Vira-casaca, carro do 7-1 e Guardiola do Carnaval: LANCE! monta desfile e Paulo Barros promete quatro golaços

Tricampeão na Sapucaí, carnavalesco da Portela abre as portas de seu escritório para <br>uma entrevista exclusiva que virou até enredo. Embarque nesta viagem (com fim)!

HOME - Entrevista exclusiva com o carnavalesco Paulo Barros (Foto: Paula Mascára/LANCE!Press)
Entrevista com Paulo Barros na Cidade do Samba, às vésperas do Carnaval, teve tempo para conversa séria e momentos descontraídos. E o melhor, tudo em 82 minutos... Não estourou! (Fotos: Paula Mascára/LANCE!Press)

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Estouram os fogos na Marquês de Sapucaí!

O Setor 1 agita as bandeiras com o esquenta da bateria. O LANCE! vem para a Avenida com o enredo "Uh, tá maneiro, Pep Barros é artilheiro" para contar, pela primeira vez, para os foliões e espectadores do Maior Espetáculo da Terra a história do nilopolitano Paulo Barros, carnavalesco tricampeão do Carnaval do Rio de Janeiro, com o esporte. Uma relação que existe desde criança até os dias de hoje.

A comissão de frente chegou e evolui no primeiro módulo dos jurados. Apresenta o curioso nome do enredo deste desfile. Pep? Mas Pep... Guardiola?! Sim! Ele mesmo. O técnico de futebol catalão é fonte de inspiração para o artista. E essa história de artilheiro? Pois é, Paulo Barros também gosta de meter seus gols. Sabe como? Não é "Segredo", "é promessa, eu pago". "Acelera", o abre-alas já está vindo...

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                                                              ABRE-ALAS
A alegoria que abre o desfile conta a história de Paulinho, que deixou as águas das piscinas e os tatames do judô para ajudar o pai nas obras em casa. É mole?!

Como começou sua relação com o esporte?
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Com uns 13 anos, eu nadava. Aliás, foi primeira coisa que meu pai fez na casa da gente foi uma piscina. E onde eu morava tinha um clube e lá comecei a participar de competições, mas não havia incentivo. O mundo era diferente. Por exemplo, era chique fumar, a mídia vendia como se fosse bacana. Da década de 1990 para cá, que veio aquele lance do culto ao corpo, da malhação. Hoje, os jovens já vão para academia. A curtição é a geração saúde.  Também pratiquei judô, mas acabei sendo atrapalhado pelo meu pai. Porque as aulas eram fim de semana e ele sempre arrumava uma obra para fazer. E adivinha quem era o seu auxiliar? (risos)

O esporte ficou na infância ou você pratica algum hoje em dia?
> A natação eu abandonei porque eu trabalhei durante 14 anos na Varig, mas se eu pudesse, nadava até hoje, adoro! Comecei a fazer musculação, eu me obriguei, afinal, tinha que cuidar do currículo (risos). A academia me trouxe bem-star, qualidade de vida... Eu saio de lá com um gás danado. Eu vou arrastado, não suporto ir à academia. Só que transformei isso numa rotina porque me traz muitos benefícios, como uma grande disposição.

Você já utilizou o esporte nos seus desfiles, né?
> Sim, em algumas situações de carros alegóricos. Já tive uma equipe fera de profissionais de esqui para uma pista na Viradouro, para um carro do Batman na Tijuca... Também fiz uso do alpinismo porque um carro de gorilas precisava de instruções para as pessoas se comportarem com um cinto. Vira e mexe uso o esporte. Esse ano irei usar um diferente. Mas não posso contar, né? (risos)

Você foi campeão em 2014 com "Acelera, Tijuca!", que abordou Ayrton Senna. Pretende assinar um dia um enredo 100% sobre esporte?
> Diretamente não. Na Viradouro-2007 fiz um enredo sobre jogos (jogos de cartas, azar...). E o último setor falava sobre os Jogos Olímpicos, que inclusive era uma deixa para os Jogos Pan-Americanos do Rio que iam acontecer meses depois. Mas se eu tivesse que fazer um enredo que falasse diretamente sobre esporte... Hum, olha, vou até pensar nisso. Quem sabe? (risos)

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                                                                CARRO 2
Qual é o time de futebol de Paulo Barros? A ala apresenta a relação do carnavalesco com o esporte bretão. Ele virou a casaca com o passar dos anos!

Qual é seu time de futebol de coração?
> Eu me tornei Vasco por conta da ligação da Unidos da Tijuca com o clube. Mas quando eu era garoto, eu era Flamengo. Meu pai e meu irmão eram Fluminense e eu, para ser "do contra", como sempre fui, eu escolhi ser Flamengo. Mas se vocês querem saber, eu até sou Vasco. Se eu tivesse que escolher um time hoje, diria que sou Vasco da Gama.

E assiste aos jogos do Vasco?
> Eu vejo os jogos mais importantes, não é uma rotina.

Lembra algum jogo marcante?
> Lembro o jogo que o Vasco foi rebaixado (risos). É uma situação engraçada, né? O Vasco agora vai se tornar grande de novo para voltar. Com escola de samba é a mesma coisa. Quando ela ganha no Acesso, ela fica forte de novo.

Qual é a semelhança que você vê do Carnaval com o futebol?

> Carnaval é mais amigável e pacífico. A gente convive muito bem, visitamos a casa um do outro. No futebol tem aquela parcela de pessoas que generaliza a torcida e que é vilã, essa é a grande tristeza. No Carnaval não tem isso. Temos a turma que torce contra. Eu, por exemplo, quando entro na Avenida, é certo que tem umas 11 pessoas secando para qualquer porcaria dar errado.

Então o futebol e o Vasco não mexem tanto contigo. Mas e quando você coloca seu time na Sapucaí? Vive momentos de tensão?

> Eu fico histérico, num estado de êxtase. É uma coisa absurda. Tenho até que fazer análise para entender porque eu me transformo ali, foge do meu controle. Aquela curva de entrada na Sapucaí é muito perigosa, acontecem muitos problemas técnicos que precisam ser cuidados. É um momento muito difícil. Naquela hora, eu não sou eu, sou uma entidade, não adianta. Eu nunca vi um desfile meu da arquibancada e adoraria fazer isso. Teve um ano que eu disse para o presidente da Tijuca, no Desfile das Campeãs, que queria assistir ao desfile na Sapucaí. Tomei a decisão, fui ao camarote com o rádio e esperei a escola entrar. Quando a Tijuca fez a curva, eu vi que estava no tempo errado, fora dos meus planos. Comecei a gritar, joguei o rádio para cima e corri. Não aguentei e fui pra lá. É mais forte do que eu.

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O terceiro setor mostra a experiência de Barros com o esporte pela televisão. Como é seu lado torcedor? É ano de Olimpíada, para quem ele vai torcer?

Qual é a imagem inesquecível do esporte na cabeça do Paulo Barros?
> É a morte do Ayrton Senna. Toda vez que vejo, me emociono. Eu trabalhava na Varig nesta época, estava fora do país e mesmo assim me marcou muito.

Estamos no ano dos Jogos Olímpicos do Rio. Já tem algum atleta ou esporte preferido para acompanhar na TV?
> Tenho uma paixão pela ginástica olímpica. Eu me hipnotizo com o cavalo (com alças). Acho que é uma das coisas mais lindas que o homem pode fazer. Aquela movimentação é perfeita. Se o cara abaixa a perna um pouquinho, ele dá uma porrada naquele cavalo e se arrebenta. Torço pela ginástica!

Vai assistir à ginástica apenas então?
> A natação, por exemplo, me incomoda. Os caras chegam muito próximos um do outro. A gente não consegue saber quem chegou primeiro. Vai ser aquele maldito toque que vai dizer. Fico revoltado com aquilo (risos). A minha vontade é que um disparasse sempre. Esse negócio de décimos pira minha cabeça.

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É ano olímpico, a festa será no Rio. Mas estamos preparados? Paulo Barros já trabalhou com eventos deste tipo, mas a experiência não foi muito boa...

Você foi responsável pela cerimônia de abertura da Copa das Confederações em 2013 e depois desabafou na internet dizendo que "nunca mais" faria eventos do tipo...
> Nem me lembrem, quero esquecer que fiz isso. É difícil. No Carnaval faço um espetáculo que eu sei onde eu vou passar, tenho largura e altura, essas coisas... Eu domino a área que trabalho. O que acontece nesses eventos? Fico sujeito
às regras deles, há interferência até na criação, cara. Meus figurinos iam e voltavam com modificações o tempo todo.

Então "nunca mais" mesmo? Foi um adeus?

> Voltaria a fazer se o esquema fosse outro. Mas no esquema que eu fiz? Muito obrigado, não quero. Eu tenho pavor do erro, não consigo conceber o erro.

Falando em cerimônia, estamos próximos da abertura dos Jogos Olímpicos do Rio. Qual é a sua expectativa para a festa?

> Não tenho papas na língua e não será agora que terei. Vamos aguardar a cerimônia. Pelo que a história me diz, a tradição de festa de abertura é das Olimpíadas, não é de Copa, que é feito um feijão com arroz antes do jogo. As pessoas confundem isso. Vamos lá. Um estádio que vai receber um evento desse é preparado com grande antecedência para a festa. Sobe coisa do chão, aparece coisa do subsolo, as coisas desaparecem... Onde será nossa abertura? O que está sendo feito no Maracanã? Não sei. Na minha cabeça virá tudo por fora, concordam? Não tem nada acontecendo, não tem maquinário... Concluo que o show será via aérea (gente pendurada) ou alguma coisa que entrará por aqueles malditos acessos, que são mínimos. O que se faz fora, eu não vejo sendo preparado. Se vocês não sabem, a Rosa (Magalhães) deixou uma porrada de coisas do lado de fora do Maracanã no Pan-2007. Ela fez milagre.

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Já imaginou um carro do 7 a 1 desenhado pelo Paulo Barros? Nem isso escapa na imaginação criativa do carnavalesco. Nesta alegoria você terá ideia disso!

Paulo, vamos te dar uns temas do esporte atual para você dizer a primeira ideia que vem à cabeça para montar um carro alegórico. Topa?
> Vocês querem que eu entreguem o jogo? Se eu disser isso, vocês publicam e aí já era (risos). A primeira coisa que vem na minha cabeça pode ser o pulo do gato. Estaria entregando o ouro para os bandidos. Quando tenho um enredo, as imagens começam a chegar, trabalho assim, é o meu processo de criação.

Vamos fazer um teste então...

> Fazer um teste? Tá bom! (risos).

O 7 a 1 na Copa-2014. Qual é o estalo que você tem?

> Faria um carro que falasse de desgraça, né? Eu não tenho uma solução agora, mas transformaria isso em uma grande piada. Faria o povo rir porque o próprio povo riu disso. Todo mundo ficou muito triste, mas segundos depois do jogo, eu recebia enxurradas de imagens sacaneando o que aconteceu.

E a invasão do mercado chinês no nosso futebol? Contrataram todo mundo...
> Levaram jogadores do Corinthians, né? Adoro isso, tá? (risos). Adoro essa desgraça que vira piada. Faria algo com muito mais humor que o 7 a 1.

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Chega a hora de conhecer o lado perfeccionista de Paulo. Com pavor do erro, ele tentará levar a Portela ao título do Carnaval. E a inspiração? Pep Guardiola!

No futebol brasileiro, seja dentro ou fora de campo, há várias discussões a respeito da busca pela modernização. Paulo Barros na Sapucaí é quase um sinônimo de inovação. Como é enfrentar a tradição?
> Eu já estou cansado desse papo. Me falam que sou muito americanizado, que coloco imagens de filmes americanos, que faço Carnaval pop, que Carnaval não é isso. África, elefante, cavalo, perucas inglesas e francesas são pop? São coisas tipicamente brasileiras? Acho uma questão ultrapassada. Eu só não uso Egito, uso Batman. Não uso África, uso Michael Jackson. Qual é a diferença? A África é mais brasileira que uma figura pop?

Você é um cara que é muito focado no trabalho...

> Trabalhar no Carnaval é o que me dá mais prazer, estar aqui o dia todo. Me programo todo para me dedicar ao trabalho. Isso tudo para o desfile, que é o dia mais infeliz da minha vida porque não dependo só de mim. Dependo de 200 pessoas só para comandar e de 4.500 que nunca vi. É um espetáculo que a maioria nunca se conheceu, tem tudo para dar m... Parem para pensar...

O jejum de títulos no futebol é uma coisa que incomoda muito aos torcedores e dirigentes. A Portela é a maior campeã do Carnaval, mas não conquista um título sozinha desde 1970. Como você lida com isso? É diferente?
> Eu deixo esta questão do lado de fora e não me incomoda absolutamente em nada. Tenho que executar o meu projeto. As pessoas me encontram na rua, batem no meu ombro e dizem "Você vai trazer o título para a Portela esse ano". Respondo: "Não, não vou. Vou ajudar". Levarei uma parte estética diferenciada, farei um desfile baseado na competência, organizarei a parte artística. O título depende do julgamento de outros quesitos. Entre Portela e Paulo, não existe problema algum. Não sofro interferência e tenho liberdade. Adoraria quebrar este jejum, é o que eu mais quero. Farei o possível e o impossível.

As escolas de sambas costumam receber muitas celebridades, inclusive esportistas. Já recebeu algum pedido de algum atleta para desfilar contigo?

> Nunca recebi. O que acontece? Tenho que ter domínio de todos. Vamos imaginar. Eu tenho um carro alegórico que o personagem é um jogador de futebol. Se eu chamá-lo ou alguma personalidade, vou precisar dele aqui três vezes na semana para ensaiar e eu sei que ele não virá. Então prefiro pegar um anônimo. Os atletas sempre serão bem-vindos, contanto que não atrapalhem. A mesma coisa é com artista. Não vou chamar um artista para encher linguiça em cima de um carro só porque ele vai me trazer aplausos...

No esporte, chamamos de "jogar para torcida". Acontece em outras escolas?
> Sim, acontece. Uma começa com "Grande" e termina com "Rio". Entulham o carro com famosos, não gosto disso.

A Grande Rio, inclusive, este ano tem o enredo sobre a cidade de Santos e vai falar sobre Pelé, Neymar...
> Eu sei (risos). Não sou contra, mas não faz parte da minha tática. Este ano, tenho um personagem que fará um papel específico em cima de um carro.
Aí me questionaram: "Vai chamar um ator famoso?". Eu respondi: "De jeito nenhum, ele não estará disponível". Prefiro chamar um nobre desconhecido.

Você mostra muito empenho no trabalho, parece estar sempre em busca da perfeição e ainda tem a imagem de inovador. Você é o Guardiola do Carnaval?
> Já me chamaram de Neymar e até de Messi. Sou o Guardiola. Não tenho modéstia nenhuma em dizer isso. Não por me sentir ele, mas por me espelhar nele em busca da perfeição. Sou um chato, me chamam de enjoado e o c... Mas meu jogo tem que ser perfeito, por isso sofro tanto. Meu Barcelona tem que funcionar e tenho que tê-lo na minha mão. Por exemplo, na Viradouro-2007, eu tinha um carro que era um castelo de cartas virado de cabeça para baixo. Eu estava na concentração e escutei um estrondo horas antes do início do desfile: "booom". Fui correndo para ver e o carro estava todo no chão. Uma viga arrebentou e destruiu o carro inteiro. Acabou. Quando vi aquilo, sentei na calçada e apenas chorei. Não tinha salvação. E aí que entra a mágica da equipe. O meu Barcelona daquele ano, em 1h30, colocou o carro em pé, consertou tudo. Eu tenho que ser o cabeça, não posso ser carrasco. Se eu for carrasco, eles olham na minha cara e dizem: "Ih, que pena, não vamos conseguir dar jeito, você que se f..." Tem que gerenciar e ser líder. Tenho que manter o jogo, com rigidez, porém com respeito. Se não rolar isso, eles te derrubam.

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O encerramento do desfile do LANCE! na Avenida. O último setor mostra como Barros pretende fazer seus golaços com a Portela para levantar a Sapucaí!

Você nos disse que não gosta de receber aplausos com astros no seu time. Então como planeja levantar a torcida na Sapucaí?
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Qual é a grande emoção da torcida no futebol? O gol. E o que eu procuro fazer no meu desfile? Vários gols. Se não tiver gol, nada acontece. Não vai ter alegria, satisfação, o desfile passa. Depois que a terceira escola passa, o público que não é tão ligado ao Carnaval, está de saco cheio. Mas quem é do Carnaval consegue enxergar algumas minúcias... O que é um julgamento de mestre-sala e porta-bandeira? Até hoje eu não sei. Para mim são duas pessoas que chegam ali e rodam. Na Sapucaí tenho que fazer gols.

Seus gols nascerão de jogadas ensaiadas? Já é sua assinatura na Avenida...
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Posso dizer o seguinte: este ano todas as minhas ideias com relação a alegorias e algumas alas são ensaiadas. O que eu aprendi no Carnaval?
Aprendi que o carro alegórico é uma cena e esta cena tem que ser ensaiada.

Se as jogadas ensaiadas derem certo, resultam em gols. A Portela vai golear?
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A crise limitou muita coisa, mas quero fazer pelo menos uns seis gols (risos). Sendo que são, hum, deixe eu ver... Um, dois, três, quatro... Quatro golaços! Espero que meus jogadores sigam as instruções que eu planejei. Uns quatro golaços pretendo meter dentro da rede.

ARTE: Fábio Leal

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