menu hamburguer
imagem topo menu
logo Lance!X
Logo Lance!

Desespero galego: La Coruña atinge o auge da crise e pode pedir falência

Dia 01/03/2016
04:15

  • Matéria
  • Mais Notícias

Bebeto, Djalminha, Makaay, Mauro Silva, títulos e protagonismo em Liga dos Campeões... Tudo isso faz parte de um passado não tão longínquo assim do La Coruña, que deram espaço a rebaixamentos, dívidas, e sério perigo de ter que pedir concordata e parar na Quarta Divisão.

Em janeiro, o clube passou por essa situação, mas conseguiu dar um jeito. Agora, há uma nova dívida de cerca de R$ 30 milhões (referentes aos salários de janeiro até aqui), e se esta quantia não for executada até o dia 9 de agosto, o Deportivo poderá ser punido.

Na verdade, esse prazo era no último dia 31. O juiz Rafael García Pérez o prorrogou. Nesta semana, os jogadores resolveram até boicotar a pré-temporada em Portugal, e o La Coruña mandou o time B, para não perder os compromissos.

Todo esse drama é o reflexo do que começou em 1988, quando o então senador Augusto César Lendoiro assumiu a presidência do clube. Ele assumiu quando o clube estava em profunda crise financeira. Entrou sem a necessidade de eleições. Nos pleitos seguintes, não teve concorrentes.

Vieram as glórias, mas como destaca Filipe Luís, um dos últimos brasileiros a atuar no time galego, e que sempre se interessou pela história do time.

- Sempre foi pequeno, e 20 anos atrás o presidente pegou o clube, começou a contratar, foi campeão espanhol, foi para a Champions, e ficou a dívida - começou o lateral do Atlético de Madrid em entrevista ao LANCE!Net:

- Deixou de ir para a Champions, deixou entrar a dívida, que foi somando, hoje são mais de 90 milhões de euros, foi rebaixado, e assim para de entrar dinheiro, então a situação é delicada.

PRESIDENTE PODE SAIR
Com a situação praticamente insustentável, Lendoiro teria admitido uma possível renúncia do cargo. Desta forma, o clube poderia permanecer na Segundona (foi rebaixado na última temporada em campo), e haveria um convênio para pagar pelo menos 70% da dívidas com os jogadores.

De qualquer forma, Filipe acredita que o horizonte galego não seja nada bom.

- A cidade é pequena, não vai ter todo o apoio, os jogadores ficam sem receber. É muito duro e difícil para uma cidade que tem esse time, tem tantos jogadores importantes, e hoje está assim...

HOMEM MAIS RICO DA EUROPA PODE SER ESPERANÇA
Uma das esperanças de um futuro melhor para o La Coruña se chama Amancio Ortega. O empresário galego é torcedor do clube, e dono da terceira maior fortuna do mundo e a maior da Europa, segundo a Forbes. Com um patrimônio avaliado em R$ 44,6 bilhões, ele é o grande sonho de consumo da torcida do Deportivo.

Aos 77 anos, ele nunca investiu no dinheiro. "Don Amancio" diz que tem muito respeito pelas conquistas de Lendoiro, e não quer se meter. Só poderia entrar, caso o atual dirigente saísse. O que pode estar próximo de acontecer.

De acordo com a imprensa do local, há duas hipóteses. A primeira é mudar o estatuto do clube, e deixar que Amancia compre as ações do La Coruña, e invista como se fosse uma atitude filantrópica. A outra é que assuma a presidência.

Bate-Bola
Djalminha
Campeão espanhol pelo Deportivo, em entrevista ao LANCE!Net

Como você vê a situação??
Fico triste, um clube, foi aonde eu joguei mais tempo, tenho um carinho enorme. Mas a situação financeira causa isso, não consegue honrar com os seus compromissos. É triste, mas é a grande realidade.

Como você analisa do mandato do presidente?
Ele monopoliza praticamente tudo, controle de tudo. E eu sempre comento que não tem brasileiro, sempre teve, uma história bacana com isso. Não precisa de jogadores tops, mas outros poderiam ajudar. Infelizmente mudou essa cultura

Tem esperança de uma recuperação do La Coruña?
Isso passa por um grande patrocinador e administrador, não basta só o patrocínio, tem muitas dívidas. Difícil alguém chegar e pagar, que não tenha poder de administrar.

COM A PALAVRA
Camilo Lourenço
Economista português, especialista em futebol internacional

A situação do La Coruña tem a ver com duas coisas. A primeira é o fato de as autoridades regulatórias da Europa estarem muito mais preocupadas com essas questões hoje em dia. Por exemplo, vamos pegar os clubes que estão cotados em bolsa de valores, o que começou na Inglaterra. Quando os clubes passaram a ser cotados em bolsa, passaram a ser obrigados ao cumprimento de obrigações que até então não estavam. Então, passou-se a ter contas auditadas com resultados na internet e transparência na gestão.

As autoridades começaram a divulgar ao público os clubes cujos resultados não eram os divulgados. Até pouco tempo havia poucos corruptos nos clubes grandes, mas isso se agravou. Hoje em dia, na Inglaterra, na Espanha e em Portugal começamos a ter um crescente número de clubes em dificuldades.

A dívida do La Coruña não é nada. Existem situações muito mais graves. Isso vai se agravar no futuro porque os clubes começam a achar que são ricos e vão fazendo investimentos que não podem pagar. Até pouco tempo o Brasil escapava desses eventos, mas acho que vai acontecer no futuro porque os clubes brasileiros estão a passar por um período de euforia. Se você vir o investimento que os clubes brasileiros fizeram nos últimos três anos, apesar da situação econômica do país, acho que é um movimento insustentável.

A situação do La Coruña é, como falamos em Portugal, um círculo vicioso, porque você cai de divisão e as receitas publicitárias e de patrocínio também caem. Portanto, os clubes já estão endividados e vão ficando progressivamente em situação pior porque não vão poder honrar os seus compromissos.

Aqui em Portugal, por exemplo, a relação de receitas dos clubes da Primeira para a Segunda Liga é de um para dez. Isso significa que a receita da Primeira Liga é dez e da Segunda é um. Os clubes dificilmente conseguem fugir dessa espiral.

As autoridades que gerem o futebol europeu têm de criar regras que limitem o endividamento dos clubes para evitar essa situação, porque isso se torna um movimento vicioso. Não tenho dúvidas que em poucos anos muitos emblemas do futebol europeu caiam em falência. Em Portugal estamos muito próximos disso, como, por exemplo, o Sporting, que está tecnicamente falido.

Acho que na Espanha os clubes vão caminhar nesse sentido. Você já tem grandes nomes, como o Valencia, o La Coruña e o Malaga, que já estão em situação complicada. As duas exceções que vejo no momento são Inglaterra e Alemanha. A Alemanha por causa do peso da economia e do peso dos clubes bem geridos, e a Inglaterra porque tem mecenas, investidores com bolso sem fundo, que podem cobrir os buracos que os clubes de lá fizerem.

Brasileiros que marcaram época no La Coruña


  • Matéria
  • Mais Notícias