Muricy Ramalho: Fã de gibis e obcecado pelo trabalho

- Matéria
- Mais Notícias
Muricy Ramalho faz a preleção aos jogadores no hotel, embarca no ônibus, chega ao estádio com a delegação e se dirige a um canto do vestiário poucas horas antes de a bola rolar. Ali, sozinho e muito pensativo, tenta diminuir a ansiedade pré-jogo e escolhe a leitura como passatempo. Livro? Jornal? Revista? Não. Gibi. E ai daquele que se aproximar do treinador...
– Ele não gosta de papo antes da partida, muito menos depois, perdendo ou ganhando. É difícil até de tentar ver qual é o gibi que ele lê, porque fica p... da vida (risos) – conta, com bom humor, uma das pessoas mais próximas ao técnico entre abril de 2010 e março deste ano, nos tempos de Fluminense, campeão brasileiro do ano passado.
Assim como faz com as histórias em quadrinhos, Muricy se entrega totalmente aquilo que se dispõe a executar, sobretudo o trabalho. O relato é feito por personagens que já estiveram ou ainda estão presentes na vida e na carreira do comandante.
A dedicação, o comprometimento e o profissionalismo são os principais elogios feitos a ele, que até dorme alguns dias no CT Rei Pelé.
– O que mais o irrita é o jogador que não segue as suas orientações e o descuido com os horários estipulados – explica um funcionário do São Paulo, pelo qual Muricy conquistou os nacionais em 2006, 2007 e 2008.
Muito desse comportamento foi herdado de Telê Santana, de quem o treinador foi auxiliar no clube do Morumbi durante os anos 90.
– Os dois têm algumas características em comum: são apaixonados por futebol e pensam no assunto o dia inteiro. Só acho que o Telê era um pouquinho mais obsessivo e perfeccionista que o Muricy – analisa Luiz Gonzaga Belluzzo, ex-presidente do Palmeiras que conviveu com o santista em 2009/2010, conheceu o Mestre na década de 70 e manteve a amizade até o seu falecimento, em 2006.
A um jogo da consagração mundial pelo Peixe, o discípulo pode repetir os passos do seu mentor. Se em 1992 Telê comandou o São Paulo na virada sobre o Barcelona (ESP) de Stoichkov, em Tóquio (JAP), Muricy pode surpreender os astros novos da Catalunha, neste domingo, em Yokohama.
Guardiola: uma obsessão no caminho do Santos
Naquela ocasião, Raí cobrou a falta ensaiada exaustivamente e colocou a bola no ângulo de Zubizarreta: 2 a 1 no placar e um sorriso surpreendente do comandante ranzinza (veja o momento na foto abaixo).
Agora é a vez do aluno superar o melhor time do mundo e, enfim, sorrir com a torcida do Santos!
Telê sorri logo após o gol de Raí (Foto: Reprodução de TV)
Os passatempos de Muricy
Meca com os amigos
Desde que chegou à Vila Belmiro, em abril deste ano, Muricy Ramalho abriu o seu leque de opções na culinária. Um dos pratos prediletos do treinador é o meca na brasa. Geralmente o peixe é temperado com sal, limão e alho a gosto e colocado sobre a grelha. Para acompanhar, o treinador opta sempre por uma cerveja bem gelada.
Amigo de Muricy desde a década de 70, o ex-jogador Serginho Chulapa bate ponto na roda de amigos em uma quadra perto do CT Rei Pelé.
Churrasco com funcionários
Não é só de peixe que é feito o cardápio do atual campeão da Copa Santander Libertadores. Ele também aprecia churrasco e costuma convidar funcionários do clube em que trabalha para participar da confraternização. O encontro acontece preferencialmente às sextas-feiras, depois dos treinos do período da tarde e sem a presença dos atletas, apenas com seus auxiliares – o fiel escudeiro Tata entre eles – e empregados que não têm exposição na mídia.
Apreciador de histórias
A famosa resenha não é restrita apenas aos seus jogadores. O treinador gosta de se sentar à mesa e contar fatos que marcaram a sua carreira. Seu ex-companheiro Serginho Chulapa é personagem frequente nas suas narrações, que costumam ser engraçadas. No tempo em que esteve à frente do São Paulo (de 2006 a 2009), ele gostava de ouvir as histórias de Milton Cruz, auxiliar tricolor. Pedia até que as repetisse para cair na gargalhada.
Pizza com o Faustão
Fausto Silva, apresentador da TV Globo, é um dos principais amigos do técnico fora do meio do futebol. Na verdade, o relacionamento entre eles começou nos anos 70, quando Faustão era repórter esportivo, e Muricy atuava pelo São Paulo. Até hoje os dois são próximos, e o comandante sempre marca presença nas rodas de pizza que Faustão promove na sua casa, na região do Morumbi, em São Paulo. Muricy se mostra bem à vontade entre os convidados ilustres.
Guarujá e Ibiúna
É no seu apartamento no Guarujá, litoral sul de São Paulo, e no seu sítio em Ibiúna, cidade do interior a 70 km da capital, que Muricy gosta de curtir as férias e relaxar quando tem um tempo livre no futebol. Sempre que possível, leva consigo a esposa Roseli, a filha Fabíola e os filhos Muricy Júnior, o Pi, e Fabinho, o caçula. Nas tarefas de casa é bastante participativo: gosta de ajudar na limpeza da casa e se dispõe a lavar a louça após o jantar.
Com a palavra, Renê Santana, filho de Telê Santana: 'Meu pai confiava muito em Muricy'
eu pai tinha confiança em Muricy pelo fato de ele ter sido um bom jogador com experiência internacional (jogou pelo Puebla-MEX).
Telê o acompanhou desde quando começou a carreira de jogador, tanto é que foi ele quem chamou Muricy para trabalhar entre os profissionais. Depois, o chamou para ser seu auxiliar. A história agora é repetida. Quando Muricy era o seu auxiliar, Telê já via nele um treinador com conhecimento bom de futebol. Ele sabia que tinha ali uma pessoa compenetrada. Eu diria que, se Muricy for campeão, terá de dividir com Telê, porque tem influência e participação na carreira de Muricy. O antídoto contra o Barcelona tem de ser a ofensividade, como fez o São Paulo em 1992.
Com a palavra, Fábio Finelli, assessor de imprensa: 'Ele chorou quando foi demitido'
Muricy é uma pessoa muito humilde, honesta e que trata todo mundo da mesma maneira. Ele sabe dar bronca e afagar igualmente.
A relação interna sempre foi muito boa, apesar do desgaste que ele tinha com a imprensa. Ele, o Tata (auxiliar-técnico) e nós, da assessoria de imprensa, saíamos para bater papo. A imagem que mais me marcou foi ele chorando bastante na sala dele depois que ele foi demitido (em fevereiro de 2010). Ficou bastante emocionado porque todos os funcionários que você possa imaginar foram abraçá-lo. Ele construiu a relação de companheirismo com todos do clube.
Um pouco de Telê
Nascimento e morte
Telê nasceu dia 26 de julho de 1931, em Itabirito (MG), e morreu em Belo Horizonte, dia 21 de abril de 2006.
Como jogador
Jogou maior parte de sua carreira pelo Fluminense. Atuou também por Guarani, Madureira e Vasco.
Como treinador
Dirigiu vários times, como Palmeiras e Flamengo, além da Seleção. Auge foi no São Paulo, onde se aposentou.
Mais lidas
Newsletter do Lance!
O melhor do esporte na sua manhã!- Matéria
- Mais Notícias