Giba: ‘Nós acostumamos mal os brasileiros’
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Em pouco menos de seis meses, Giba iniciará aquela que será sua última competição pela Seleção Brasileira, os Jogos Olímpicos de Londres. Depois de 16 anos defendendo a equipe nacional, chegou a hora de dizer adeus. Mas isso não incomoda o capitão da equipe mais vitoriosa da história do esporte brasileiro.
Na verdade, Giba, vem preparando a cabeça para este momento desde o fim da Olimpíada de Pequim, quando o Brasil caiu na decisão para os Estados Unidos.
Depois de passar 2011 sem nenhum título de grande relevância – apenas o ouro no Pan de Gudalajara –, Giba sabe que haverá cobrança. Mas não se preocupa. De acordo com o ponteiro, a Seleção já se acostumou a ser o alvo.
L! Entrevista: Giba fala sobre as olímpiadas de Londres
Nesta entrevista exclusiva, o jogador fala sobre Londres, sua passagem pela Seleção e planos que tem após o fim da carreira.
LANCENET!: Em ano olímpico, é difícil não falar de Olimpíada. Esta será realmente sua última competição pela Seleção?
Giba:Entrei em 1995 na Seleção, já faz bastante tempo. Tudo o que eu tinha para fazer, foi feito. É hora de passar para outro projeto. Mas ainda vou seguir jogando em clube, não vou largar tudo de uma vez só, se não você sente falta. Prefiro largar o vôlei aos poucos. Mas, pela Seleção, será o último torneio.
LANCENET!: O que imagina desta despedida? Como está a sua cabeça para isso?
Giba: A cabeça está trabalhando para isso desde Pequim-2008. Antes, eu tinha colocado como meta parar em Pequim, mas estou bem fisicamente, não fiz nenhuma cirurgia – só tive essa fratura por estresse na canela. Então, prorroguei até Londres, mas mais do que isso não dá. No Rio-2016, só vou bater palma.
LANCENET!: Os EUA foram algozes do Brasil em 2008. Você quer encontrá-los de novo?
Giba: Não tenho isso de revanche com ninguém. Se você for pensar, os dois primeiros colocados da última Copa do Mundo foram convidados. De quem merecia estar lá, o único que merecia ir à Olimpíada era o Brasil. Os outros nem mereciam estar. Nós acostumamos o Brasil mal, com vitórias. Fomos o único time que se manteve no pódio sempre. Eles que têm muito mais a se preocupar.
LANCENET!: O que transformou o Brasil, de uma Seleção eliminada nas quartas de final em Sydney-2000, em uma Seleção imbatível? O que você guarda como mais especial?
Giba: De 2001 a 2007, tudo que nós disputados, nós ganhamos. Eu coloco o Bernardo, como técnico, como o melhor psicólogo que já tive. Ele sabe extrair o melhor do time, quando o melhor se faz necessário.
LANCENET!: Ainda há muito quebra pau na Seleção? O que motiva isso?
Giba: Já brigamos e discutimos por tudo. Decisões, não-decisões, coisas colocadas erradas... Mas sempre tivemos a cabeça no lugar para decidirmos tudo juntos. Começou um de cara feia, chamamos todo mundo e decidimos. Isso é o que nos faz crescer cada vez mais.
LANCENET!: A mais polêmica de todas essas brigas foi a questão do Ricardinho? Você mudaria algo nisso, se pudesse voltar no tempo?
Giba: Com certeza. Se pudesse inventar uma máquina do tempo, nós mudaríamos muita coisa. Teríamos como resolver algumas coisas. Falhamos muito como grupo na questão do Ricardo. Eu fiquei muito triste e o quero muito bem.
LANCENET!: Depois de tanto tempo juntos, agora é mais fácil para aparecer alguns desgastes?
Giba: Nós vamos ficando mais velhos, perdendo a paciência. Mas acho que nunca tivemos problemas, independentemente de estar cansado ou não. Desgaste é natural, como em qualquer relação. Coloco a Seleção como uma empresa que representa 200 milhões de pessoas.
LANCENET!: Hoje em dia, o que ainda acontece que te tira a paciência?
Giba: A falta de estar com o meu filho, de estar em casa, ir na festa do Dia dos Pais, um aniversário, não poder programar as férias... A idade te faz perder um pouco da paciência. Mas todo mundo está ali por escolha, porque gosta de fazer aquilo.
LANCENET!: Em 2004, o Brasil chegou à Olimpíada como favorito absoluto. Já em 2008, por todos os problemas, não. E para Londres?
Giba: Entre as cinco, seis equipes que vão brigar pelo ouro olímpico. Houve uma evolução no vôlei. A Rússia está com esse time há muito tempo, a Polônia está bem, o Brasil, os Estados Unidos e a própria Itália são times com condições de brigar entre os primeiros. Chegamos no grupo de quem pode brigar pelo ouro.
LANCENET!: Em 2011, o Brasil não ganhou nenhuma das grandes disputas. Como foi este ano sem taças?
Giba: Nós acostumamos mal os brasileiros. Uma coisa é você perder, tomar um cacete de 3 a 0. Outra é você tomar um 3 a 2, perder por detalhes. Eu uso a frase do Serginho: por dez anos, a bola bateu na trave e entrou a nosso favor. Desta vez, foi para o lado deles. Felizes, nós não ficamos, pois nos acostumamos a ganhar.
LANCENET!: Você entrou muito bem na última Copa do Mundo, no Japão. Como está se sentindo atualmente?
Giba: Foi um ano muito bom. Fui bem na Liga, fiz uma Copa do Mundo boa. Ocorreu essa fratura, mas me sinto bem fisicamente.
LANCENET!: Esse problema na canela preocupa para Londres?
Giba: O pessoal da Cimed/Sky faz um trabalho excepcional. Eu também estou fazendo o máximo para voltar o quanto antes e ajudar o time.
LANCENET!: A ideia é a de entrar na Liga Mundial com força máxima?
Giba: Não sentamos ainda para fazer a programação. Costumamos fazer isso normalmente no mês de fevereiro. Lá podemos ver quem está bem, como a equipe está.
LANCENET!: Como será jogar sua quarta Olimpíada?
Giba: Falam muito do espírito olímpico, mas isso é algo que só se sente quando você pisa lá dentro. Arrepia só de lembrar daquela emoção. É algo fora do comum. Estou superfeliz de jogar minha quarta Olimpíada, e não me arrependo de nada. Tudo foi feito como deveria ser feito.
LANCENET!: Capitão da Seleção mais vitoriosa de todos os tempos, tricampeão mundial, medalhista de ouro em uma Olimpíada e de prata em outra. O que falta na carreira? Ser porta-bandeira na Olimpíada?
Giba: Ainda não pensei nisso, mas seria um orgulho maior. A única coisa que posso dizer é que seria um orgulho, sempre senti isso em defender o país, fazê-lo crescer não só no esporte. Não teria como fechar melhor.
LANCENET!: O que você planeja após o fim da sua carreira? Pensa em virar técnico? Vai seguir no vôlei?
Giba: Eu nunca falo nunca, mas não me vejo como técnico. Eu pretendo seguir com projeto para crianças. Temos o projeto “Leões do Vôlei.” Minha vontade é a de fazer as crianças e o esporte crescerem.
LANCENET!: Depois de Londres, a Seleção vai conseguir manter este padrão?
Giba: Essa Seleção tem uma mentalidade vencedora implantada. A melhor coisa que o Bernardo fez foi, em 2005, trazer o Bruninho, o Lucão, o Éder para ver qual era a mentalidade do grupo. Fazê-los pegar experiência jogando. Estes jogadores estão aí e são jovens, vão até 2016 e têm esta mentalidade.
LANCENET!: Vocês chegaram a falar com o Bernardinho sobre o que ele pretende fazer depois de 2012?
Giba: Não conversamos nada sobre isso. Ele sabe que nós vamos parar, mas não sei o que passa na cabeça dele e da comissão técnica dele. Eles sempre trabalham juntos, desde a Seleção feminina.
LANCENET!: Você acha que a Federação Internacional prejudica o Brasil, seja na montagem do calendário, ou nas tabelas?
Giba: Comercialmente, é muito chato você fazer uma competição em que sabe que um time vai estar sempre na final. Isso incomoda bastante gente. Eu parei para ver alguns jogos e vi que os árbitros erram muito. Alguns são muito ruins. A FIVB se incomoda, mas até que ponto eles podem nos ferrar? É complicado. Claro que não ficamos felizes de jogar um fim de semana no Ceará, e no outro as finais da Liga Mundial, em Moscou. Mas, se entrarmos firmes, eles não têm o que fazer.
LANCENET!: Falando em polêmica, há aquele jogo com a Bulgária. Esta foi a maior polêmica na Seleção?
Giba: Não. Falando de mídia, pode até ter sido. Mas temos outros problemas a pensar do que isso. Durante o tempo que você ganha, você se torna alvo. O Bruninho com 40 graus de febre, o Marlos há dez dias no hospital, o que vamos fazer?
LANCENET!: Mas vocês já se acostumaram a ser o alvo?
Giba: Já. Isso nós tiramos de letra.
LANCENET!: Qual o legado que vocês deixam com essa Seleção?
Giba: Fica a filosofia de trabalho, de acreditar que nunca vai ganhar nada sozinho, nem ser ninguém sozinho em um esporte coletivo. O grande ponto é realmente esse.
LANCENET!: E qual o legado que fica no lado técnico? Vocês mudaram a maneira de se jogar?
Giba: Temos décadas no vôlei: a de 1980 foi a dos Estados Unidos, com aquele jogo chato, de defender tudo. A de 1990 foi da Itália, com a parte tática. De 2000 a 2010 fomos nós, com um pouco de cada um e a velocidade do jogo. O volume de jogo e a velocidade foi o que implantamos e o mundo copia.
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