Cascudo, Galhardo mostra confiança no Vasco em 2018: ‘Time tem colhão’

Em alta no Cruz-Maltino, meia vê equipe em evolução, elogia Zé Ricardo e conta como teve que amadurecer para recuperar espaço no cenário nacional

Thiago Galhardo
Carlos Gregório Jr./Vasco

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Contratado pelo Vasco para a temporada 2018, Thiago Galhardo chegou sob desconfiança da torcida. No entanto, o meia vem conquistando os vascaínos com boas atuações neste início de ano. Bem mais maduro do que aquele menino que surgiu para o futebol no Botafogo em 2011, Galhardo já se considera experiente, mesmo com 28 anos. Muito pelo que viveu fora de campo.

- Sou velho. experiente (risos). Quando cheguei no jogo contra a Portuguesa só tinha o Erazo e o Riascos mais velhos. Não existe, só a cara é de garoto, mas me sinto experiente, tento passar isso aos meninos. Em todo lugar que passei sempre tive alguém que me ajudou. Tento ser espelho, dar moral. O Paulinho tem só 17 anos, ajuda muito a gente e tenho certeza que vai pra Europa. Sou extrovertido, o grupo facilita muito. Tem poucas pessoas fechadas aqui - revela, em papo com o LANCE!.

Há dez anos, o então menino de 18 teve que tomar uma decisão que mudaria sua vida. Por sorte, foi para o bem, mas não era nada fácil. Galhardo havia sido aprovado em um concurso da Petrobras, com salário de R$ 4.500 mensais. O sonho de jogar futebol foi bancado pela mãe.

- Minha mãe que acreditou no meu sonho. Se tem uma pessoa que eu devo tudo é a ela. Mudou minha vida, toda criança quer jogar futebol. Na época meu pai foi muito contra, tinha acabado de fazer 19 anos, foi tenso. Agradeço ao pré-sal até hoje, ele que parou meu curso e retomei o futebol. Foi Deus, o pré-sal e minha mãe. Se não fosse isso não teria voltado ao futebol. Era uma vida difícil mas uma garantia de futuro.

A principio, Thiago morou na concentração do Bangu. Recebia R$ 180 de ajuda de custo. Em pouco tempo, ligou para a mãe chorando dizendo que queria desistir. Ela largou tudo e alugou uma casa de 40 metros quadrados. Pouco tempo depois, realizado, ele pagou a faculdade da mãe, que realizou o sonho de se formar em Direito.

No grupo da morte na Libertadores, o cascudo Thiago Galhardo sabe que os confrontos serão tão dificeis quanto o início da carreira no futebol. Mas diz que o Vasco está pronto, já que é um time com "colhão".

- Sabemos que é o grupo da morte e o Wagner está certo. Sabemos das limitações, tomamos gol de bola parada e temos trabalhado para acertar, mas o time tem colhão, temos batalhado, acertado. O time é cascudo, tentamos agredir o tempo inteiro. O que ele disse foi muito feliz, sabemos que nosso grupo é muito bom, pode chega e sabe o que quer. Passamos por duas fases na Libertadores muito bem, fora tem a altitude com a bola rápida. O foco agora é o Carioca, depois dos jogos contra Fluminense e Madureira, a gente pensa na Universidad do Chile.

Thiago Galhardo
Galhardo se deslumbrou ao acertar com Botafogo

DESLUMBRE NO INÍCIO CARREIRA
Thiago mudou de vida muito rapidamente. Em 2011, ao chegar ao Botafogo, passou a ver de perto toda a facilidade que um jogador de futebol de time grande tem. Ele confessa que exagerou naquele momento e acabou se deslumbrando, mas o apoio da família e do empresário o fizeram retomar o bom futebol e o juízo.

- Garoto, fica deslumbrado com as facilidades. Levo como passado, sete anos que isso aconteceu. Pensamento da volta eu não fazia mal a ninguém, só a mim mesmo. Eu queria mudar, chegar em casa e ver ela (a mãe) feliz, ver que o filho dela estava bem. Tenho um irmão mais novo, na época eu com 20 e ele com 15 e eu era um espelho. Ainda sou ate hoje. Queria dar bons exemplos, ninguém quer ser um exemplo ruim para um irmão. Posso ser um ídolo de uma criança e não quero passar uma coisa negativa. Em dezembro de 2014, conversei com meu empresário Flávio Trivella e nessa conversa sabia de um caminho pra poder vingar, voltar a vencer. Sei da minha capacidade e potencial, não queria ficar rodando por clubes menores. Queria jogar Série A do Brasileirão, Libertadores e realizar o sonho de jogar fora do país.

Thiago Galhardo
Thiago e o irmão Gabriel, quando atuaram juntos no Bangu (Divulgação)
Rafael e Thiago Galhardo
Thiago enfrentou Rafael Galhardo quando vestia a camisa do Coritiba..
Rafael e Thiago Galhardo
.. Hoje são 'quase-irmãos' no Vasco!

'IRMÃO' DE RAFAEL GALHARDO
O Vasco possui outro Galhardo no elenco. Rafael, lateral-direito, ficou muito próximo de Thiago, que por ironia do destino, tem um irmão com o mesmo nome do companheiro. Este, porém, é músico, enquanto o lateral se tornou um dos grandes parceiros no Vasco.

- Meu irmão mais velho também se chama Rafael (homônimo do lateral-direito do Vasco) e o mais novo Gabriel. O Rafael toca na banda Ponto de Equilibrio. Ele veio no jogo contra o Volta Redonda e não viu meu gol com 18 segundos. Mandaram mensagem falando pra ele perguntando se os dois irmãos estavam no Vasco. Falei: 'ô imbecil, minha mãe botou o mesmo nome em dois filhos?' A gente brinca, em 2015 troquei camisa com ele. Ele tem um primo que se chama Thiago Galhardo. Jogamos contra. Ele perdeu um irmão, me confundiram achavam que era eu. A gente ficou próximo, concentra junto, vai pro treino junto. Acabamos pegando amizade, eu ele e Erazo.

O irmão mais novo, Gabriel, já jogou com Thiago no Bangu. Atualmente, ele defende o Goytacaz, que se livrou do rebaixamento no Carioca na última rodada da competição:

- Meu maior sonho foi jogar com meu irmão, livrar o Bangu do rebaixamento. Ninguém tinha feito isso, sair da pontuação zerada e chegar a uma semifinal. Ele marcou o Ronaldinho contra o flamengo. Um jogo que marcou minha vida, estreia que jogamos juntos. Jogamos 4 jogos, fiz gols na fuga do rebaixamento, comemoramos junto e foi uma emoção muito grande. Espero contribuir na carreira dele e jogar na Série A.

EXPULSÃO NA BOLÍVIA
Apesar de quatro assistências e dois gols desde que chegou ao Vasco, Thiago Galhardo também passou por um momento delicado nesta, até aqui, curta passagem. O jogador foi expulso na derrota por 4 a 0 diante do Jorge Wilstermann, na Bolívia, que quase custou a eliminação na Libertadores. No mesmo dia, o camisa 8 havia perdido a avó paterna. E explica como aquele dia abalou sua confiança.

- Todos esquecem que temos uma vida fora de campo. Foi por parte de pai, por mais que seja uma perda não tão próxima, é uma perda. Foi uma notícia ruim que tive, tento não levar nada pra dentro do campo. Confesso que naquele dia foi ruim, todo mundo falando. Postei aquele negócio, teve uma repercusão grande. Depois achei que seria melhor nem ter postado, para as pessoas não ligarem uma coisa na outra. Não gosto disso. A culpa não seria minha, mas acho que acabariam jogando ela em mim pela expulsão, pelo momento do Vasco. Mas deu tudo certo, prefiro olhar pelo lado positivo. Foram só 15 minutos, entrei bem, poderia ter ajudado o Vasco. Bateria um dos pênaltis. Foi ruim porque abalou a confiança. Contra a Portuguesa eu estava abalado. Contra o Macaé não entrei bem, mas consegui dar uma assistência. Já nesse último jogo estive concentrado, confiante e aconteceu o gol. Futebol é momento e confiança.

12º JOGADOR
Todo mundo quer jogar, são 32 no elenco. Mas respeito o tempo de cada um. O Evander fez um p*ta jogo contra o Macaé, só saiu pelo cartão. Falo diretamente dele porque é a posição que eu jogo, mas tem o Wellington, o Desábato que são monstros. Não só eu tenho entrado bem, o Rildo tem atropelado, o Riascos também. Nenhuma posição está fechada, só a do Martin. Estou aqui pra ajudar, sei que se eu entrar vou me doar os 90 ou 20 minutos.

ZÉ RICARDO
Uma pessoa que já tinha trabalhado comigo me indicou ao Zé. Eles são amigos, fizeram o curso da CBF juntos. O Zé gostou da ideia, me perguntou como eu estava de cabeça pela fama que eu tinha no Botafogo. Já ouvia falar muito bem dele e estava esperando isso. Ele é tudo isso e mais um pouco. Tem o grupo nas mãos e faz o trabalho que todos entendem. Financeiramente era bom pra ele (proposta dos Emirados Árabes), mas valorizamos o fico dele. Qualquer jogador teria ido, muito dinheiro pra carreira curta. Todo mundo gostou dele ter ficado, por isso o time tem corrido tanto em busca do resultados.

Thiago Galhardo e Zé Ricardo
Thiago Galhardo chegou ao Vasco a pedido de Zé Ricardo
Thiago Galhardo
Thiago Galhardo com a mãe e o irmão Gabriel (Reprodução/Instagram)

CAMISA 8 OU 10?

'Odiava a camisa 10, sempre amei a 8. Tinha essa superstição. Usei a 11 no Madureira para não vestir ela. No Coritiba, o Alex tinha acabado de se aposentar e me ofereceram a 10 dele. Saí fora! (risos)'

- Nunca fui meia, cheguei como volante na base. Joguei assim a vida inteira. Quem me transformou em meia foi o falecido Caio Junior (técnico da Chape no acidente trágico na Colômbia), na época de Botafogo. Ele que botou isso na minha cabeça. Eu odiava a camisa 10 e sempre amei a camisa 8, tinha essa superstição. Meu empresário em 2014 disse que eu tinha que ser camisa 10. Falei que não gostava, tanto que nem aceitei ela no Madureira, quando o Rodrigo Lindoso (hoje no Botafogo) era o camisa 8 e eu joguei com a 11. No Coritiba, o Alex tinha acabado de aposentar e me ofereceram a 10 dele, saí fora (risos). Mas em 2016 que eu resolvi virar meia. O diretor do Red Bull me ligou e eu falei: 'Eu vou, mas vou pra ser o 10'. Depois disso, assumi a responsabilidade. Levei pra Ponte Preta, pro Japão... jogo com a 8, mas como camisa 10

Alex - Coritiba
Assumir a camisa 10 do Alex? Nem morto! 
Thiago Galhardo
Galhardo preferiu usar a camisa 89, em alusão ao ano de nascimento
Thiago Galhardo defende o Albirex Niigata, do Japão (Foto: Divulgação / Best Comunicação)
No Japão, chegou como 10 e craque do time

Você rejeitou a 10 do Alex, mas a camisa 8 do Vasco também é pesada...

'Nunca falei com Juninho, mas vou realizar esse sonho. É um ícone do Vasco. Na hora que vi a camisa 8, veio a música dele na cabeça, fiquei doido'

- Eu amo a camisa 8, então quando vi a numeração da Libertadores, fiquei doido. Na hora veio a cabeça o Juninho e a música: 'Gol do Juninho, monumental!'. Não tem como, passa um filme na cabeça. Poder estrear contra o Univ. Concepción e saber o que ele falou bem de mim foi uma honra muito grande. Nunca falei pessoalmente, mas vou realizar esse sonho. É um ícone do vasco com a camisa 8. Então é uma camisa pesada pro passado, mas pra mim carrego muito bem. Além de ótimo jogador, é uma ótima pessoa.

Donizete, Juninho e Luizão - Vasco x Barcelona - 1998
Juninho foi campeão da Libertadores como camisa 8. Pouca história?

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