Fla 30 anos do Mundial: Bastidores e curiosidades

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Naquele fim de 1981, além do Mundial, o Flamengo levantou duas importantes conquistas, o Carioca e a Libertadores, em menos de um mês. Foram várias partidas decisivas, muita concentração e emoção. Naturalmente, para um fim de ano marcante e inesquecível na História do Rubro-Negro, muita coisa aconteceu nos bastidores.
O especial do LNET! 'Da Gávea a Tóquio, 30 anos depois', relembra alguns destes momentos mágicos, através de depoimentos exclusivos dos principais personagens, - jogadores e treinador - contando curiosidades sobre o maior ano de um dos maiores clubes do mundo.
Contratação de Carpegiani
Eliminado pelo Botafogo nas quartas de finais do Campeonato Brasileiro de 1981, o clube viu chegar ao fim o sonho do bicampeonato na competição. Apesar das vitórias no início do Campeonato Carioca e da Libertadores, o veterano técnico Dino Sani acumula atritos com o elenco, ainda acostumado a outro perfil de treinador, como o de Cláudio Coutinho, que deixara a equipe por uma proposta de trabalho nos Estados Unidos.
Zico relembra fase áurea do Fla em 1981, ano do título mundial
A cúpula sentia a necessidade de tomar alguma iniciativa diferente. No fim de julho, o Flamengo toma uma atitude ousada e aposta em um ex-jogador de apenas 32 anos como novo treinador. Recém-aposentado dos gramados por conta de problemas crônicos no joelho, Paulo César Carpegiani é convidado para assumir o comando do time.
Carpegiani assumiu time do Fla em 81
(Foto: Arquivo Lancepress!)
- Fui convidado pelo Dino Sani para ser auxiliar. No início do ano era ainda jogador. Foi uma inovação do presidente Dunshee de Abranches. Conhecia bem o grupo, já que pouco tempo antes fazia parte dele dentro de campo - contou Capergiani ao LNET!.
O ex-lateral-direito rubro-negro Nei Dias lembra que a escolha foi muito bem recebida pelo elenco.
- Todo mundo aceitou bem. Não vi ninguém menosprezá-lo. O grupo se fechou e o ajudou. Tinha sido um dos principais jogadores nos últimos anos - revelou.
Entretanto o início do trabalho não foi tão tranquilo.
- Empatamos os primeiros jogos. Cheguei a pensar que não daria para aquilo - confessou Carpa.
O encontro do time perfeito
Aos poucos, o treinador foi achando a formação ideal para o escrete rubro-negro. Em novembro de 81, o clássico com o Botafogo marcou o encontro da equipe perfeita.
- Foi ali que acertei o time. Coloquei o Lico na ponta-esquerda, fazendo uma função tática muito importante. Encaixou - afirmou o técnico do Fla, na época.
O Rubro-Negro aplicou uma goleada histórica no Glorioso por 6 a 0, curiosamente, na estreia do irmão de Carpegiani no time na Estrela Solitária, o meia Édson, que acabaria substituído.
A entrada de Lico na equipe foi a última de várias alterações feitas por Carpegiani desde a sua chegada. Quando assumiu, Adílio estava treinando separadamente, sendo pucado para o time. Tita foi efetivado na ponta-direita. O goleiro não era Raul, que estava machucado. Assim que se recuperou, Cantarele foi para o banco de reservas.
Conselhos de um apavorado Raul
A derrota contra o Cobreloa deixou todo o grupo preocupado. O Flamengo tinha recebido uma grande pressão naquele duelo e sofrido agressões dos chilenos dentro de campo. Ansiosos e nervosos, Leandro e Tita, na manhã da finalíssima, na concentração, resolveram ir ao quarto de Raul, goleiro com carreira consolidada, e experiente.
- Eu era muito amigo do Tita. E estávamos muito preocupados. Aí dei a ideia de ir ao quarto do Raul, pois ele era um cara experiente e poderia passar algo positivo. Tinha certeza que nos deixaria mais tranquilos - lembrou Leandro, lateral-direito do Fla, em 81.
Todavia, quando chegaram lá, se assustaram:
- Entramos e vimos ele todo coberto, mesmo com o forte calor que fazia no Uruguai. Perguntamos o que estava acontecendo? - contou.
Atônito, Raul colocou somente a cabeça para fora do cobertor e respondeu:
- Vocês querem conversar sobre o jogo? Querem minha opinião? Então tá bom. Não vejo como ganhar desses caras. Preocupado estou eu. Só consigo ver aquela camisa cor de abóbora vindo para cima de mim! - bradou um desesperado Raul.
Leandro e Tita não entenderam nada. Foram para ser aconselhados, à procura de palavras confortantes, mas acabaram encontrando um cenário bem diferente.
- O mais engraçado era que ele pegava a ponta do cobertor e se cobria novamente. Só aparecia a cabecinha na hora de falar conosco. Acabou que nós que ajudamos ele (risos) - explicou Leandro, às gargalhadas.
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Surpresa na final da Libertadores
As vitórias continuaram até a segunda partida contra o Cobreloa, na final da Libertadores. Uma pressão muito grande, entradas violentas dos jogadores chilenos, e a derrota por 1a 0 forçaram um terceiro confronto, desta vez, em campo neutro, no Uruguai. Sem Lico, vetado por conta do supercílio aberto devido a agressão de um atleta do Cobreloa, Carpegiani surpreendeu. Ao invés de colocar Baroninho, reserva imediato, o técnico chamou o lateral Nei Dias.
- Foi o troço mais doido que vi na minha vida. Ele mexeu em várias posições. Era só colocar o Baroninho, que já tinha sido titular. Mas sou grato por ter confiado em mim - relembrou Nei, ao LNET!.
Com a mudança, Leandro foi para o meio de campo e Adílio para a ponta-esquerda, alterando três posicões.
- Sabia o que estava fazendo. O Leandro foi a melhor figura do jogo, junto com o Zico. O Adílio já tinha jogado por ali e rendido bem. Era o conhecimento que tinha nos meus jogadores. Sabia bem da capacidade técnica de cada um - disse Carpegiani.
Leandro fez coro a Carpa:
- Eu já tinha jogado contra o Vasco dessa forma. Deu certo. Foi uma surpresa. Todos esperavam uma outra alteração, mas ele preferiu isso. Sempre fui taticamente aplicado, e muito aguerrido - disse.
Zico marcou duas vezes e o Flamengo sagrou-se campeão, partindo rumo a Tóquio.
Final sem dormir
O ex-lateral-direito Nei Dias recebeu a notícia de que jogaria a final da Libertadores, na noite anterior ao jogo.
- Carpegiani veio me falar que eu iria jogar, mas que não poderia falar para ninguém. Imagina como fiquei. Não dormi. Atuei naquela final virado. Não esperava - revelou Nei.
Anselmo, o vingador
Perto de acabar a final da Libertadores, Carpegiani deu uma missão ao reserva Anselmo. Ele pediu ao seu jogador que "arrepiasse" o zagueiro do Cobreloa, Mário Soto, que durante as três partidas decisivas, desferiu pontapés e socos nos rubro-negros. Ele entreou em campo e, sem a menor cerimônia, acertou o chileno. Ele acabou virando um dos herois do título pelo revide e os jornais da época o trataram como "vingador".
A vontade de vencer do Galinho
Capitão e líder do time campeão de 1981, Zico sempre conversava com os companheiros.
- Conversávamos muito. É claro que havia uma liderança, mas o diálogo era o melhor possível. Passava para o grupo que ficaríamos marcados para o resto da História do clube. Foi o que aconteceu. Todos acreditavam, se empenhavam e sabiam que tinham condições. Jogávamos acreditando sempre na vitória, esse era o segredo, a vontade de vencer - afirmou o maior ídolo da História do Flamengo.
Morte de Coutinho abala grupo
A morte do treinador Cláudio Coutinho, dias antes da final contra o Liverpool abateu o grupo. O ex-comandante era um dos responsáveis por ter montado aquele time.
- Foi algo que deixou todos chateados, até pela maneira que aconteceu. Mas sabíamos que onde estivesse, ficaria feliz com o título mundial - disse Leandro.
Coutinho morreu com 42 anos, ao praticar a pesca submarina. Ele era mergulhador e acabou se afogando.
Coutinho morreu semanas antes da final de Tóquio (Foto: Arquivo Lancepress!)
Antes de Tóquio, ida à Disney
Antes de ir ao Japão, o elenco do Flamengo foi descansar nos Estados Unidos, em uma parada providencial para o plantel relaxar antes da grande decisão contra o Liverpool.
- Tivemos uma parada nos Estados Unidos, e fomos à Disney. Lá, nos decontraímos, revivemos os nossos momentos de infância. Foi toda uma adaptação, curtimos um pouco e contribuiu para que pudéssemos ficar mais tranquilos. Fomos para Tóquio com a mente mais relaxada. Tirou um pouco da ansiedade - contou o ex-ponta-esquerda, Lico.
Nunes concordou:
- Fomos uma semana antes para curtir a Disney. Isso foi importante. Adorei ter ido lá na terra do Mickey - brincou.
Júnior mexe com os brios
Lico revelou que antes da partida contra o Liverpool, Júnior resolveu mexer com os brios dos jogadores.
- Quando entramos, o Júnior criou uma situação com o grupo, dizendo que os ingleses estavam rindo da nossa cara. Isso mexeu conosco. Entramos com tudo - lembrou.
O ex-zagueiro Mozer também ressaltou que ao entrar em campo, olhou a fisionomia do time do Liverpool, e notou um certo esnobismo britânico.
- Quando olhei para eles dentro de campo, senti uma arrogância. Achavam quem não éramos bons o bastante. Eu não via a hora de começar o jogo. Não sabiam o que tínhamos passado para estar ali. Não sabiam como era bom o time do Flamengo - contou.
Elegância inglesa
Ao se deparar com a delegação do Liverpool, o ponta-direita Tita não entendeu os trajes dos ingleses.
- Estávamos de agasalho do Flamengo, fazia frio em Tóquio e o Liverpool de terno branco e gravata vermelha. Todos muito elegantes. Nem pareciam jogadores de futebol. Tanto, que levaram um chocolate depois (risos) - brincou.
Infiltração para o Capacete jogar
O ídolo do Fla, Júnior, jogou a final contra o Liverpool com uma infiltração no joelho esquerdo.
- Ele tinha levado uma pancada na final do Carioca com o Vasco. Só foi a campo graças a uma infiltração - revelou Nei Dias, seu reserva imediato.
Com o placar de 3 a 0 construído, Nei esperava ter atuado os últimos 15 minutos no lugar de Júnior:
- Ele não quis sair para eu entrar no finzinho. Joguei a final da Libertadores e queria ter entrado em Tóquio - lamentou.
Havaí, que nada!
Logo após a conquista do título mundial, parte da delegação do Flamengo aproveitou para descansar e conhecer as praias do Havaí. Mas nem todos quiseram parar no estado norte-americano:
- Eu não queria saber de Havaí. O que desejava era ver a torcida do Flamengo lá na minha cidade. Cabo Frio é a minha Hawaii. Fui homenageado e recebido como herói - contou Leandro.
Atualmente, o ex-rubro-negro mora em Cabo Frio, cidade onde nasceu, na Região dos Lagos, no Rio de Janeiro.
James Brown rubro-negro
Adílio tinha um curioso apelido entre os companheiros de time. Era chamado de Brown.
- Cantava sempre as músicas do James Brown. Imitava as roupas dele também e a rapaziada pegava no meu pé - lembrou.
Hino do título
A Imperatriz foi a campeã do carnaval de 1981, mas o samba-enredo da Portela daquele ano, "Das maravilhas do mar, fez-se o esplendor de uma noite", foi o hino adotado pelos jogadores do Flamengo na comemoração do título mundial. Eles sairam do estádio, em Tóquio, cantando a canção composta por David Corrêa e Jorge Macedo. Com Júnior liderando no pandeiro, Zico no tamborim e Adílio com um chocalhinho.
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