‘Balô’, Gabigol, Marí… Spindel passa a limpo negociações e explica ‘fórmula do sucesso’ dos reforços do Flamengo

Diretor executivo do Flamengo 'abre o jogo' sobre trabalho à frente do departamento de futebol, busca por reforços e cita desafios na manutenção do elenco campeão em 2019

Spindel, Braz, Landim e Belotti na apresentação de Gabigol
Alexandre Vidal / Flamengo

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Se dentro das quatro linhas o Flamengo alcançou "outro patamar", as circunstâncias que levaram o time a este status passam pela reestruturação administrativa e financeira do clube como um todo, inclusive do departamento de futebol. Hoje, quem responde diretamente pelo carro-chefe do Rubro-Negro são Marcos Braz, vice-presidente, e o diretor Bruno Spindel. Este segundo, atendeu o LANCE! e passou a limpo o trabalho realizado na pasta desde 2019.

Com os dois à frente das negociações, nomes como Rafinha, Gabigol, Filipe Luís e Gerson, entre outros, chegaram à Gávea. Apostas também vieram, deram resultado em campo e na parte financeira, como Pablo Marí, negociado com o Arsenal (ING). Spindel detalhou os desafios no comando do futebol, falou sobre a busca por nomes como Balotelli e Pedro e destacou os processos adotados pelo clube para que o percentual de acerto nas contratações seja tão elevado desde a última temporada. E o mais importante: sempre visando as conquistas.

- O processo passa pelo treinador, scouts, gerências, vice-presidência, conselho de futebol, financeiro, presidente, planejamento... Olhar o processo de forma multifacetada, por todas as óticas - financeira, esportiva, o comportamento do jogador, os detalhes -, que a estrutura receba bem e dar o peso adequado para cada um destes lados da contratação. É um processo equilibrado onde cada um tem seu peso. É lógico que o presidente é quem tem a caneta e o treinador é fundamental. E, depois, receber bem o atleta aqui, e nisso o Jorge e o grupo têm méritos muito grandes. O mais importante é saber que o que importa aqui é ser campeão. Quem está chegando chega para somar. E quem chega tem a consciência de que a competição interna faz parte e o melhor para o grupo é ser campeão - afirmou Spindel, perguntado sobre a "fórmula do sucesso" do departamento de futebol no mapeamento do mercado e na busca por reforços.

 'O nível de competição interna ajuda o grupo ficar mais forte para alcançar os objetivos, fora as opções para o treinador e fazer frente com o calendário que temos aqui (no Brasil).'

Na entrevista exclusiva ao L!, Bruno Spindel reforçou que, por ora, a diretoria ainda não iniciou as tratativas com Diego Alves e Diego, dois dos capitães e líderes do elenco e com contrato até o fim de 2020. Isso porque o foco total, no momento, está na renovação de Jorge Jesus. O diretor ainda deu as impressões sobre o elenco atual e a competitividade trazida pelos reforços, os desafios no comando do futebol do Flamengo e reforçou a mentalidade que domina a Gávea: tornar o clube em uma "referência global".

- Em todos aspectos: esportivo, comercial, marketing, comunicação, financeiro... O sonho é esse. O Flamengo já tem a maior torcida do mundo e, agora, busca atingir esse patamar em todos fatores. Ainda falta muito. Serão as conquistas e o que vem junto a elas que nos darão o caminho a trilhar até o topo - afirmou.

Capitães do Mister e líderes do vestiário, Diego Alves e Diego têm contratos até o fim de 2020. Há movimentação do clube pela renovações neste momento?

Ainda não iniciamos, mas são grandes jogadores, importantes demais em tudo que conquistamos e no que espero que a gente conquiste neste ano, mas ainda não iniciamos esse processo.

E quanto ao contrato de Rafinha: o clube sente-se protegido no caso de uma oferta de clube europeu?


Não vou abrir coisas do contrato. Há toda uma parte que não se pode comentar. 100% protegido? Todo contrato tem suas cláusulas e sempre dependerá da vontade do clube, da vontade do atleta, e da vontade de um terceiro clube. O que posso dizer é que o Rafinha... Na verdade não preciso nem dizer. O torcedor sabe, quem acompanha futebol sabe, todos sabem da performance e da liderança dele. É um cara fundamental para o clube. O que o Guardiola fala no livro dele, sobre o Rafinha, é um cara fundamental. A importância que tem dentro e fora do campo é enorme. O clube está muito feliz com ele, e espera que ele fique, ajude o clube a conquistar os títulos. O que pudermos fazer para ele ficar, vamos fazer.

Lincoln, agente do Rafinha, esteve no Ninho do Urubu no início deste ano. A visita faz parte de um processo de negociação pela valorização do atleta?


Sempre falamos com o Lincoln. Sobre vários assuntos. Desde que a gente começou a conversar com o Rafinha lá atrás, sempre tivemos uma relação muito boa, sempre estamos em contato com o Lincoln. É uma relação boa e faz parte do trabalho estar sempre falando com os agentes, com os jogadores, é uma coisa normal.

Há preocupação pelo interesse de clubes do exterior em algum jogador do Flamengo neste momento?

O Flamengo, cada vez mais, trabalha com antecedência e planejamento. Um dos focos do planejamento para 2020 era manter o grupo. Elenco, técnico, estrutura, tudo o que o Flamengo conquistou, nós sabemos que é raríssimo. Um grau de dificuldade enorme. Desde que o Campeonato Brasileiro começou, em 1971, nenhum clube brasileiro havia vencido junto com a Libertadores. Foi a primeira vez que isso aconteceu. O Santos ganhou, mas em um formato com menos jogos no Brasileiro, que foi reconhecido depois pela CBF. Neste formato, foi a primeira vez que aconteceu e o clube reconhece a grandeza e a dificuldade da conquista, e o quanto os jogadores merecem ser reconhecidos. O caminho para o Flamengo atingir estes objetivos e objetivos ainda maiores, o ponto fundamental era manter o grupo. Acho que atingimos, salvo pequenas mudanças, esse primeiro objetivo de planejamento. Pode acontecer? Pode, mas nos antecipamos a esse ponto. Risco, tudo na vida sempre tem, mas o nosso foco foi manter o grupo e conseguimos atingir esse objetivo. O grupo já está dando resultado esse ano. O grupo foi qualificado, aumentaram as alternativas para o treinador e a competição interna no dia a dia. Isso é uma característica da vida como um todo, mas muito peculiar do esporte. Tendo alguém como referência e competindo lado a lado com você no dia a dia, faz com que o atleta atinja patamares mais elevados.

'(O Mister) Já conhecia o Pablo (Marí) quando o scout trouxe o nome dele. Disse que queria muito o atleta e nós fomos atrás. Tivemos vários méritos, mas o Pablo, ao conhecer o projeto, teve a vontade e a coragem de fazer esse movimento diferente no futebol. Era um zagueiro do Manchester City'

Manter a base do grupo ou contratar os reforços: o que foi mais trabalhoso neste período?

Um jogador que é fundamental para nós e foi super complexo foi o Gabriel (Barbosa). Não só ele, mas todos que fizemos esforços correspondem no dia a dia e no que trazem ao clube e ao torcedor em campo. Foi o que levou mais tempo, teve um grau de dificuldade mais elevado pois envolvia ele, a Inter de Milão, envolvia o Flamengo. Um artilheiro da Libertadores e do Brasileirão, campeão da Libertadores, do Brasileirão e do Carioca... Não tinha passe fixado, mas tínhamos um acordo de agosto com a Inter de Milão. Chegamos a um acordo com o atleta em janeiro e a Inter respeitou os princípios, mesmo o tempo tendo passado. Mudaram algumas questões, o Flamengo elevou o percentual que adquiriu do atleta, mas os princípios foram respeitados. A negociação foi muito dura entre todas as partes. Isso é raro, a corda estica, a tensão aumenta, mas, entre as três partes, foi um nível muito justo, transparente e honesto de conduta, tanto que as relações ficaram preservadas. Tanto do Flamengo com a Inter de Milão, como com o Gabriel. Foi longa e difícil. O tempo faz parte de qualquer processo de negociação. É um atleta importante e fundamental para o clube e para a torcida. Acho que essa foi a mais difícil, mas todos têm importância para o grupo. Jogadores, comissão técnica, toda estrutura do futebol funcionando é que ganha os títulos.

Como é feita essa avaliação do comportamento na busca por reforços?

Entender qual o propósito dele. Se é competitivo, saber se ele quer vir para cá para ganhar. Todos têm um nível de competitividade muito alto. Vêm para cá para vencer e, muitas vezes, abrem mão do lado financeiro. Aconteceu com Bruno Henrique, Gabriel, Gerson, Rafinha, Filipe Luís... Enfim, vários. Com certeza estou esquecendo algum nome. São exemplos de escolhas que os atletas fazem pela grandeza do Flamengo, pela torcida, pela paixão, tudo isso conta, e por saber que aqui eles terão condições de serem campeões. Fora o dia a dia, aqui estão dispostos a fazerem todos sacrifícios e esforços necessários para serem campeões. O objetivo de ser campeão está acima de tudo.

E como é a participação do Jorge Jesus nesse processo de contratação?

De negociação ele não participa, obviamente. Ele é ouvido no início, durante, depois. Faz parte do processo todo. Tem o lado financeiro, tem o lado esportivo, tem o lado da ideia de jogo. Tem uma filosofia e uma ideia de jogo. Qualquer atleta que a gente vá trazer, tem que se adequar à ideia de jogo, à filosofia, e à característica de competitividade, entre outras coisas. Parte disso, e aí vamos vendo onde o elenco pode ser qualificado para chegarmos no melhor possível para chegar às conquistas. Ele participa desde a concepção do que se precisa em termos táticos e técnicos, até indicar um nome ou outro. Os nomes podem vir do scout. O mais importante é a definição do perfil e termos os nomes que se adequam ao perfil. É um trabalho contínuo de interação com o Jorge Jesus, o Marcos (Braz), o conselho de futebol, scout, área financeira e médica, planejamento e presidente.

O nome do Marí, por exemplo, veio do scout ou foi indicação do Mister?

Vou dar um exemplo com o caso do Marí. O treinador definiu um perfil de atleta que ele queria para aquela posição, com uma série de características. Zagueiro canhoto, com boa estatura, qualidade técnica para construir o jogo de trás. Ele indicou o perfil e, então, têm nomes que ele indicou e outros que o scout indicou. Já conhecia o Pablo quando o scout trouxe o nome dele. Disse que queria muito o atleta e nós fomos atrás. Tivemos vários méritos, mas o Pablo, ao conhecer o projeto, teve a vontade e a coragem de fazer esse movimento diferente no futebol. Era um zagueiro do Manchester City, jogando no La Coruña, que não subiu por um gol, fez quase todos jogos nas três temporadas anteriores. Teve uma sensibilidade e coragem enorme de vir para cá. Nas conversas, na época, ele disse que estava focado no que faria no Flamengo, não no que aconteceria depois. Queria performar bem e conquistar no Flamengo, e não com as portas que seriam ou não abertas. Dei esse exemplo para dar um pouco de cor ao processo. E lógico que tem que ver se cabe na parte financeira.

'O Jorge Jesus está muito feliz com o que o Pedro está apresentando no dia a dia, com o que traz de alternativa e o que já está jogando.'

Sobre o Pablo Marí, vê chances do Arsenal não contratá-lo em definitivo?

Todo o negócio foi estruturado com muita convicção do Arsenal, pois os valores foram mais do que elevadíssimos para o negócio que foi feito. Não podemos abrir valores, mas não vejo como a transação não seguir como uma venda definitiva. Pode acontecer? Pode, mas não vejo que seria inteligente da parte do Arsenal. Ele foi bem na estreia, é um cara sensacional, e desejo todo sucesso a ele.  

E a contratação do Pedro, o tão desejado avançado pedido por Jesus?

Pelo tempo, já não lembro a origem da indicação do Pedro. O nome dele surgiu no mesmo período em que chegou o Jesus. O Jorge Jesus está muito feliz com o que o Pedro está apresentando no dia a dia, com o que traz de alternativa e o que está jogando. O Jorge está muito feliz com o que foi feito em termos de qualificação do elenco. Foram todas escolhas dentro de diretrizes técnicas e táticas. O Jorge é fundamental em qualquer coisa que se faz dentro do departamento de futebol.

E esse avançado poderia ser o Balotelli, né? Explica como foi essa negociação e as tratativas com o Mino Raiola (empresário)?


As conversas foram em bom tom. O cara super tranquilo. O fato de o Balotelli não ter vindo não foi pelo lado financeiro ou desafio de mudar-se para a América do Sul. Foi pelo lado pessoal, voltar para onde foi criado, às origens. Mais do que compreensível.

O Jorge Jesus estava empolgado com o nome do Balotelli?

Estava. Pode ter certeza que qualquer nome que o Flamengo vá buscar tem a chancela dele, além da inquietude para o acerto, como aconteceu com todas as contratações desta temporada. Tudo que ele puder fazer e cobrar para contribuir nas vitórias, fará. Está no papel dele, e é por isso que queremos tanto que fique.

É uma dificuldade convencer um italiano, por exemplo, a vir ao Rio de Janeiro?

Não ao Rio de Janeiro, mas, sim, ao Brasil. Não estou falando mal do Brasil, mas no aspecto esportivo. Há essa dificuldade, sim. E é por isso que a gente trabalha, não estou sendo arrogante, mas queremos o Flamengo sempre vencendo a nível global. São as vitórias é que vão quebrar as barreiras, aos poucos, no dia a dia.

'O Flamengo faz um investimento numa série de área, o principal é direitos econômicos de atletas, comissão técnica, o grosso vai para ali. O retorno esportivo ajuda em todas as áreas do clube, trazendo benefícios de marketing, retorno aos patrocinadores.'

Qual foi o maior propósito das recentes visitas ao Real Madrid e ao Barcelona?

São duas referências futebolísticas sob todos esses aspectos que já citei. Respeito às marcas, como são conhecidos, as práticas de gestão, comunicação. O propósito foi estar próximo, estreitar relações. Até na apresentação do Reinier, o Florentino (Pérez, presidente do Real) citou o tamanho que o Flamengo tem. É importante criar essa proximidade. O presidente foi muito feliz de conseguir essa agenda e estar conectado. Ele também sentiu muito lá o respeito que o Flamengo tem por parte desses dois clubes.

Na gestão Landim, foi implementado o Comitê de futebol. Como funciona esse conselho? Quais decisões do futebol passam por ali?


Todas as decisões estratégicas passam pelo conselho, que é multidisciplinar, ou seja, as pessoas têm formações diferentes. É um foro de discussões estratégicas. Qualquer grande contratação, nível de alçada enorme, tudo passa por lá até chegar ao presidente, que toma a decisão futebol. Tudo é questionado. Aliás, o principal papel do conselho é questionar, esclarecer os processos que vão defender os melhores interesses do clube, em prol de título, o maior objetivo do clube. Sobre reforços, também debatemos se há o desenvolvimento, perfil e a inquietude necessária para estar no Flamengo, por exemplo.

Com a venda de Reinier, o Flamengo já superou a receita prevista com transferência de atletas. Isso aumenta o poder de investimento em reforços para 2020?


A gente já investiu bastante. O objetivo principal, esportivo, é ser campeão no futebol profissional e aí tem uma série de áreas e recursos que o clube aloca por os triunfos. O investimento na base é um deles. Temos que seguir qualificando os processos e as pessoas na base para que o profissional possa usufruir do alto nível ainda mais. Essa roda precisa seguir girando. Obviamente, às vezes, vai acontecer de um atleta como o Reinier, o melhor jogador do mundo da geração 2002, vê propostas dos clubes mais ricos do mundo aparecerem, há o desejo, o lado financeiro atendendo aos dois lados.

O Flamengo faz um investimento numa série de área, o principal é direitos econômicos de atletas, comissão técnica, o grosso vai para ali. O retorno esportivo ajuda em todas as áreas do clube, trazendo benefícios de marketing, retorno aos patrocinadores. Quando você coloca a marca Flamengo em outro patamar de valor, além dos associados à maior torcida do mundo, o retorno vai para a lua. Na estreia da Libertadores, por exemplo, audiência do Flamengo para (o estado) de São Paulo foi maior que a do Palmeiras, o que vale demais para os parceiros. O Flamengo é líder de pay-per-view e teve a final da Libertadores sendo transmitida para mais de 180 países, se eu não me engano, até na BBC de Londres. É um dos clubes que mais tem engajamento no mundo do futebol nas redes sociais. Tudo é gigante para entregar aos patrocinadores.

Você chegou ao Flamengo em 2013 e passou por cargos sem os holofotes do futebol. Em 2018, como CEO, e agora como diretor de futebol, o carro-chefe do clube, está mais na vitrine. Como tem lidado com essa exposição?

Ah, isso é um sonho. Estar na posição que eu estou e poder ajudar o clube a ser campeão. Quando eu entrei no Flamengo lá em 2013, o meu sonho era poder fazer parte de qualquer jeito e ajudar a atingir os patamares que estamos brincando hoje. Pô... no Flamengo isso é muito bacana. Aqui, se ganha um título ontem e, no dia seguinte, já se esquece, mas no bom sentido. Temos que fazer melhor do que fizemos ontem para ganhar. É preciso ter inquietude para buscar os títulos. É a parte mais legal de estar no Flamengo. A cobrança, de todos os lados, é positiva. Estimula.

Há alguma negociação em curso para a lateral direita? O torcedor sempre pergunta...


No momento, não. O foco é mesmo a negociação com o Jorge. Todas as nossas energias e esforços estão voltadas para este tema.

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