Ameaças de morte, dispensas e trajetória na várzea: a história de superação de Michael

Atacante assinará contrato de cinco anos com o Flamengo, após uma negociação de valores astronômicos para o mercado nacional. Para ele, uma realidade oposta a de anos atrás

Michael é o novo reforço do Flamengo
Foto: Divulgação

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O palco foi o mais brasileiro dos palcos país afora. Michael se moldou no futebol através da insistência nos campos de várzea, em toda a sua adolescência. Hoje, aos 23 anos, é o novo reforço de um Flamengo recheado de grandes nomes do futebol nacional. A superação do atacante valeria um livro.

Nascido em Poxoréu, interior do Mato Grosso, Michael é o mais conhecido dos cerca de 17 mil habitantes da cidade. Mas foi em Goiânia, distante de sua terra natal por 702 km, o início de sua trajetória amadora, com 16 anos.

Em entrevista ao canal do Goiás no YouTube, há pouco mais de dois anos (veja aqui), externou que chegou a ser dispensado de seis clubes, em peneiras, quando tentou se aventurar nas categorias de base: quatro vezes no Goiânia, uma no Aparecida e outra no Vila Nova - todos de Goiás. 

Michael: 'As pessoas riam de mim'

Enquanto aguardava uma chance para se profissionalizar, Michael seguia no terrão. Ganhava R$ 20 a cada partida e, para pagar as contas em casa, chegou a jogar cinco jogos em um mesmo dia. O cenário passou a ser positivo em 2015, quando o Monte Cristo chamou o jovem de 19 anos para a disputa da Divisão de Acesso do Campeonato Goiano. 

A partir dali, a sua carreira engrenou. No ano seguinte, foi parar no Goiânia, que já o tinha rejeitado anos atrás. Antes de atuar no Goiás, em 2017, ainda foi defender o Goianésia. Detalhe: não havia pagamento e ali, pela primeira vez, ouviu que era "peladeiro" em tom de depreciação. 

- Joguei a Divisão de Acesso, com todos me criticando e achando que eu não conseguiria. Levantava 3h da manhã para orar. Me chamavam para sair, tomar cerveja, mas eu falava que preferia ler a Bíblia. As pessoas riam de mim, mas não sabiam que o Deus que eu servia era grande. Depois, fui para o Goianésia, orei do dia 15 até o dia 23, direto. Conversei com Deus, pedi uma oportunidade, que apareceu, e eu questionei: "É essa a oportunidade que tem para mim?" (risos). Fui para lá sem receber nada, nada, nada... Nem sequer R$ 1. Joguei, ninguém achava que eu ia jogar. Falavam: "Aquele peladeiro vai para o Goianésia e ser igual estilingue, ir e voltar". E hoje estou aqui. Estou tendo a oportunidade de mostrar que tudo é possível. Todos podem ter chance na vida, basta quererem - disse Michael.

'Falavam: Aquele peladeiro vai para o Goianésia e ser igual estilingue, ir e voltar'

 sua resistência foi ainda maior quanto à vida pessoal. Quando ainda não engrenava no mundo da bola, Michael passou a ser usuário de maconha e cocaína. Chegou a ser ameaçado de morte, inclusive com arma de fogo e na porta de sua casa, mais de uma vez por dívidas. Também para a Goiás TV, usou a história bíblica de David e Golias para simbolizar as suas lutas diárias. 

- Comigo é igual David e Golias. Falavam: "Olha o tamaninho dele". E David venceu, né? (risos). Assim sou eu na minha vida, enfrentando um Golias por dia. A cada dia vou matando um.

No Flamengo, Michael traz novamente desconfiança de parte da opinião pública, sobretudo pelas altas cifras envolvidas na negociação (cerca de R$ 34 milhões). Ou seja, nada mudará: o "David de Poxoréu" seguirá tendo que ser resistente às pressões inerentes à profissão que escolheu. Mas, além da ótima performance no Goiás, chega ao Flamengo blindado pela fé em sua religião e em si para "viajar para o mundo".

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