Ex-time de Giba na Rússia é punido por dívida salarial com outro brasileiro

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A proibição de contratar jogadores imposta pela FIFA ao Barcelona, em abril deste ano, mostrou que os clubes de futebol podem estar sujeitos a penas rigorosas caso descumpram acordos. No vôlei, a realidade ainda é um pouco obscura. Mas uma vitória do ponteiro Léo Mineiro na Federação Internacional (FIVB), no dia 2 de junho, aponta para um avanço.

O Iskra Odintsovo, time que ele defendeu entre 2009 e 2010, está proibido de registrar estrangeiros até que pague ao atleta € 55 mil (cerca de R$ 163 mil) referentes a salários atrasados. No caso dos catalães, a punição – de um ano – deveu-se à denúncia de registro irregular de dez menores de idade. Mas o clube obteve efeito suspensivo, e história acabou esquecida.

A briga de Léo Mineiro só começou em novembro de 2013. Em conversa com o advogado Eduardo Carlezzo, especialista em direito desportivo, ele relatou o problema e foi orientado a entrar com uma reclamação na entidade do vôlei. Sete meses depois, teve a resposta positiva.

Considerado uma das forças do esporte no passado, o Iskra enfrentou dificuldades após a crise que explodiu em 2008 e abalou a economia mundial. Seu patrocinador era um conglomerado de empresas que atuavam no setor imobiliário. Foi com este aporte que o time contratou o ponteiro Giba, em 2007. Na época, a imprensa italiana falou em R$ 1,5 milhão por temporada (cerca de R$ 200 mil mensais).

A ausência na primeira divisão do último Campeonato Russo, da Liga dos Campeões e da CEV Cup mostra que a situação ainda é grave. Por enquanto, os dirigentes não deram sinais de que irão quitar suas dívidas com o brasileiro.

Se a economia agonizava em 2009, Léo Mineiro estava em alta. Comemorava dois prêmios de melhor recepção da Superliga e o primeiro chamado para a Seleção Brasileira. Não por acaso, esperava uma caminhada condizente com o sucesso quando foi tentar a sorte fora do país pela primeira vez na carreira.

– Era um clube que tinha muita grana e uma estrutura que eu considerava a melhor da Rússia. Tive boa relação com os dirigentes, mas, depois de um tempo, falaram que não poderiam me pagar. Agora, estou confiante – contou o atleta, que disputou a última Superliga pelo Vivo/Minas e jogará a próxima temporada no Lyon, da França.

O LANCE!Net tentou contato com o ex-CEO do Iskra, Andrey Belmach, para comentar o caso, mas não obteve retorno. Segundo o site "World of Volley", ele deixou as atividades para assumir a direção de um clube de hóquei. A FIVB, por meio de sua assessoria, informou que não se pronuncia sobre casos individuais.

– Não tive problemas com pagamentos, mas, infelizmente, presenciei um dos momentos mais difíceis do Léo. É um menino muito querido e não merecia nem de perto passar pelo que passou. Na verdade, nenhum atleta merece. Continuo na torcida para que tudo se resolva – disse ao L!Net a ponteira Paula Pequeno, hoje no Brasília Vôlei, que defendeu o Zarechie Odintsovo (versão feminina do Iskra), em 2009.

Equipe quitou dívida com líbero da seleção russa

Meses após sua passagem pela Rússia, Léo Mineiro procurou manter contato pelas redes sociais com outros companheiros que também tiveram pendências salariais no Iskra Odinstovo. Por meio de um colega, ficou sabendo de uma notícia que o desanimou.

– Conversei com o Artem Ermakov (líbero, que jogou a Liga Mundial), e ele disse que já tinha recebido tudo. Dei o meu caso como perdido – contou o ponteiro, de 32 anos.

Quando Léo Mineiro chegou, o Iskra já havia sofrido um corte de gastos e contava com o apoio de uma marca de roupas local (Legante). Antes, a equipe era patrocinada pelo Absolute Investment Group, que reunia empresas prestadoras de serviços de corretagem e investimento de ações no mercado mobiliário.

Defesa tentou novas sanções

O silêncio do Iskra Odintsovo a respeito da dívida com Léo Mineiro fez com que o advogado Eduardo Carlezzo recorresse a FIVB em busca de novas sanções. Ele enviou um e-mail à entidade no dia 13 de junho. A resposta foi negativa.

– Poderia ser desde uma multa, de até 50 mil francos suíços, até a possibilidade de o clube não escalar estrangeiros ou até de ser excluído de competições – explicou.

A defesa do ponteiro reforça sua tese com o argumento de que os dirigentes russos jamais contestaram o valor solicitado de € 55 mil. Todo o processo ocorre via e-mail e fax. Do Brasil, Carlezzo mantém contato com os advogados da FIVB, em Lausanne (SUI), sede da FIVB.

Com a palavra

Eduardo Carlezzo, especialista em direito desportivo

A proibição de registrar transferências internacionais de atletas é uma medida forte que está prevista nos regulamentos de algumas federações internacionais a fim de sancionar clubes que não cumpram com suas obrigações financeiras ou descumpram as normas das entidades.

A decisão da FIVB possui um conteúdo relevante, tendo em vista que a liga russa é uma das mais fortes do mundo e os clubes locais possuem vários atletas estrangeiros.

Percebo que não é muito normal esse tipo de processo no vôlei. Na FIFA é bastante comum que um atleta solicite sanções ao clube quando este deixa de pagar o que deve.

A crise mundial

Origem

A crise de 2008 estourou depois que o mercado imobiliário nos EUA viveu um período de crescimento intenso nos anos anteriores, com taxas de juros baixas. Os bancos realizaram empréstimos de alto risco a compradores sem condições de pagá-los. A oferta superou a demanda, e os imóveis perderam valor.

Consequências

O problema atingiu todo o sistema bancário mundial e devastou a economia europeia, levando à intervenção ds governos. Clubes esportivos do continente foram abalados com a quebra das instituições financeiras, já que muitos eram patrocinados por bancos ou empresas ligadas aos grupos atingidos. No vôlei, as consequências vieram em forma de atrasos salariais.


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