Chile adotou polêmico plano para frear violência nos estádios

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O mal da violência nos estádios de futebol se alastra, pouco a pouco, pelos demais países da América do Sul. Em diversos países, as autoridades tentam implementar medidas para erradicar os incidentes. No Chile, um polêmico plano foi posto em prática.

Em 2012, o governo lançou o plano Estádio Seguro. Entre as normas estão proibições como as entradas de artefatos pirotécnicos, objetos cortantes, armas de todos os tipos. Há ainda o controle de alcoolemia nas entradas. Alguns pontos, porém, causam reclamações dos torcedores. São elas a proibição de se assitir aos jogos de pé, em locais com cadeiras numeradas, e o veto a bandeiras, instrumentos musicais e até o tradicional papel picado nos jogos.

Todavia, apesar das reclamações, o número de torcedores nos estádios chilenos vem aumentando. Em 2012, o público total foi de 729.907. No ano ano passado, passou para 793.690. Quanto aos presos por delitos em estádios, o número caiu de 269, em 2012, para 224, no ano seguinte.

- As pessoas não queriam correr riscos e preferiam ver os jogos pela televisão. Pouco a pouco estamos conseguindo que as famílias voltem aos estádios - defende Cristian Barra, chefe do Plano Estádio Seguro.

A medida foi uma resposta à morte de Francisco Javier Figueroa Muñoz, em 12 de julho de 2012. Ele foi assassinado por torcedores do Colo Colo, nas cercanias do Estádio El Teniente, na cidade de Rancagua. Por este motivo, três barras-bravas do clube Albo foram condenados a 10 anos de prisão.

Porém, o jornalista Andrés del Brutto, da revista El Gráfico, critica o fato do plano atacar apenas as formas como os torcedores violentos se manifestam, e não a principal raiz do problema.

- Se buscou restringir mais as formas do que a real causa da violência. O plano nunca se ocupou em diminuir a relação das barras-bravas com os clubes. Os dirigentes pagam viagem, dão ingressos aos torcedores e disponibilzam salas nos estádios para guardar suas coisas. Lamentavelmente, o governo nunca se ocupou disso - afirmou.

Apesar de seus defensores indicarem estatísticas que incluem a diminuição dos delitos em estádios, a continuidade do plano é incerta.

- Há uma semana o governo mudou. A nova presidente, Michelle Bachelet, vai analisar o plano para saber se haverá continuidade. Embora seja controverso e falho, porém, o Plano Seguro foi a primeira vez que um governo apresentou medidas concretas contra a violência nos estádios - completou Del Brutto.

Além das normas de conduta, o plano passou a exigir neste ano que os estádios chilenos das equipes profissionais sejam equipados com roletas que registrem as impressões digitais dos torcedores. A intenção é barrar a entrada daqueles que estão proibidos de frequentar os estádios. Além disso, todos os recintos esportivos deverão ser equipados com câmeras. As entidades que não cumprirem as regras incorrem em punições com multas que variam entre oito mil a 24 mil dólares (R$ 18.600 a R$ 56 mil).

Mauricio Murad (Sociólogo e especialista em Violência no Futebol)

A utilização desta tecnologia é interessante, mas o problema é que é muito cara. Há uma maneira mais rápida e eficaz, que é obrigar, sob pena judicial, o torcedor que está proibido de entrar em estádios a se apresentar à Polícia. Não é o dono do estádio ou o governo que tem de gastar todo este dinheiro, o torcedor é que tem a obrigação de se apresentar, tem que fazer parte da pena dele. Não pode acontecer de o vândalo esperar para que as autoridades o procurem.

Este modelo é o usado na Europa, e penso que é mais rápido, efetivo e educativo. Tem de haver a conscientização do torcedor. Ele tem que saber que cometerá um novo delito se não se apresentar, e pagará por isso.

Para o plano dar certo, é preciso manter a segurança, mas preservar a festa popular, garantir a indentidade cultural do futebol. Não precisa deste veto, basta identificar os torcedores violentos.

Aí, se chega a um ponto crucial. Tem de se achar o meio termo entre a garantia da manutenção da festa popular do futebol, como espetáculo das multidões, e o direito à segurança, o direito à vida, que é o mais importante.


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