Em adeus, presidente do Corinthians admite problema com dívidas e comissão ‘fora do normal’ no caso Jô

Ao lado das taças dos três títulos conquistados, Roberto de Andrade se despediu do clube em entrevista nesta sexta-feira e falou sobre os problemas enfrentados em sua gestão

Roberto de Andrade recebeu placa e posou ao lado do técnico Carille e do gerente Alessandro
(Foto:Rodrigo Gazzanel / RM Spor / Lancepress!)

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Após três anos de gestão, três títulos conquistados e muitos problemas, o presidente Roberto de Andrade se despediu nesta sexta-feira do comando do Corinthians. Na véspera da eleição que decidirá seu sucessor, o dirigente concedeu entrevista coletiva no CT Joaquim Grava ao lado das taças dos dois Brasileiros e o Paulista por ele conquistados, e falou sobre os problemas do clube nesse período, além dos triunfos. Andrade admitiu que não sai satisfeito com a situação financeira deixada. A redução do débito era uma das bandeiras de sua gestão, mas ela aumentou no período.

- Não saio satisfeito com relação às finanças. Mas não temos que analisar só os números frios. Temos de analisar que passamos pelos piores três anos da história do país. Não foi só o Corinthians que passou por isso. Vimos grandes empresas quebrando, fechando. E por isso me dou por satisfeito - afirmou Andrade, que também falou sobre os problemas que fizeram o Corinthians ganhar a fama de mau pagador no mercado.

- Não existe fama de mau pagador. Acha que o Corinthians não vai pagar mil reais? Eu pago do meu bolso. Às vezes, você recebe material e o material nem veio. E aí você vai contestar, e nesse tempo a empresa coloca no cartório. Tudo bem, tem muita coisa que o Corinthians deixou de pagar, ok. Mas tem muita coisa que estamos discutindo. 

Outra questão comentada pelo presidente foi a da venda de Jô para o Nagoya Grampus do Japão no início deste ano. Além de diferença nos valores inicialmente informados, chamou atenção a comissão paga pelo Corinthians aos intermediários do negócio. A quantia paga de comissão superou os 30% do valor do negócio, fechado em cerca de 10 milhões de dólares (cerca de R$ R$ 32 milhões). Cerca de R$ 10 milhões foram divididos entre empresários de Jô e outro intermediário. Roberto de Andrade admitiu que a comissão foi fora do normal, mas ponderou:

- O que existe é negócio. Um negócio não é igual o outro. Já vendi jogador sem comissão. E já vendi com comissão maior. Porque é tratado. Tudo passa no Banco Central, e passa na Fifa. Como tínhamos acordado dessa forma, foi assim que foi feito. Ah é fora do normal? Pode ser. Mas não é ilegal fazer, tanto que a Fifa aceitou, senão não aceitava - justificou o presidente.

O presidente também celebrou a marca vitoriosa de sua gestão dentro de campo. E disse que o maior feito foi ter bancado o técnico Fábio Carille.

- Se eu tivesse sido presidente nos três anos, mas não tivesse passado pelo futebol, não teria tido oportunidade de conhecer o trabalho do Carille, e talvez minha decisão não fosse essa de manter. Mas o fato de ter acompanhado três anos como diretor de futebol, e depois presidente, tive uma análise muito melhor. Sabíamos a pessoa dele, competência, trânsito no elenco formidável. Isso é meio sucesso andado. Lógico que o sucesso total são os resultados das competições. E graças a Deus eles vieram e consagramos mais um técnico para o mundo - declarou.

Roberto de Andrade é do grupo Renovação e Transparência, que está no poder desde 2007. Na eleição deste sábado, a chapa terá Andrés Sanchez, mandatário de 2007 a 2012, como candidato. Ele tem como adversários Antonio Roque Citadini, Felipe Ezabella, Paulo Garcia e Romeu Tuma Júnior.

Confira abaixo outros trechos da entrevista de despedida do presidente Roberto de Andrade:

Alguma decepção?
Decepção não tenho nenhuma. Decisão você tem de tomar. Depois de um tempo, aí você pode se decepcionar. Não me arrepende de nada. A soma traz a satisfação, o entusiasmo de ser presidente. Não tenho um fato que é relevante. Tudo que foi feito, foi feito com a intenção de acertar, ser o melhor para o clube. Isso que me deixa tranquilo, porque toda atitude foi sempre pensando no clube. Desde o primeiro dia

Qual foi a maior dificuldade?
Tudo é difícil. Nada é fácil. Cada um tem sua característica. Lidar com vocês (jornalistas) não é fácil, é a parte mais chata. São inúmeros profissionais, cada um com um informante. Nem todas as matérias publicadas são verídicadas. Às vezes os informantes de vocês também falham. Tudo é importante. Até a compra de comida para o almoço diário. Tudo você tem de olhar.

O que espera da eleição e quem vai vencer?
Primeiro espero que a eleição ocorra com tranquilidade. Que todos vão para votar e não para causar confusão. Espero que o Andrés vença, é do meu grupo político, tem meu apoio. A gente sabe que está liderando as pesquisas, com vantagens boas. Se tudo andar como previsto, ele será presidente novamente

Decisões tomadas
Tudo tem porquês. Eu fui três anos diretor de futebol, então acompanhei muito de perto nos últimos seis, sete anos. Sempre quisemos ser claros, objetivos, e respeitar as pessoas. Nunca nenhum jogador saiu escorraçado. Saiu por outro vínculo empregatício. Acho que isso foi a grande virtude de nós termos os atletas prontos para atuarem com a camisa do Corinthians. Tivemos em alguns momentos, momentos adversos. Prêmio sem ser pago, salários sem ser pagos. E nunca tivemos resposta negativa de nenhum atleta. Isso é resultado do respeito que sempre tivemos com todos. Acabei de falar isso com os atletas. Sempre entendi que nós, no futebol... É meio piegas falar isso, mas é muito perto de ser uma família. Eu me orgulho de, em seis anos, nunca ter tido problema de ordem pessoal, atleta com atleta, atleta com funcionário. Acho que isso resume um pouco porque o Corinthians vem conquistando com larga vantagem sobre os outros clubes

Por que está emocionado?
Não é por nada. Chegou a hora, chegou a hora. Mas você se apega às pessoas. É a parte mais difícil

Por que não construiu o CT da base?

Não foi só promessa dele, foi minha também. Coloquei como prioridade o CT da base. Tínhamos tudo pronto para os projetos incentivados. Conseguimos recolher algum dinheiro, mas não o suficiente para a gente continuar o projeto. Fizemos os campos, que é boa parte do valor investido. E agora falta a parte de hotelaria, parte física... De arquitetura, que acredito que o Andrés vai fazer. Sinto muito de não ter feito, gostaria muito, mas infelizmente não conseguimos executar

Agora, vai ser mais Andrés Sanchez (que participa) ou mais Mário Gobbi (recluso)?
Respeitando a maneira de cada um ser, são três indivíduos completamente diferentes. Cada um nascido num lado e criado de uma forma. Nem tanto ao céu nem tanto à terra. Vou continuar participando, sou conselheiro. Se alguém precisar, estarei sempre pronto. Em prol do Corinthians, minha disposição é eterna, nunca acaba

Contratações e times competitivos
O que é mais difícil no futebol, até eu, espera que seu clube vença todo ano. O que temos de achar é o equílibrio. Precisamos fazer um time forte? Sim, sempre. Mas você não pode arrebentar o clube para fazer uma temporada. Porque o campeonato pode não chegar. Aí o negócio fica ruim. Se conquistar, menos ruim. Mas também não é bom. Em 2015, nós também perdemos. Perdemos o Guerrero. Mas, infelizmente, não dava para pegar todas as fichas e colocar num número só. Não dá

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