América de Cali, um clube que paga caro por erros do passado

Carro com River Plate na Bolívia (Foto: Wallace Borges/ LANCE!Press)
Carro com River Plate na Bolívia (Foto: Wallace Borges/ LANCE!Press)

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Houve um período em que o poder do narcotráfico colombiano estendia os seus tentáculos sobre o futebol do país. Tal ação deixou um efeito trágico, que no caso do tradicional clube América de Cali ainda não passou.

Clube 13 vezes campeão colombiano, o América amarga uma grave crise financeira, e desde 2012 está na Segunda Divisão. Crise esta redundante do envolvimento do clube com dinheiro sujo do narcotráfico durante as décadas de 1970 e 1980.

Em 1979, o América de Cali conquistou pela primeira vez um título nacional. Naquele momento, o clube recebia dinheiro de José Santacruz Londoño e dos irmãos Rodríguez Orejuela. Além de torcedores fanáticos, eles eram os líderes do Cartel de Cali.

A organização criminosa traficava e distribuía cocaína para os Estados Unidos. Isso em uma época em que o consumo da droga, principalmente por pessoas de alto poder aquisitivo, aumentava na América do Norte.

O dinheiro de origem criminosa possibilitava ao América de Cali contratar grandes jogadores. O trio de atacantes, formado pelo argentino Ricardo Gareca (ex-técnico do Vélez Sarsfield), e pelos paraguaios Battaglia e Roberto Cabañas chegou ser denominada como "Os três fanásticos". Gareca, o mais talentoso dos três, era chamado de "o homem de seis milhões de dólares".

O domínio nacional do América ficou incontestável. O clube levantou o Campeoanto Colombiano em cinco anos consecutivos, entre 1982 e 1986. Isso sem falar no tri vice-campeonato da Libertadores, em 1985, 86 e 87.

O sucesso da equipe de Cali fez com que outra organização criminosa rival entrasse no jogo. Em Medellín, o cartel local, liderado por Pablo Escobar, passou a financiar o Atlético Nacional. O clube conseguiu, inclusive, o título da Libertadores em 1989. Em Bogotá, José Gonzalo Rodríguez, que era ligado ao Cartel de Medellín, era o mecenas do Millonarios.

- Era uma época em que todos os setores da vida cotidiana na Colômbia tinham alguma influência do narcotráfico. Era o negócio das drogas que pagava altos salários, que contratava grandes jogadores. Os donos dos cartéis se sentiam muito poderosos - disse ao LANCE!Net Juan Diego Elejalde, chefe de segurança do Atlético Nacional.

Porém o reinado dos cartéis começou a viver o seu declínio na década de 1990. O governo dos Estados Unidos, principal destino da droga colombiana, passou a agir diretamente contra o narcotráfico. Pablo Escobar, por exemplo, morreu após troca de tiros em 1993. Quanto ao América de Cali, o clube sofreria com a chamada Lista Clinton.

Publicada em 1995, quando Bill Clinton era o presidente dos Estados Unidos, ela indicava os nomes de pessoas físicas e instituições que haviam se beneficiado de dinheiro proveniente do narcotráfico. O América de Cali entrou para a lista em 1996. Foi o único clube, porém há uma explicação.

- Millonarios e Atlético Nacional não entraram na lista pois com as mortes de Rodríguez e Escobar o investimento nestes clubes cessou. O contrário do que ocorreu com o América. Quando os irmãos Orejuela foram presos e extraditados para os Estados Unidos, o apoio ao clube continuou mesmo assim. Por isso, o América de Cali foi o único clube a entrar na Lista Clinton - explicou Leonard Gutiérrez, repórter do diário El País, de Cali, ao LANCE!Net.

Sem poder movimentar contas bancárias e receber dinheiro de patrocínios, o clube entrou em um período de crise. Ainda assim, o América sagrou-se campeão nacional em mais cinco vezes e foi vice-campeão da Libertadores mais uma vez, em 1996. Porém as coisas foram ficando difíceis com o passar do tempo, e os títulos deram lugar às lutas contra o rebaixamento.

Para pagar suas dívidas trabalhistas, que chegaram aos dois milhões de dólares (R$ 4,7 milhões), o América de Cali passou a ser um clube vendedor. Qualquer promessa surgida na base era negociada para pagar parte do débito. Inevitavelmente o descenso chegou em 2011.

No ano seguinte, ainda sob restrição de investimentos, o América foi refundado como uma Sociedade Anônima. Em 2013, finalmente, o clube teve o seu nome retirado da Lista Clinton. A reestruturação já começou.

- O presidente Oreste Sangiovanni conseguiu nivelar financeiramente o clube. Ainda não dá para fazer grandes investimentos. Na Segunda Divisão o América conta com uma equipe muito jovem, com zero experiência. Mesmo assim a torcida está fazendo a sua parte, com média de 25 mil torcedores por jogo - contou Gutiérrez.

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