Promotor do MP que ‘enquadrou’ CBF: ‘Torcida única é precedente perigoso’
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O promotor do Juizado Especial do Torcedor e de Grandes Eventos, Marcos Kac, explicou o motivo de o Ministério Público do Rio de Janeiro ter entrado na discussão sobre as torcidas no clássico entre Fluminense e Vasco no Maracanã. Tendo recomendado à CBF que revogasse a decisão de determinar a presença somente dos tricolores - medida que foi acatada pela entidade -, Kac concedeu entrevista ao LANCE! e explicou o motivo de considerar um retrocesso a concessão do direito de torcer no estádio a apenas um dos lados.
- A torcida única aqui abre um precedente perigoso. Se abrir o precedente, seria a pior das soluções - disse ele.
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Como vê a iniciativa do presidente Eurico Miranda de entrar na Justiça para que a própria torcida não vá ao jogo?
Marcos Kac: Acho que é válido ele pleitear o que entende ser certo na Justiça. Ele tem o direito. Só não pode pedir para que o torcedor não vá ao jogo. Esse imbróglio todo é uma grande besteira. A discussão que o MP está não é pelo lado do campo, mas pelo direito do torcedor de ir ao jogo. Não queremos que o torcedor seja prejudicado.
É uma preocupação que essa polêmica toda resulte em violência?
Marcos Kac: A rivalidade sempre existiu. Não contribui para a paz, mas não pode ser transformada em briga na questão da torcida. Cada um tem seu interesse, mas essa animosidade não deve ser transposta para a torcida.
Como viu o comportamento da CBF em relação à recomendação?
Marcos Kac: A CBF mostrou bom senso ao acatar, vislumbrou que não valeria a pena manter a posição. Ela quis resolver uma questão que não a afeta. O Fluminense tem contrato, o Vasco alega a questão histórica, mas os torcedores não podem ser impedidos de exercer o direito de torcer.
E o que aconteceria se a entidade ignorasse?
Marcos Kac: Seria feito um requerimento ao juiz do Juizado do Torcedor e submeteríamos a ele a questão. Poderia ser tentada uma liminar. Mas o fato de o caso ter sido resolvido administrativamente, sem a necessidade de acionar a Justiça, mostra a grandeza das instituições envolvidas.
Por que a torcida única não resolve o problema da violência?
Marcos Kac: O Brasil, como o um todo, restringe os direitos em prol de uma pseudo-segurança. Por exemplo, proibiram a venda de bebida alcoólica nos estádios. Mas quem quer beber continua fazendo isso fora do raio de 500m do estádio. E bebe mais, e mais rápido. Isso apenas tirou o direito do cidadão comum de consumir sua cerveja no estádio. Quem quer brigar, não precisa beber. Já vai com o espírito pré-disposto. Nos Estados Unidos, em qualquer esporte, você pode beber e acompanhar o jogo. No Brasil, estamos indo para um patamar mais baixo, que é a torcida única.
Que efeito a política de torcida única causaria aqui no Rio?
Marcos Kac: Imagina uma finalíssima de Carioca entre Flamengo e Botafogo sem a torcida do Flamengo no segundo jogo. Isso criaria mais confusão do que resolveria o problema. A torcida única aqui abre um precedente perigoso. Se abrir o precedente, seria a pior das soluções para a CBF. Isso desestimularia o torcedor de ir ao estádio, teria queda de público, queda de arrecadação. No Rio Grande do Sul, quando fizeram o setor misto no Gre-Nal, todo mundo elogiou. O Rio vai no sentido contrário. É prejudicial, o torcedor acabaria pagando por um produto insosso.
Qual a solução?
Marcos Kac: O que é preciso fazer para controlar a violência é identificar e punir os responsáveis. Fazer cadastro, usar a biometria, criar mecanismos eficazes de punição. Ao verem que isso funciona, os brigões já pensam duas vezes, tomam cuidado. Hoje em dia, é violência pela violência. Torcida briga com outra do próprio time.
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