‘Estava velando minha esposa no momento da queda do avião’, relembra diretor de futebol da Chape

Maringá, ex-jogador e Diretor de Futebol da Chapecoense falou ao L! sobre o fatídico dia do acidente que vitimou 71 pessoas e marcou a história da Chapecoense e do futebol mundial<br>

João Carlos Maringá
Thaynara Lima/ LANCE!

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Surpreendido com a notícia da queda do avião da Chapecoense no momento em que realizava o velório de sua esposa, o diretor de futebol João Carlos Maringá, contou em entrevista ao LANCE! como foi receber a notícia, como faz para amenizar a dor das perdas, e fez uma análise sobre a reconstrução da Chapecoense.

— Foi bastante gente de Chapecó para o velório, lá em Pato Branco. Na madrugada o pessoal começou a se mexer e mudar de lugar... Os amigos dela de Chapecó... A notícia chegou através dos meus filhos dizendo que o avião tinha caído. Foram horas de muita angústia — relembrou o ex-meia — É raro acontecer isso. Eu perdi minha companheira de 28 anos e depois recebi a notícia que meus amigos tinham morrido. É um dia que eu prefiro não lembrar, mas faz parte da vida. Acho que a gente tem que tentar superar — contou emocionado.

"A Chapecoense, mesmo antes da tragédia, já tinha se tornado grande. Já era um fenômeno no futebol a ser estudado", analisa Maringá

As expectativas em cima daquela Chapecoense eram grandes. Um clube que veio em ascensão, desde a série D do Campeonato Brasileiro, fez todos os acesso, permaneceu na Série A quando chegou à elite, conseguiu sua a vaga na Sul Americana e chegou à final. A queda do avião interrompeu o sonho daquele time e deu à Chape, time de Chapecó, cidade com apenas 200 mil habitantes, conhecimento mundial. Mas a grandiosidade dela, veio antes disso:

— A Chapecoense, mesmo antes da tragédia, já tinha se tornado grande. Já era um fenômeno no futebol a ser estudado. Numa cidade 200 mil habitantes, longe dos grandes centros, fazer dois acessos consecutivos como nós fizemos e as manutenções na série A como nós fizemos, ela já era pra ser estudada. — opinou, Maringá — É claro que a queda do avião ela acentuou muito esse conhecimento mundial, a tragédia comoveu o mundo todo e deu a marca Chapecoense uma exposição muito grande. Mas a Chapecoense não é só a queda do avião. Ela tem conquistas dentro de campo fantásticas e espero que a gente continue assim. — declarou o ex-meia.

"Trabalhar para que eles fossem homenageados pelo nosso trabalho. Mantendo a Chapecoense entre os melhores clubes do Brasil" conta Maringá

Além da morte de diversos amigos, a morte de sua esposa pesava muito naquele momento. Duas infelicidades muito fortes que mexeram com a cabeça e o coração de Maringá. Para seguir em frente e não desistir, o dirigente se apegou aos filhos e ao trabalho:

— Eu me apeguei aos meus filhos. Doi filhos adultos já, meus queridos, amigos. E paralelo a isso, com relação aos meus amigos que se foram, trabalhar para que eles fossem homenageados pelo nosso trabalho. Mantendo a Chapecoense entre os melhores clubes do Brasil, fazendo um trabalho tão bom quanto os diretores que faleceram estavam fazendo. Foi essa a maneira que eu encontrei: trabalhar muito. — contou, Maringá.

Trabalho não faltou! Após a perda de grande parte do quadro de funcionários do clube, foi necessário remontar a equipe, praticamente do zero. Esse trabalho ajudou Maringá a manter-se firme diante das adversidades:

— Quando nós chegamos aqui, nós só tínhamos dois excelentes jogadores, mas não tínhamos roupeiro, massagistas, médicos, supervisor, treinador... Nós tivemos que remontar do zero mesmo o clube e acho que de alguma forma isso me fez bem. Eu tinha pouco tempo para pensar nas coisas ruins. Me determinei para tentar ajudar na remontagem e ressurgimento do clube e de certa forma a gente fez isso bem. — desabafou.

Arena Condá
Na Arena Condá, a torcida homenageia as vítimas do acidente sempre no 71º minuto de jogo (FOTO: Thaynara Lima/ LANCE!)

Uma nova equipe foi montada, mas a anterior nunca será esquecida. O ex-meia fala da relação entre a equipe atual e a anterior e relembra com carinho dos amigos que se foram:

— A relação que existe é esse elo entre passado e presente. Nós temos muito jogadores aqui que perderam amigos no acidente. Eu perdi irmãos no acidente, perdi pessoas que conviviam comigo a muito tempo. O Pallaoro me chamava de irmão, a gente não era só amigo, era irmão. Esse elo existe! Mais espiritual, de coração, do que em relação aos times — comentou, Maringá.

O fenômeno Chapecoense permanece por mais um ano na elite do Campeonato Brasileiro. Mais histórias da Chape estão sendo escritas e Maringá fala da importância de conseguir se manter firme no topo:

— Se a gente continuar mais alguns anos na Série A acho que ela vai se fortalecer ainda mais. A diretoria não pensa só no agora, pensa no futuro. E em um ano tão importante quanto esse nós conseguimos manter o time a gente vai estar deixando a Chapecoense mais forte do que nunca. — finalizou Maringá.

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