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'Vovô' dos Meninos da Vila, Robert se emociona ao lembrar título de 2002

Camisas Barcelona (Foto: Reprodução/Sport)
imagem cameraCamisas Barcelona (Foto: Reprodução/Sport)
Dia 28/10/2015
05:17

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Ninguém no elenco santista de 2002 entendia a importância daquele título como Robert. Enquanto os garotos daquele elenco dizem que não sentiam a pressão por conta do jejum de 18 anos, o ex-meia não esconde: o grito de campeão estava entalado na garganta desde 1995, quando foi vice do Nacional.

"Vovô" dos Meninos da Vila, Robert, que na época tinha 31 anos, foi responsável por dar experiencia e tranquilidade aos garotos. E, na hora em que o Santos mais precisou, na grande decisão, ele chamou a responsabilidade e substituiu Diego, o camisa 10, a altura.

Em entrevista exclusiva ao LANCE!Net, ele conta detalhes da convivência com Diego, Robinho e Leão, conta histórias, bastidores, relembra e se emociona com a conquista. Confira abaixo:

Por ser um dos mais velhos do grupo, exercia o papel de liderança naquela molecada?
Com certeza. Eu tinha que fazer o papel do mais velho, tinha que segurar aquela molecada. Eles queriam toda hora estar com a bola no pé, ir para cima do adversário, mas em alguns momentos tínhamos que esfriar a partida. O Leão falava muito sobre isso. No entanto, era meio complicado: Léo voando pela lateral esquerda, Maurinho na outra, Robinho e Diego "serelepes" em campo. No fim, ocorreu tudo bem, encontramos o equilibrio. Eu, Fábio Costa, Alberto, entre outros, passamos a experiência necessária.

Quando percebeu que o Santos brigaria pelo título? Há quem diga que foi no amistoso contra o Corinthians.
Eu não estava naquele amistoso contra o Corinthians, fazia parte do elenco do São Caetano, naquela campanha do vice-campeonato da Libertadores. De casa, vi que o Santos estava atropelando todo mundo nos amistosos. O Robinho e Diego já mostravam uma baita personalidade. Era impressionante a personalidade e confiança que eles entravam em campo. A partir daquele amistoso contra o Corinthians, na Vila Belmiro, a equipe ganhou muita confiança. Viram que, mesmo tendo uma equipe jovem, poderiam chegar bem longe. 

Acreditava no título?
O Santos vivia uma dificuldade muito grande, principalmente na parte financeira. Era uma época complicada, sem títulos, o Leão teve que se virar para formar a equipe, foi juntando algumas peças. Foram apenas dois ou três jogadores que vieram, como o Maurinho e o Alberto. Ele conseguiu encaixar tudo e depois viu que tinha um timaço nas mãos. Lembro que ele falou para o presidente que não precisava contratar mais ninguém. Anos antes, eu estava no São Caetano e depois pude voltar para esse time maravilhoso. Deu tudo certo.

Todos os jogadores contam histórias das molecagens de Diego e Robinho. Você se recorda de alguma boa daquela época?
Têm algumas histórias muito engraçadas daquela época. Lembro, por exemplo, de uma com o William. Ele foi numa palestra do treinador de vôlei Bernadinho e disse ter ficado muito satisfeito com as palavras dele. No dia da partida (pelo Sul-Americano Sub-20), foi escalado e meteu dois gols. Na saída do gramado, perguntaram pra ele sobre os gols e ele agradeceu ao Bernardinho pelas instruções. Na reapresentação da equipe, na segunda-feira, o Leão reuniu todo mundo no vestiário e, com as mãos pra trás, escondia uma bola de vôlei. Logo quando entrou, ele chamou o William, jogou a bola e falou: "Toma, William, quer agradecer ao Bernardinho? Eu não faço nada aqui? Se quer falar dele, vai jogar vôlei. Eu te dou a oportunidade e tu vai falar do Bernadinho?" A gente ficou sem graça, rindo, dando gargalhadas... O Leão era bem assim, autêntico! Ele foi como um pai para gente, sabia a hora de chegar junto e dar carinho. 

Tem mais alguma outra boa história para lembrar?
Naquela época, estávamos na febre dos Playstation, e o Leão sabia que a garotada ficava até 1h da manhã jogando. Ele falava que não era para jogar, mas a garotada não conseguia se segurar. Com os celulares também era assim, mandava desligar todos. Chegou num ponto que ele começou a recolher os celulares, passou de quarto em quarto. Numa concentração, quando ele ia começar a recolher os celulares, o Robinho deu a ideia de colocar todos os aparelhos para despertar às 3h30. Após ter recolhido, de madrugada, 15 celulares começaram a tocar o alarme. Só via o Robinho e Diego dando gargalhada. Era engraçado demais, quando chegávamos em campo ganhávamos o jogo. 

Vocês conviviam com muita desconfiança, faixas viradas... como era?
Era complicado, né? Quando eles (torcedores) perceberam que o time era bom, poderíamos dar esse titulo, eles amenizaram um pouco. Falaram que só virariam as faixas se fossemos campeões, mas mostravam confiança em nosso trabalho. Todo mundo tinha uma confiança muito grande, desde a presidência, até as arquibancadas. Mesmo sendo um time de garotos, mostramos a nossa capacidade. Desde 95 não tínhamos aquele clima, conseguimos resgatar o sentimento de uma forma muito excitante. Muito por conta da velocidade, gols, Alberto fazendo gol de letra, bicicleta, era bom demais jogar no Santos.

Você falou sobre a confiança com a presidência. Como era a relação com o Marcelo Teixeira na época?
O Marcelo (Teixeira) costumava ir no treino, no vestiário, foi importante demais para nós. Essa geração foi o fruto do que ele estava plantando na base há tempos. Revelou o Diego, Robinho, segurou Elano e Renatinho, que poderiam ser emprestados, teve grande importância nesse título. Ele era muito generoso nos bichos também (risos), nos ajudou muito em todos os problemas. Tudo que ele combinou, cumpriu. No campo, o time respondeu e deu show.

Por ter participado do vice em 95, aquele Brasileiro tinha um peso diferente para você?
A pressão era muito grande por conta daquela fatídica final de 95. Eu fiquei com o grito de campeão do brasileiro preso na garganta. Quando faturamos, dediquei o título aos meu amigos daquela campanha, foi muito importante pra mim. Falei muito com o Léo que precisava ganhar esse titulo, o torcedor merecia. Graças a Deus conseguimos chegar a conquista.

Na última partida, equipe deu uma caída e quase ficou fora da reta final. O que motivou o grupo a entrar 'voando' na reta final?
Demos uma relaxada, estávamos bem, encantando todo mundo. Na minha opinião, mais do que aquela derrota para o São Caetano, teve um jogo que foi muito importante para chegar ao título, apesar da derrota. Foi contra o São Paulo, no Morumbi, antes da reta final. Eles tinham o melhor time da competição: Kaká, Luis Fabiano, Reinaldo... Naquele jogo, apesar da derrota, percebemos que poderíamos mais. Em cima daquilo, ficamos com o São Paulo engasgado... Já no último jogo, quando classificamos no sufoco, vimos que pegaríamos o São Paulo e ficamos felizes. Era a nossa chance de dar arrancada para o título. Pegamos eles duas vezes, duas vitorias incontestáveis. Depois veio o Grêmio e depois o Corinthians. Era uma equipe maravilhosa, demos o start para o Santos entrar em uma era vencedora.

Criou-se uma rivalidade a parte com o São Paulo, não?
Teve aquele arranca rabo naquele jogo, com o Diego comemorando em cima do escudo do São Paulo, que gerou um climazinho de rivalidade, mas sadia. Víamos que no jogo entramos atropelando, conseguimos a vitória, depois a semana toda falaram que iriam virar e vencemos de novo lá (no Morumbi). 


Robert separa briga. Ele e Alberto eram os mais experientes (Foto: Ari Ferreira)

O que passou na cabeça quando o Corinthians virou o jogo, na final? 
Na hora voltou aquela lembrança do gol do Ricardinho, na semifinal do Paulista de 2001. Mas exorcizamos logo em seguida, conseguimos o empate, aí acalmou e no final o Léo fez o gol da vitória. Foi maravilhoso...

Foi o maior jogo da sua vida?
Aquele jogo foi muito especial para mim, pois já tinha uma história com o Santos, com a galera de 95. Para mim, era muito importante ganhar aquele título, ainda mais sobre o Corinthians.

Como foi entrar com três minutos da final?
Meu desejo era entrar jogando. Imaginei que o Leão colocaria o Diego na frente e eu no lugar do Alberto, suspenso, mas ele preferiu o William.  Ninguém sabia que ele estava machucado, ele foi para o sacrifício. Eu estava com vontade de entrar, contribuir... Quando entrei em campo, com gana, entrei voando. Não foi entrar numa fria, outros podem encarar assim, mas eu estava disposto a escrever história.

E a relação com o Leão?
Ele pegava no pé, mas de uma forma que levávamos para o lado mal. Ele pegava no pé do Douglas e principalmente do William. Robinho e Diego. Ele ajudava para o bem da gente, Leão foi muito importante para a gente. Fez isso com muita qualidade.

Encontrou um elenco igual àquele na carreira?
Foi um dos melhores grupos que joguei. Em 95 o time também era muito bom, bem unido, mas com média de idade maior em relação a 2002. Lá tinha muita brincadeira, muita alegria, tinha muito juvenil, "juvenada", como chamávamos, só queriam brincar e jogar bola.

A concentração devia ser uma bagunça... 
Correria, gritaria nos quartos, videogame, celular o tempo todo... O Leão pedia para a gente descansar, mas não dávamos muito trabalho. Era só essa brincadeira. No campo dávamos a resposta positiva.

Como foi a festa do título? 
A comemoração foi maravilhosa, inesquecível, inexplicável. Tinha uma pressão danada. O Leão falou que tínhamos que descer a Serra, ir para Santos direto, ele vetou irmos para a avenida Paulista. Lá vimos aquele comboio maravilhoso, quando descemos no casqueiro estava lotado, foi inesquecível. Tenho esse momento guardando na mente, na chegada da Vila, carro de bombeiro, Praça da Independência, fiquei só de cueca... (risos). Foi maravilhoso.

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