Luiz Gomes: ‘O Flamengo agora será um outro Flamengo. Só que não!’

'O que mais se ouviu essa semana no futebol, além, é claro, do litígio entre Messi e o Barcelona e o futuro do argentino, foi que Domènec Torrent não vai ter mais desculpa'

Domènec Torrent - Flamengo
Domènec Torrent teve semana livre para treinos no Flamengo (Foto: Alexandre Vidal/Flamengo)

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A Vila Belmiro será testemunha de um novo Flamengo neste domingo. Um Flamengo entrosado, em que os jogadores mesmo mantendo suas posições em campo saberão direitinho o que fazer. Os passes serão precisos como música. A posse de bola será objetiva, vertical, buscando o gol do primeiro aos 90 minutos de jogo. Haverá intensidade, entrega total da equipe em campo. Mas será que vai ser assim mesmo?

O que mais se ouviu essa semana no futebol, além, é claro, do litígio entre Messi e o Barcelona e o futuro do argentino, foi que Domènec Torrent não vai ter mais desculpa, que agora teve uma semana livre para treinar o time e moldar o Flamengo à sua imagem e semelhança. Não estamos falando de um mês, de uma pré ou intertemporada. Mas de uma mísera semana, notem bem. É brincadeira.

Quando Jorge Jesus se demitiu e decidiu voltar para a Terrinha para dirigir o Benfica, o discurso na Gávea era o de buscar um treinador que tivesse a mesma filosofia de jogo. Não se sabe se isso foi uma premissa na conversa com o catalão. Se foi, ou ele interpretou muito bem um personagem que não era ele ou faltou um mínimo de informação aos dirigentes rubro-negros. Ou as duas coisas se somaram. Mas o que se vê na prática é algo bem diferente disso.

Demissões precoces de treinadores, após duas, três ou quatro derrotas - só neste Brasileirão já foram quatro os demitidos em quatro rodadas - são um mal do futebol tupiniquim. Uma prova da incapacidade da cartolagem de pensar um pouco mais adiante, de levar a cabo qualquer planejamento mesmo que seja de curto prazo. Mas, convenhamos, tem muito treinador por aí que ajuda a alimentar essa máquina moedora da profissão.

Por que mudar tudo? Por que ignorar o que vinha dando certo e levou o Flamengo a conquistar tantos títulos em um ano com JJ. Essas são perguntas difíceis de Dome responder. Em nome de uma crença, de um estilo de jogar? É muito pouco. E, quando os resultados não chegam, fica ainda mais difícil de o torcedor e até mesmo boa parte da mídia aceitar.

A virtude primeira de um treinador deveria ser sua capacidade de analisar e entender o ambiente em que se insere e o elenco que tem em mãos para trabalhar. Isso vale tanto ou mais do que o conhecimento técnico, o domínio das táticas e dos esquemas de jogo. Até porque uma filosofia de jogo só será implementada se houver material humano que a faça rodar. Tentar fazer com que uma tartaruga corra ou um galo voe nunca vai dar certo.

Mas o Flamengo não tem o melhor elenco do Brasil? Tem sim. Não são jogadores de nível internacional que se adaptam a qualquer esquema? Não é bem assim. O Flamengo montou um elenco para jogar do jeito de Jesus. Não de Domènec. E que simplesmente se acostumou a jogar assim. Isso pode mudar? Claro que sim, talento não falta. Mas é preciso diálogo, liderança e acima de tudo tempo. Muito mais do que uma semana. Se Dome - que tem contrato com o clube até dezembro de 2021 - vai entender isso, aceitar a realidade e impor seu jogo aos poucos, o tempo vai dizer. O outro final é morrer abraçado a suas verdades.

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