Luiz Fernando Gomes: O futuro do Flamengo em jogo

O Flamengo de Abel ainda está longe de mostrar-se um time à altura do elenco que tem

Flamengo x Vasco - Abel Braga
Técnico Abel Braga vive momento de apreensão no Flamengo (Foto: Celso Pupo/Fotoarena)

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Talvez, a maior crítica que se faz a administração de Eduardo Bandeira de Mello no Flamengo seja a descartabilidade de treinadores, nada menos do que 14 em seis anos, uma absurda média de um a cada cinco meses, recorde na história do clube. Essa falta de sequência nos trabalhos, se não determinante, foi fator considerável para que o mandatário não conseguisse atingir dentro do campo os mesmos bons resultados que sua gestão conquistou na reestruturação do clube e no equilíbrio das contas.

Antes de completar cinco meses no comando a atual diretoria rubro-negra já ameaça enveredar pelo mesmo caminho. A contratação de Abel Braga foi um trunfo de campanha do presidente Rodolfo Landim. O nome, considerado à época de forte impacto sobre o eleitorado, surgiu como um sinal de que novos ventos varreriam a Gávea pondo fim de uma vez por todas à era do cheirinho de campeão que tanto frustou a Nação nos últimos anos. Depois da eleição, à confirmação do treinador juntou-se a montagem de um elenco milionário com Arrascaeta, Gabigol, Bruno Henrique, Rodrigo Caio e companhia.

Como não poderia deixar de ser, a euforia tomou conta do torcedor. E daí foi um passo para que a confiança em bons resultados se transformasse em algo ainda mais incisivo: a obrigação de vencer sempre e em qualquer circunstância. Isso, pouco a pouco, foi tornando o ambiente do Flamengo um crescente caldeirão de intrigas e pressões de toda sorte. Os adeptos do chamado fogo amigo voltaram à carga nas arquibancadas, na mídia, nos conselhos do clube e, o que é mais grave, dentro da própria diretoria de Landim.

Esta, diga-se de passagem, é outra característica que aproxima a atual administração do que se viu na gestão anterior. Ao longo dos seis anos de seu mandato, Bandeira de Mello foi perdendo força política. Não foram poucas as vezes em que fez o discurso da continuidade, defendeu publicamente a permanência de treinadores e acabou sendo voto vencido, sucumbindo a pressões e demitindo-os dias depois. A nota oficial divulgada no final da semana por Luiz Eduardo Baptista, o Bap, vice-presidente de relação externas, defendendo Abel sem que o vice de futebol Marcos Braz sequer tivesse sido informado, é um sinal inequívoco que já não há assim tanta harmonia no poder rubro-negro.

O Flamengo de Abel está longe de mostrar-se um time à altura do elenco que tem. As indefinições do treinador, especialmente do meio para frente, parecem demonstrar uma certa dificuldade em lidar com tantas estrelas que tem nas mãos. As sucessivas mudanças de posição de alguns jogadores, a demora em definir os titulares foram minando, na visão de muitos, a confiança no trabalho.

Mas, se a evolução técnica deixa a desejar, os números jogam a favor de Abelão. Um levantamento do programa Troca de Passes, do canal SporTv mostrou um aproveitamento de 69,4% do treinador com 24 jogos oficiais, 15 vitórias, cinco empates e quatro derrotas, um desempenho que supera com folgas a média e todos os 14 treinadores da gestão Bandeira que é de 54,5%. E, ainda que isso não represente nada, seja mera estatística, o Fla de Abel venceu três dos quatro títulos que disputou: a Florida Cup, a Taça Rio e o Carioca 2019.

É bem verdade que, das quatro derrotas do ano, duas tiverem um custo alto: o Peñarol, em pleno Maracanã, e a LDU em Quito. Foram elas o estopim das baterias anti-Abel. Os jogos de hoje contra o São Paulo, mesmo com um time considerado reserva, e do meio da semana contra novamente os uruguaios, em Montevidéu, serão decisivos para o futuro do técnico. Dificilmente ele sobreviveria a mais uma vexatória eliminação na fase de grupos da Libertadores.

A questão que uma eventual saída de Abel vai outra vez trazer à toma é a visão imediatista dos dirigentes, reféns de resultados. Quatro meses, ainda que com um time recheado de craques, não é tempo para avaliar, julgar e condenar o trabalho de um técnico. Ainda mais um técnico com o passado vencedor e o perfil de Abel Braga. Um antídoto clássico é o de Tite, eliminado na Libertadores pelo Tolima, que sustentado por Andrés Sanchez contra tudo e contra todos acabou levando o Corinthians ao título mundial.

Uma mudança de técnico nas circunstâncias atuais do Flamengo certamente vai agradar a muitos. Os riscos, contudo, pelo precedente que abre para repetir-se o passado recente, são sem dúvidas muito maiores.

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