Espaço aberto: Doping manipulado?


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*Artigo escrito por Ademir Valério, farmacêutico e presidente da Associação Nacional de Farmacêuticos Magistrais

As Olimpíadas do Rio se aproximam e, com elas, o sempre controverso tema das substâncias que podem ou não ser consumidas pelos atletas. Ano após ano, o exame de um esportista aponta alguma não conformidade com as regras internacionais que regulamentam o esporte.

O episódio vem se repetindo no Brasil e não é raro surgir a hipótese de contaminação na farmácia para explicar o resultado. Porém, antes de aceitar essa teoria, é preciso ir fundo na avaliação de cada caso. Podemos começar conhecendo o que está por trás da preparação de medicamentos e produtos manipulados.

Controle de processo, tecnologia, rastreabilidade, especificação de matérias primas, realização de procedimentos em laboratórios com áreas apropriadas, atuação e supervisão de farmacêuticos ao longo de todas as etapas de manipulação. Todos esses elementos descrevem o processo de preparação de produtos e medicamentos manipulados. Essa atividade está longe de ser artesanal ou caseira, é regida por uma das legislações sanitárias mais rigorosas do mundo e fortemente amparada em tecnologia. O processo de manipulação de produtos e medicamentos que hoje existe no Brasil é referência mundial, motivo de orgulho.

Para apontar a origem da presença dessas substâncias demanda um olhar aprofundado, como no caso dos diuréticos.

Estudo da Associação Nacional de Farmacêuticos Magistrais realizado entre 2010 e 2013 com cerca de 25 mil fichas que registram os medicamentos entregues pelas farmácias a cada paciente, mostrou que menos de 3% das receitas médicas aviadas traziam prescrição de diuréticos. Além disso, dentro dessa ampla amostragem, não havia sequer uma receita com prescrição de diurético isolado prescrito pelo médico.

Isso demonstra a baixa frequência que o setor de farmácia de manipulação trabalha com diuréticos. Demonstra também que, sempre que um diurético é prescrito, o médico opta por prescrevê-lo associado a outros fármacos, como parte de uma formulação maior.

Esses dados são extremamente relevantes. O processo de manipulação é seguro e não permite a contaminação.

Porém, caso houvesse um equívoco no processo que levasse a uma contaminação acidental com um diurético, necessariamente haveria também a presença de outros fármacos combinados com esse diurético, uma vez que, como já mencionei, eles estão sempre em associação nos medicamentos manipulados. Além disso, a distribuição desse diurético não seria uniforme entre as “cápsulas contaminadas”. Isso pode ser rastreado e precisa ser levado em conta.

Além disso, as farmácias com manipulação são obrigadas por lei a manter um livro de registro com todas as receitas médicas aviadas. O livro de registro da farmácia é um documento importante na busca pela resposta de uma investigação, já que pode apontar se houve ou não manipulação do diurético no mesmo dia da preparação do medicamento consumido pelo paciente em questão e, portanto, se havia ou não possibilidade de contaminação cruzada.

Levantamentos da Anfarmag realizados desde 2007 com as farmácias associadas têm demonstrado o rigor da qualidade no setor magistral. Nesse período, 98,3% dos produtos acabados (cápsulas) coletados para análise estavam em conformidade. Já auditorias realizadas nesses estabelecimentos geraram 99,1% de aprovação dos processos das farmácias segundo a legislação vigente.

As farmácias com manipulação também são constantemente fiscalizadas. Para funcionar, necessitam de autorização da Agência Nacional de Vigilância Sanitária e dos Conselhos de Farmácia. Esses órgãos exigem que o estabelecimento disponha de processos, utensílios, equipamentos, pessoal qualificado e salas de manipulação com áreas apropriadas.

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