pessoa, que não queria ser o líder, é modesto... E, de quebra, ele ainda tem amigos jogadores do Brasil, do Uruguai - detalhou o jornalista.

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As seleções de Brasil e Argentina já se enfrentaram 109 vezes na história, sendo quatro enfrentamentos em Copas do Mundo. Com 26 empates, 43 vitórias para a Seleção Brasileira e 40 para os 'hermanos', as equipes protagonizam uma das maiores rivalidades do futebol mundial. Enquanto existir esse esporte, essas duas nações pretendem ser competitivas ao extremo, em cada bola, em cada lance ou até mesmo no canto das torcidas.

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